16 jun, 2023 - 00:00 • Cristina Nascimento
O Real Colégio de Portugal, no Lumiar, em Lisboa, anda em ambiente de fim de ano letivo. Os mais velhos já acabaram as aulas e até já tiveram as suas festas e bailes de finalistas. A diretora da escola recebe a Renascença de sorriso rasgado, mostrando a escola que está alojada no espaço que outrora foi o Palácio dos Condes do Lumiar e da Quinta do Pisani.
Visitamos a escola a propósito da divulgação do Ranking das Escolas 2022. Entre públicos e privados, o Real Colégio de Portugal, em Lisboa, é a pior escola do concelho, abaixo até de escolas públicas inseridas em contextos socioeconómicos frágeis.
No Real Colégio de Portugal, estudam cerca de 400 alunos, da creche ao 12.º ano. No secundário, a mensalidade ronda os 500 euros mensais. No ranking da Renascença, esta escola aparece em 458.º lugar, com uma média negativa de 8,42. É uma das cinco escolas com piores classificações, as cinco localizadas na Área Metropolitana de Lisboa.
A pergunta é inevitável: num local em que a concorrência do ensino privado é feroz – do outro lado da rua está o colégio Manuel Bernardes, o privado de Lisboa mais bem colocado no ranking do secundário com uma média de 15,27 – estar no último lugar não incomoda?
“Já nos incomodou”, admite a diretora, Sandra Cunha, antes de contrapor:.“Nesta altura estamos firmes naquilo que queremos como colégio e firmes naquilo que achamos que efetivamente é o melhor para os nossos alunos. Não trabalhamos para rankings, trabalhamos para pessoas”, assegura.
No colégio, explica Sandra Cunha, defende-se que “a escola é para todos e aberta a todos”. Passando pelos corredores, a diretora vai indicando “aquele menino é russo”, “aqueloutro é angolano”. É que, sobretudo no secundário, uma boa parte dos alunos são estrangeiros, “meninos que vieram diretamente de fora, que não tinham qualquer contacto com o ensino de Portugal”.
Não é só aos estrangeiros que este colégio abre as portas. Sandra Cunha adianta que 26% dos alunos têm necessidades educativas especiais, por exemplo, com autismo ou défice de atenção.
A maioria são crianças que não foram aceites noutro lado ou para quem o modelo educativo oferecido não era o que os pais pretendiam.
“É quase em desespero que os pais nos procuram, não sabem onde podem colocar estes alunos", explica Sandra Cunha. "Alguns são logo reencaminhados para unidades, os pais não querem os filhos em unidades, querem-nos no ensino regular, em contacto com os seus pares.”
Sandra Cunha revela com satisfação que os pais depositam “total confiança” no colégio que, após ter aberto portas há 24 anos, tem vindo a crescer sustentavelmente. A escola tem oferta do secundário há apenas seis anos e neste ano já tem turmas abertas em todos os cursos. E quanto a vagas? “Já não temos lugares livres para o próximo ano letivo”, assegura.
Saímos do Paço do Lumiar e não muito longe dali, a cerca de três quilómetros, entramos na Escola Básica do Alto do Lumiar, uma das que figura no fim da tabela no ranking do 9.º ano. A Escola Básica do Lumiar é a que tem notas mais baixas, com uma média negativa de 18,7%.
Entramos na escola à boleia da Teach for Portugal, uma organização não governamental que trabalha apenas em escolas desfavorecidas, para ajudar a combater o insucesso escolar.
Tal como o Real Colégio de Portugal, é uma escola com muitos alunos estrangeiros, mas estes oriundos de famílias socioeconómicas fragilizadas.
“Esta escola tem uma taxa de absentismo muito grande”, explica Fátima Domingues, uma das mentoras da Teach. “Os alunos vêm à escola, mas muitos não vão às aulas… É um trabalho que temos de fazer, levá-los para dentro das salas de aula.”
Dois blocos da escola têm salas de aula, um outro alberga o refeitório. “Falta-nos um pavilhão. Quando chove os miúdos não conseguem ter aula de educação física”, lamenta Fátima Domingues, que confessa que quando aqui começou a trabalhar, no ano letivo passado, ficou chocada. "Não pensamos que ainda há escolas assim."
Pelos corredores da escola, cumprimenta à direita e à esquerda os alunos. “Têm feito uma evolução enorme”, diz com orgulho, apesar de as classificações da escola não o revelarem.
Continuamos na esfera das escolas públicas que também ocupam o topo da tabela das escolas de Lisboa. Por exemplo, no ranking do 9.º ano, a melhor escola pública é a Escola Básica Vasco da Gama, no Parque das Nações, que recusou receber a Renascença. No ranking das secundárias, surge a bem colocada Escola Secundária do Restelo, em 37.º lugar, apenas quatro lugares abaixo da Escola Secundária de Vouzela, a melhor pública do país.
Se a escola pública é dirigida pelo mesmo maestro – o Governo – como é que se explica que, em Lisboa, haja uma disparidade de realidades tão grande?
Tiago Neves, especialista do Centro de Investigação e Intervenções Educativas da Universidade do Porto, encontra uma possível explicação na diversidade que caracteriza.
“Lisboa é a zona do país com maior diversidade e heterogeneidade cultural, um nível maior de imigração", explica à Renascença. "É a zona do país que, em média, tem rendimentos per capita superiores, mas também terá grandes bolsas de pobreza e, portanto, esta diversidade socioeconómica e sociocultural pode depois traduzir-se na diversidade de resultados das escolas.”
Então e no Norte, como é que se explica que tenha sistematicamente melhores resultados? Tiago Neves arrisca uma breve e possível explicação. “Provavelmente o Norte, em particular o Porto, tem obviamente alguma diversidade, é evidente, mas será mais homogéneo.”
Continuamos na esfera das escolas públicas que também ocupam o topo da tabela das escolas de Lisboa. Por exemplo, no ranking do 9.º ano, a melhor escola pública é a Escola Básica Vasco da Gama, no Parque das Nações, que recusou receber a Renascença. No ranking das secundárias, surge a bem colocada Escola Secundária do Restelo, em 37.º lugar, apenas quatro lugares abaixo da Escola Secundária de Vouzela, a melhor pública do país.
Se a escola pública é dirigida pelo mesmo maestro – o Governo – como é que se explica que, em Lisboa, haja uma disparidade de realidades tão grande?
Tiago Neves, especialista do Centro de Investigação e Intervenções Educativas da Universidade do Porto, encontra uma possível explicação na diversidade que caracteriza.
“Lisboa é a zona do país com maior diversidade e heterogeneidade cultural, um nível maior de imigração", explica à Renascença. "É a zona do país que, em média, tem rendimentos per capita superiores, mas também terá grandes bolsas de pobreza e, portanto, esta diversidade socioeconómica e sociocultural pode depois traduzir-se na diversidade de resultados das escolas.”
Então e no Norte, como é que se explica que tenha sistematicamente melhores resultados? Tiago Neves arrisca uma breve e possível explicação. “Provavelmente o Norte, em particular o Porto, tem obviamente alguma diversidade, é evidente, mas será mais homogéneo.”