29 ago, 2022 - 22:52 • João Malheiro
O salário médio em Portugal cresceu apenas 5,2% em 16 anos, segundo indica um novo estudo da Fundação Calouste Gulbenkian.
O "Estudo sobre o Salário Médio em Portugal: Retrato atual e evolução recente" indica que "o nível de salários é baixo e o crescimento salarial é muito lento". Entre 2002 e 2017, o salário-base médio real subiu de 879€ para apenas 925€, tendo havido uma quebra da rota de crescimento a partir de 2010 - época da crise económica.
"O nível de salários é baixo e o crescimento salarial é muito lento. Entre 2002 e 2017, o salário-base médio real subiu de 879€ para apenas 925€, o que significa que cresceu 0,32% ao ano e 5,2% ao longo de 16 anos", refere o estudo.
O trabalho da Fundação Calouste Gulbenkian aponta também que, a partir da crise económica, a probabilidade de um trabalhador receber um salário baixo, mais próximo do salário mínimo é maior.
"Em 2017, há uma muito maior concentração de trabalhadores a receber um salário praticamente igual ao salário mínimo, do que em anos anteriores", lê-se.
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O estudo da Fundação Calouste Gulbenkian reflete que os jovens recebem salários "cada vez mais próximos do salário mínimo".
A diferença entre o salário médio e o salário mínimo dos jovens reduziu-se em 30%, entre 2002 e 2017.
"À medida que as gerações mais velhas vão sendo substituídas por trabalhadores mais jovens, que auferem salários mais baixos, o salário médio diminui.", revela o documento.
Os trabalhadores com ensino superior completo foram o grupo que verificou a maior descida do salário médio - uma quebra de 24%.
"Os jovens, embora com mais qualificações que as gerações anteriores, têm sido particularmente afectados pelas crises recentes", defende o estudo.
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Entre 2002 e 2017, a taxa de crescimento salarial acima da média verificou-se entre trabalhadores que ganham menos - abaixo do salário médio - "o que poderá estar relacionado com os aumentos do salário mínimo", considera o estudo.
Tendo isto em conta, as mulheres, os jovens com menos de 25 anos, os trabalhadores menos qualificados, os trabalhadores da Indústria e Energia e da Construção, os trabalhadores com contratos de trabalho sem termo e os trabalhadores em empresas que empregam até 50 trabalhadores foram quem beneficiou de taxas de crescimento salariais mais altas.
Os trabalhadores a termo certo tiveram um crescimento do salário inferior aos restantes, apesar da proporção deste grupo ter aumentado entre 2002 e 2017.
As empresas de maior dimensão tiveram uma diminuição do prémio salarial, durante o mesmo período de tempo, enquanto que nas empresas com menos de 50 trabalhadores "parecem ter existido efeitos indiretos da suba do salário mínimo".
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O estudo da Fundação Calouste Gulbenkian oferece ainda uma análise sobre o que poderá explicar o que diz ser uma "estagnação do salário médio, em Portugal".
Por um lado, a substituição de trabalhadores mais velhos, que ganham mais, por trabalhadores mais novos, que ganham cada vez menos.
"O facto de entre 2002 e 2017 o salário médio dos graduados do ensino superior, não só não ter crescido, como ter tido uma quebra acentuada, pode ter contribuído para a estagnação do salário médio", lê-se, por outro lado.
Ao contrário do que acontecia anteriormente, o salário de entrada no mercado de trabalho dos jovens não é superior ao de gerações anteriores. Ou seja, "a renovação geracional da força de trabalho não favorece o aumento do salário médio".
Por fim, o trabalho conclui ainda que há um "enfraquecimento da classe média".