Refugiados

Ucranianos a caminho de Portugal. “Estamos a fazer tudo para salvar a vida deles”

24 fev, 2022 - 20:34 • Fábio Monteiro

Desde 2014, o número de cidadãos ucranianos a requerer asilo em Portugal tem vindo a aumentar significativamente. Em alguns anos chegou a representar um terço de todos os pedidos. À Renascença, o presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal revela que já há famílias a caminho.

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Desde o início oficial da guerra na Ucrânia, na última madrugada, o telemóvel de Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, não parou de tocar. “Pelo menos 30 ou 40 pessoas [de Lisboa] já me telefonaram a perguntar como é vamos trazer as nossas famílias para cá, fazer com que eles passem a fronteira”, conta à Renascença.

Ou seja, já há cidadãos ucranianos a caminho de solo nacional.

O representante não consegue precisar o número de pessoas que pretendem vir para Portugal, onde já têm família, mas indica que a maioria se trata de idosos e crianças.

“Estamos a fazer de tudo para salvar a vida deles. Estamos em contacto com a embaixada da Polónia, para que consigam atravessar a fronteira sem dificuldades. Estamos também a coordenar com algumas organizações como ter um centro onde as pessoas possam aguardar, até que as possamos ir buscar ou arranjar forma de voarem para Portugal”, adianta.

Pavlo tem uma irmã que mora em Lviv, cidade próxima da fronteira com a Polónia. “Neste momento, está cheia de pessoas que estão a fugir de Kiev”, conta.

Ainda esta quinta-feira, numa primeira reação ao começo do conflito, António Costa apelou à União Europeia para “que adote, sem a menor restrição, as suas responsabilidades” no acolhimento de refugiados. Enquanto isso, Portugal estará de portas abertas: os cidadãos ucranianos “são bem-vindos”, disse.

Refugiados a crescer desde conflito na Crimeia

Que a guerra na Ucrânia irá ter reflexos ao nível da imigração e acolhimento de refugiados em Portugal é praticamente certo. Aliás, desde a anexação da Crimeia em 2014, os números do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) comunicados ao Conselho Português para o Refugiados (CPR), a que Renascença teve acesso, refletem o impacto do conflito.

Em 2014, dos 442 requerentes de asilo espontâneos em Portugal, 157 tinham nacionalidade ucraniana. No ano seguinte, dos 872 requerentes, 367. Já em 2016, foram 142 ucranianos em 695 requerentes, E depois 130 ucranianos em 1000.

Em declarações à Renascença, Mónica d'Oliveira Farinha, presidente do Conselho Português para os Refugiados (CPR), louva o “apelo realista e agregador” de António Costa. E atesta que o conflito na Ucrânia já se reflete no país desde 2014.

“Porque Portugal era um país conhecido na Ucrânia. Era conhecida a sua estabilidade, a segurança que aqui se vive e isso foi um fator valorizado pelos cidadãos ucranianos. Aconteceu ainda um fator interessante: alguns dos cidadãos que apresentaram um pedido em Portugal já tinham estado no país como emigrantes. Portanto, tinham um conhecimento da língua. Conheciam bem a comunidade e nossa sociedade”, explica.

Segundo Mónica d'Oliveira Farinha, não é certo que os cidadãos que estão agora a fugir de Ucrânia decidam já sair do país.

“Habitualmente, fogem para locais limítrofes, na esperança que as coisas corram pelo melhor e só depois decidem alargar a fuga. Portanto, nesta fase está tudo em aberto ainda. Este é um aspeto que a política não consegue responder: quais são os caminhos que as pessoas vão encontrar e tomar num ambiente de guerra”, diz.

Chorar e esperar

Em Portugal, a comunidade ucraniana conta com cerca de 45 mil pessoas: 27 mil com autorizações de residência e mais de 15 mil com a nacionalidade portuguesa. Olga Petriv Ferreira, 40 anos, é uma dessas pessoas.

A morar no país há 20 anos, Olga passou as últimas horas a “chorar” e incrédula com as imagens e notícias que chegam do país onde nasceu. “Na nossa cabeça, sabíamos que ia acontecer, porque conhecemos Putin e ele não ia recuar. Ele é assim. Sempre odiou a Ucrânia. Não sabemos porquê”, conta à Renascença.

A ucraniana tem familiares em Lviv, mas estes, para já, recusam sair do país. “As mulheres, crianças, não vão lá ficar a fazer nada. Mas ninguém quer sair.” Os que têm idade e forças querem “lutar”. O apoio do mundo “é muito importante”, “dá mais força”. E aqueles que “apoiam com armas ajudam bastante”.

Pavlo Sadokha elogia Portugal e respetivos líderes políticos pela abertura aos ucranianos, por nas últimas semanas se terem posicionado do “lado certo da história”.

O enaltecimento, porém, não se estende ao PCP, o único partido que defendeu a ação de Putin: “Estão do lado do mal. Com este apoio, acho que são corresponsáveis pelos crimes que o Putin está a cometer contra os ucranianos.”

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