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Portugal terá 6,9 milhões de vacinas da Covid-19. Quais serão os grupos prioritários?

20 ago, 2020 - 17:09 • João Carlos Malta , Joana Gonçalves

Numa primeira fase, a quantidade de vacinas disponível não vai cobrir toda a população portuguesa. Por isso, terão de ser criados critérios de prioridade. A Renascença ouviu um especialistas em vacinação e saúde pública para perceber quais serão os critérios que poderão vir a ser aplicados à vacina da Covid-19.

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Já sabemos que Portugal terá numa primeira fase 6,9 milhões de vacinas para o combate à Covid-19, um número que deixará mais de três milhões de portugueses de fora da vacinação. Apesar de o primeiro-ministro, António Costa, já ter garantido que a vacinação será universal, na fase inicial deste processo será necessário definir critérios. A criação de grupos de risco e de prioridade é um deles.

Com grande experiência nesta matéria e membro ativo da equipa coordenadora do programa nacional de vacinação da Direção-Geral da Saúde (DGS), Etelvina Calé evidencia à Renascença que, no imediato, “há três milhões de pessoas que não vão ser vacinadas”.

Por isso, explica, vão ter de ser definidos grupos prioritários. “Normalmente quando se definem grupos de risco, são aqueles que apresentam mais comorbilidades e têm maior probabilidade de desenvolver a doença grave”, generaliza.

Depois detalha que serão “os profissionais de saúde, os cuidadores de pessoas que apresentam maior risco, ou seja, as pessoas que têm maior risco só por si”. Etelvina Calé deixa, no entanto, bem claro que estas são determinações genéricas de como atuar nestes casos de doenças do foro respiratório. Ainda não foram determinadas quais serão os critérios concretos para a Covid-19.

O mais provável é que seja a Organização Mundial de Saúde (OMS) a determiná-las nos próximos meses, sendo que depois serão ratificadas pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, e mais tarde aplicadas, com as necessárias adaptações locais, pela DGS em Portugal.

Grupos de risco

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, alerta que tipicamente, em Portugal, “não temos uma taxa de cobertura universal no que diz respeito à vacinação”.

“Temos boas taxas de cobertura, genericamente, mas não são universais, até em vacinas que não fazem parte do programa nacional de vacinação”, explica.

Mexia acredita que, quando as vacinas estiverem disponíveis, vai ter de haver uma estratégia para a distribuição e, face ao volume que é necessário, provavelmente “vamos ter que abordar esta distribuição em função de grupos de risco inicialmente, que depois vão progressivamente sendo alargados a outras faixas da população”.

O especialista em saúde pública acredita que na Covid-19, tal como Etelvina Calé refere, irá começar, provavelmente, com “os grupos de risco e concomitantemente com os profissionais de saúde que na prática vão também estar a lidar com os grupos de risco”.

A estes grupos, Ricardo Mexia soma os “que têm maior risco de adoecer e de ter consequências mais severas”. Esse é o caso de pessoas com idade mais avançada e que têm algum tipo de patologia associada. A mesma ideia tem Etelvina Calé, que diz que os mais velhos são os que têm mais risco de contrair doença respiratória, como é o caso da Covid-19.

Descendo à realidade do que está a acontecer no país, o médico de Saúde Pública defende que “teria que haver uma estratégia ou de centros de vacinação, ou no caso, por exemplo dos lares, em que provavelmente estarão incluídos em larga medida nestes grupos de risco”.

Para isso, seria necessário optar por uma abordagem que permitisse, por exemplo, ir aos lares e proceder a essa vacinação, evitando mais deslocações destas pessoas que têm um maior risco.

Posteriormente, e de forma progressiva, defende que se deve estender a vacina “àqueles que estão mais expostos, ou que têm efetivamente um potencial maior de disseminar a doença, e de ter complicações se ficarem infetados”.

Ampliando ainda o âmbito dos critérios ao contexto do trabalho, Ricardo Mexia acredita que as pessoas que pela atividade laboral estão mais expostas a outras pessoas, trabalhem em serviços que inclua atendimento, como os transportes públicos, deverão estar na linha da frente.

Mas, alerta, que tudo isto terá de ser feito “através de uma análise custo/ benefício”.

Grupo de mortes por grupo etário

A especialista em vacinação Etelvina Calé acredita também que o conhecimento, ainda que parco, da doença que se foi colecionando ao longo destes seis meses, deve ajudar a estruturar os critérios.

Apesar de ainda não haver números sólidos nos quais apoiar certezas mais concretas, os grupos de risco apontados pelos dois especialistas não deverão perfazer os sete milhões de pessoas. Como se estruturará depois as prioridades?

Haverá outras pessoas com ouras patologias que poderão ser eleitas e vai-se descendo no grau de risco de forma a abranger toda a população, o objetivo num horizonte não muito distante é tornar a vacina universal”, diz.

Operação complexa

O mesmo foi dito esta quinta-feira pelo primeiro-ministro, António Costa, que afirmou confiar nas autoridades de saúde competentes, como a Direção-Geral da Saúde, para que defina os critérios que devem obedecer à vacinação progressiva, universal e gratuita da população portuguesa para garantir a imunização.

A experiência mais próxima, apesar de não ser idêntica, de vacinação no Serviços Nacional de Saúde ocorreu em 2009, aquando da epidemia da H1N1, também uma doença do foro respiratório. Mas aí a percentagem de pessoas vacinadas foi de 30%.

Etelvina Calé avança que um processo de vacinação massivo implica ”uma grande preparação, uma grande logística e uma grande organização, mas é fazível”.

Em números largos, a primeira vaga de vacinação de sete milhões de pessoas será algo que demorará entre “dois, três ou quatro meses”.

“Nos próximos meses vai-se trabalhar para perceber quantas pessoas vamos precisar, quanto tempo vamos precisar”, explica.

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, acrescenta que este é um processo que implica um planeamento, que é complexo, e que deve ser feito de forma antecipada.

“Quando estivermos próximos de obter as vacinas para serem administradas, então haver a operacionalização dessa distribuição, incluindo também a componente comunicacional que vai ser muito importante também”, argumenta.

As vacinas poderão ser ministradas preferencialmente em centros de saúde, mas também em pontos de vacinação a criar e que apresentem maior comodidade para os cidadãos.

Casos de Covid-19 por grupo etário

Em relação à data para a vacina chegar ao país, o primeiro-ministro disse esta quinta-feira que "os otimistas acreditam que no final deste ano haverá os primeiros lotes" de uma potencial vacina, mas isso pode não acontecer.

Etelvina Calé, da equipa coordenadora do programa nacional de vacinação da Direção-Geral da Saúde (DGS), não faz parte do grupo mais otimista. Para a especialista 2021 será o ano em que teremos “vacina acessível, segura e eficaz”. “Antes disso não creio. Temos de dar tempo ao tempo. Há coisas que têm o seu tempo e não podemos ultrapassá-los”, remata.

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  • Ivo Pestana
    20 ago, 2020 Funchal 20:56
    Ninguém irá ficar de fora. Porque muitos são contra as vacinas.

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