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O que sabemos sobre o furacão Idália e o que indicia sobre tempestades futuras

30 ago, 2023 - 16:55 • Reuters, com redação

O Furacão Idália atingiu esta quarta-feira a Flórida, nos Estados Unidos. O aumento da temperatura dos oceanos está a tornar fenómenos destes mais frequentes.

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A chegada do furacão Idália ao golfo da Flórida, esta quarta-feira, pode iniciar que esta época de furacões no Atlântico pode não ser tão tranquila quanto os meteorologistas inicialmente faziam prever.

Em maio, os especialistas antecipavam que a temporada dos furacões que normalmente atinge os Estados Unidos não motivasse especial preocupação. Contudo, a partir de agosto as evidências de uma época de furacões mais perigosa agravaram-se.

A situação está a ser provocada pelo aumento generalizado das temperaturas dos oceanos à superfície. Este fenómeno é especialmente grave na Flórida, onde se verificam temperaturas particularmente elevadas (‘hot tub’ – semelhantes a uma banheira).

Segundo os cientistas, isto pode contrariar a força apaziguadora do ‘El Nino’, que tipicamente reduz a atividade atlântica dos furacões.

Embora os cientistas ainda não tenham determinado a influência direta das alterações climáticas sobre o comportamento do Idália, é notório o aumento da força e poder de devastação deste tipo de tempestades.

As alterações climáticas estão a afetar os furacões?

Os cientistas dizem que sim. As alterações climáticas estão a gerar mais humidade nos furacões, tornando-os mais ventosos e intensos. Há evidências de que, desta forma, as tempestades se movam mais lentamente, o que significa maior incidência sobre o mesmo sítio e que podem despejar mais água num só lugar.

Se não fosse pelos oceanos, o planeta Terra atingiria temperaturas muito mais elevadas devido às alterações climáticas. Nos últimos 40 anos, os oceanos têm absorvido quase 90% do aquecimento provocado pela emissão de gases com efeito de estufa. Grande parte desse aumento de temperatura verifica-se nas camadas mais superficiais dos oceanos. Este calor adicional pode aumentar a intensidade das tempestades e tornar os ventos mais fortes. Este ano isto está a ser particularmente notório.

As alterações climáticas também podem potenciar a quantidade de chuva libertada por cada tempestade. Como uma atmosfera mais quente é capaz de reter maior humidade, o vapor de água acumula-se até que se desfaça em fortes chuvadas.

De acordo com um estudo publicado na revista Nature Communications, em abril de 2022, durante a época dos furacões de 2020 – uma das mais intensas de que há memória – as taxas horárias de precipitação aumentaram entre 8% e 11% em tempestades com intensidade de furacão.

A temperatura global já aumentou cerca de 1,1 °C desde a altura pré-industrial. Os cientistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA) esperam que, com uma subida de 2°C, a velocidade dos ventos dos furacões possa aumentar em até 10%.

As previsões do NOAA também indicam uma maior prevalência de furacões que atingem os níveis mais intensos – categorias 4 ou 5: poderá aumentar cerca de 10% neste século. Até à data, menos de um quinto das tempestades atingiram esta intensidade desde 1851.

O padrão dos furacões está a mudar?

A “estação” típica dos furacões está a mudar, à medida que o aquecimento climático cria condições propícias a tempestades em mais meses do ano. Os furacões também estão a atingir regiões fora do que era habitual historicamente.

Nos Estados Unidos, a Flórida é o estado mais atingido pelos furacões, sendo que na sua maioria atingem um ponto terrestre, com mais de 120 destas ocorrências desde 1851, segundo dados do NOAA.

Nos últimos anos, no entanto, algumas tempestades estão a atingir o pico de intensidade e a atingir a costa mais a norte do que no passado – uma mudança em direção aos pólos pode estar relacionada com o aumento das temperaturas globais do ar e dos oceanos, segundo os cientistas.

Esta tendência é preocupante para cidades de latitudes médias como Nova Iorque, Boston, Pequim e Tóquio, onde “a infraestrutura não está preparada” para tais tempestades, alerta a cientista Allison Wing, da Florida State University.

O furacão Sandy, apesar de ter sido apenas uma tempestade de categoria 1, foi o quarto furacão mais caro já registado nos EUA, causando perdas de 81 mil milhões de dólares quando atingiu a costa nordeste em 2012.

A atividade dos furacões é comum na América do Norte entre junho e novembro, com um habitual pico em setembro – após o aquecimento das águas no verão.

No entanto, as primeiras tempestades a chegar aos EUA fazem-no agora mais de três semanas antes do que em 1900, antecipando o início da temporada para maio, de acordo com um estudo publicado em agosto na Nature Communications.

A mesma tendência parece estar a ocorrer em todo o mundo, na Baía de Bengala, na Ásia, onde desde 2013 os ciclones se têm formado mais cedo do que o habitual – em abril e maio – antes das monções de Verão, de acordo com um estudo de novembro de 2021 publicado na Scientific Reports.

Não está claro, contudo, se as alterações climáticas estão a afetar o número de furacões que se formam todos os anos. Uma equipa de cientistas relatou recentemente ter detetado um aumento na frequência dos furacões no Atlântico Norte nos últimos 150 anos, de acordo com o seu estudo publicado em dezembro na Nature Communications. Mas a pesquisa ainda está em curso.

Como se formam os furacões?

Os furações precisam de duas condições essências para a sua formação: água morna e humidade do ar.

Quando a água quente do mar evapora, a sua energia térmica é transferida para a atmosfera. Isso estimula os ventos da tempestade.

Ciclone, tufão ou furacão. Qual a diferença?

Embora tecnicamente sejam o mesmo fenómeno, as tempestades adquirem nomes diferentes dependendo do local onde se formam.

As tempestades que se formam sobre o Oceano Atlântico ou o Pacífico Norte-Central e oriental são chamadas de "furacões" quando a velocidade do vento atinge pelo menos 119 km/h. Até então, são designadas “tempestades tropicais”.

No Leste Asiático, as violentas tempestades que se formam sobre o Noroeste do Pacífico são chamadas de "tufões", enquanto "ciclones" emergem sobre o Oceano Índico e o Pacífico Sul.

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