25 mai, 2023 - 21:12 • Marta Pedreira Mixão com agências
Nos Estados Unidos, os republicanos têm mais um candidato à nomeação do partido para as eleições presidenciais: o governador da Florida, Ron DeSantis, que apresentou a candidatura através da rede social Twitter.
DeSantis formalizou a sua candidatura, na quarta-feira, através de um evento na rede social Twitter marcado por problemas técnicos, e divulgou também um vídeo no qual se apontou como o candidato “para liderar o grande regresso americano” dos Estados Unidos.
“Preferimos os factos e não o medo, a educação e não a doutrinação, a lei e a ordem e não os motins e a desordem. Mantivemo-nos firmes quando a liberdade esteve em risco”, referiu no seu discurso, fazendo alusão às várias polémicas que o envolveram.
DeSantis estudou na Faculdade de Direito de Harvard e foi comissionado como oficial da Marinha dos EUA. Depois da licenciatura, prosseguiu com a carreira de advogado no Judge Advocate General Corps (JAG Corps).
Foi nessa qualidade que foi destacado para o campo de prisioneiros militares da Baía de Guantanamo, em Cuba, onde supervisionou o tratamento dos detidos. Posteriormente, foi destacado para o Iraque como “conselheiro” de uma equipa de SEALS, forças especiais da Marinha dos EUA.
DeSantis trabalhou também como procurador adjunto dos EUA, na Florida, antes de se candidatar a um lugar no Congresso dos EUA, em 2012, onde serviu até se candidatar a governador em 2018.
Ainda um desconhecido no Estado da Florida, quando se candidatou ao cargo de governador e longe de ser o favorito para conseguir a indicação republicana, DeSantis conseguiu o apoio de Donald Trump e acabou por vencer a eleição com uma curta margem.
Trump, que assumiu os “créditos” desta vitória, tem agora acusado DeSantis de ser “desleal”, por “desafiá-lo” na nomeação presidencial.
EUA
Apesar de, na antecipação do anúncio, mais de 600 (...)
DeSantis chegou a fazer várias críticas a Trump, quando este estava na Casa Branca, sem esconder as divergências em áreas relevantes, desde a economia (onde tem uma posição de maior aceitação do investimento público) até à imigração.
Como governador da Florida, DeSantis tem aproveitado o cargo de poder para influenciar a legislação.
Em 2020, foi reeleito para um novo mandato como governador com quase 20 pontos percentuais de vantagem sobre o seu adversário.
Durante a sua juventude na Florida, DeSantis tinha uma grande paixão: o basebol. Foi lançador e jogava na terceira base.
Já na Faculdade, quando estudava na Universidade de Yale, foi capitão de equipa e a sua camisola é exibida no seu gabinete no Capitólio da Florida.
DeSantis é casado com Casey Black, que conheceu quando ela era repórter de televisão.
O seu crescimento a nível nacional surgiu com a oposição a muitas das políticas defendidas pelo governo federal norte-americano durante a pandemia de covid-19. DeSantis manifestou-se contra a obrigatoriedade do uso de máscaras e contra a vacinação obrigatória e lutou por manter os destinos turísticos da Florida abertos durante a pandemia.
DeSantis é uma das figuras do Partido Republicano que luta contra o que classifica como políticas demasiado progressistas. Foi neste campo que também se destacou por ter feito pressão para a proibição no ensino de conceitos de identidade de género e racismo sistémico nas escolas públicas. O governador da Florida também defende projetos de lei que proíbe crianças de se submeterem a medicamentos e terapias hormonais.
DeSantis também tem sido um crítico persistente de políticas de imigração e, em 2022, reivindicou a responsabilidade pelo envio de dois aviões com imigrantes para a luxuosa ilha de Martha's Vineyard.
DeSantis tem estado envolvido numa luta pública com a Walt Disney Co, que manifestou a sua oposição à lei que proíbe o ensino de assuntos relacionados com a orientação sexual e a identidade de género nas escolas da Florida.
Como resposta, o governador nomeou uma equipa para administrar o distrito especial atribuído pelas autoridades, em 1960, à Disney World e que a empresa administrava com completa autonomia, como se tratasse de um governo local. A junta designada por DeSantis anulou este acordo.
A empresa respondeu com uma ação judicial, na qual denuncia o facto de a Administração ter assumido o controlo do parque de diversões, em Orlando, como parte de "uma campanha de retaliação política" por parte do executivo. A Disney abandonou também os planos de construção de um campus empresarial de quase mil milhões de dólares no centro da Florida, que teria criado 2.000 novos empregos.
O lançamento da corrida presidencial de Ron DeSantis no Twitter foi marcado por falhas técnicas, num evento conduzido pelo diretor executivo da rede social, Elon Musk, e repetidamente interrompido por alegados "problemas nos servidores".
Aquele que seria o primeiro evento da campanha, e ao qual centenas de milhares de pessoas estariam a tentar aceder, foi constantemente interrompido na quarta-feira, quando os servidores do Twitter aparentemente não conseguiram dar resposta.
“Os servidores estão um pouco sobrecarregados”, ouviu-se Elon Musk dizer na transmissão de áudio ao vivo na plataforma.
O evento com Musk seria uma oportunidade para o governador comunicar em direto as suas intenções, mas começou com atrasos e vários problemas de transmissão, até que o candidato conseguiu anunciar a candidatura ao público que o aguardava.
Vários utilizadores do Twitter recorreram à rede social para criticar as falhas na transmissão, situação que foi aproveitada por adversários políticos.
A conta do Twitter do atual Presidente dos EUA, Joe Biden, publicou um ‘link’ para a sua própria página de arrecadação de fundos e escreveu: “Este link funciona”.
“Problemas técnicos. Silêncios desconfortáveis. Uma falha completa no lançamento. E esse é apenas o candidato”, disse o porta-voz da campanha de Donald Trump, Steven Cheung, à estação NBC News.
Na sua plataforma de redes sociais, Truth Social, Trump referiu-se ao lançamento como um "desastre" e "fatal".
Por outro lado, a equipa de DeSantis insistiu que os problemas técnicos eram a prova do elevado número de pessoas que queriam ouvir o governador da Florida.
“O governador DeSantis ‘fechou’ a Internet – isso deve dizer tudo o que precisam de saber sobre a força da candidatura”, disse um responsável da campanha citado pela NBC News.
A campanha de DeSantis vai realizar um evento de "arranque" a 30 de maio no Iowa, um estado que pode ser fundamental para as suas esperanças presidenciais.
Henrique Raposo
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As sondagens indicam que Trump está à frente de DeSantis em cerca de 30 pontos, e tem vindo a crescer nas últimas semanas, mas os analistas acreditam que esta diferença pode ser rapidamente encurtada com o anúncio oficial da entrada na corrida do governador da Florida.
Na sede do Partido Republicano há ainda a preocupação com o facto de DeSantis ser particularmente vulnerável num confronto com Joe Biden nos 'swing states' - considerados cruciais para o resultado final das eleições presidenciais de 2025: Pensilvânia, Wisconsin e Michigan.
Por outro lado, a formalização da candidatura do senador Tim Scott, da Carolina do Sul, pode também baralhar o desfecho das primárias, em desfavor de Trump, já que pode apelar aos eleitores que progressivamente se mostram incomodados com os casos judiciais em que o ex-Presidente está envolvido.
Há ainda um outro aspeto da candidatura de DeSantis que está a preocupar a equipa de campanha de Trump: a forma como o governador da Florida está a ser capaz de angariar fundos.
Até ao momento, há dez candidatos declarados à Casa Branca: o Presidente Joe Biden, que concorre a um segundo mandato, Marianne Williamson e Robert F. Kennedy Jr, do lado dos democratas; já do lado republicano, candidatam-se Donald Trump, Ron DeSantis, Vivek Ramaswamy, Asa Hutchinson, Larry Elder, Tim Scott e Nikki Haley.