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Exclusivo Renascença. Governo ucraniano conta com "sabedoria" do Papa Francisco neste conflito

09 mar, 2023 - 20:40 • José Pedro Frazão , enviado da Renascença à Ucrânia

"Devemos esquecer de uma vez por todas as narrativas russas sobre a necessidade de trazer a paz imediatamente. Ou que os ucranianos e os russos são nações irmãs", afirma conselheiro do Presidente ucraniano, em entrevista à Renascença, em Kiev.

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Exclusivo Renascença. Governo ucraniano conta com "sabedoria" do Papa Francisco neste conflito
Exclusivo Renascença. Governo ucraniano conta com "sabedoria" do Papa Francisco neste conflito

O Governo ucraniano conta com "sabedoria" do Papa Francisco no conflito que o país está a travar com a Rússia. Em entrevista à Renascença, Ihor Zovkha, o conselheiro principal do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para a política externa, reconhece que nem sempre Kiev ficou agradado com as posições do Papa Francisco.

Tudo remonta à Via Sacra de Sexta-feira Santa de 2022. O Governo de Kiev e os bispos católicos ucranianos mostraram desagrado pela versão original da meditação da 13.ª estação, em que russos e ucranianos apareciam a par no plano do sofrimento causado pela guerra.

Na versão final, o texto foi alterado, mas a Cruz manteve-se nas mãos de uma ucraniana e de uma russa. Nesta conversa gravada num dos gabinetes da Presidência Ucraniana, em Kiev, Ihor Zovkha fala em "narrativas russas sedutoras", mas acaba por depositar esperança na "sabedoria muito importante" do Papa.

Observo que tem uma foto emoldurada no seu gabinete com um encontro seu com o Papa Francisco. Que papel pode ter o Papa neste conflito?

Esta fotografia remonta ao tempo em que o meu presidente visitou o Vaticano em 2020, ainda antes da Covid, quando podíamos viajar. O seu papel foi muito importante, não só porque há uma grande quantidade de greco-católicos na Ucrânia, mas porque o Papa Francisco também foi um defensor da paz: Contamos também com a sabedoria do Vaticano. E entendemos absolutamente o quão importante é a posição da Igreja, não apenas católica, uma vez que estamos a trabalhar também com a Igreja Ortodoxa, que está muito mais presente aqui na Ucrânia. Esta posição é muito importante.

Muitas vezes surgem incompreensões. Escutámos vozes ucranianas, nomeadamente o embaixador ucraniano na Santa Sé, dizendo que o Papa deveria estar mais atento a esta situação porque denota uma posição de equilíbrio. Admite que a posição ucraniana nem sempre é clara?

Não, penso que há aqui outro problema. Às vezes, as narrativas russas são tão sedutoras que às vezes até os líderes mais sábios tentam segui-las. Devemos esquecer de uma vez por todas as narrativas russas sobre a necessidade de trazer a paz imediatamente. Ou que os ucranianos e os russos são nações irmãs.

Não são?

Esta é a narrativa que eles apresentam. Somos dois povos diferentes. Nós somos civilizados, eles não são. Nós queremos estar na Europa e eles querem estar noutro lugar. Queremos estar convosco e não queremos lutar com ninguém. Eles querem lutar não apenas contra a Ucrânia, porque se nós não os detivéssemos na Ucrânia, eles iriam primeiro para os Estados bálticos, depois para a Polónia, depois para a Alemanha e depois para Portugal. E vocês têm que entender isso. Você faz parte de uma esfera dos media muito importante, a sua tarefa não é seguir essas narrativas russas. E eu acho que seria muito mais fácil para nós.

De que narrativa russa está a falar?

Sobre esta irmandade de nações, por exemplo.

É isso que ouve do Papa?

Deve estar recordado que o Papa fez algumas ações sobre a união de ucranianos e russos durante alguns períodos festivos. E isso obviamente não era o que esperávamos.

Mas conserva esta fotografia aqui como um sinal de esperança?

Mais uma vez, contamos com a sabedoria do Papa Francisco. Seria muito importante.

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