A+ / A-

Sónia Guajajara é a primeira ministra indígena da história do Brasil

12 jan, 2023 - 07:10 • Pedro Valente Lima

A líder nativa destaca a importância do ministério na "resistência secular preta e indígena no Brasil".

A+ / A-

Sónia Guajajara tomou posse como ministra dos Povos Indígenas do Governo de Lula da Silva, tornando-se na primeira nativa a chefiar um ministério na história do Brasil.

Na cerimónia de tomada de posse, no Palácio do Planalto, a líder indígena fez questão de salientar o significado deste momento para os povos originários do país.

"Sabemos que não será fácil superar 522 anos em quatro, mas estamos dispostos a fazer deste momento a grande retomada de força ancestral da alma e espírito brasileiros", sublinhou Guajajara.

Ao longo do discurso, a ministra frisou a necessidade de encetar esforços para a maior visibilidade e valorização da ancestralidade brasileira, que "não é o que muitos livros de História costumam retratar".

Sónia Guajajara destaca que os povos indígenas estão espalhados pelas "cidades, aldeias, florestas", a exercer "os mais diversos ofícios". "Vivemos no mesmo tempo e espaço que qualquer um de vocês", reforça.

"Somos contemporâneos deste presente e vamos construir o Brasil do futuro, porque o futuro do planeta é ancestral. Nunca mais um Brasil sem nós."

Uma das primeiras medidas já anunciadas pela ministra é o regresso do Conselho Nacional de Política Indígena. De acordo com a Globo, o órgão havia sido criado em 2015, mas extinto pelo Governo de Bolsonaro em 2019.

Tal como o nome indica, será um organismo responsável pela "elaboração, acompanhamento e implementação de políticas públicas voltadas para os povos indígenas".

"Resistência preta e indígena no Brasil"

Durante a cerimónia, a ministra prestou homenagem ao indigenista Bruno Araújo Pereira e ao jornalista Dom Phillips, dois dos "aliados na defesa do meio ambiente e dos direitos humanos", assassinados em junho de 2022 numa expedição ao Vale do Javari, na Amazónia.

Guajajara também realçou a nomeação de Anielle Franco como ministra da Igualdade Racial, outro dos regressos proporcionados pelo Governo de Lula: "A nossa posse, minha e de Anielle franco, é o mais legítimo símbolo dessa resistência secular preta e indígena no Brasil".

Nesta pasta da Igualdade Racial, Lula da Silva aproveitou a cerimónia para promulgar uma lei que equipara o insulto racial ao racismo. A legislação passa, assim, a incluir o "insulto racial coletivo" como crime, o que pode duplicar as penas aplicadas neste tipo de delitos: de um a três anos para dois a cinco anos.

A tomada de posse estava marcada inicialmente para a passada segunda-feira, 9 de janeiro, mas a invasão em Brasília de apoiantes de Bolsonaro obrigou ao adiamento da cerimónia.

Um momento que a líder indígena não deixou escapar no seu discurso: "Não vai destruir a nossa democracia. E aqui convocamos todas as mulheres do Brasil para dizermos juntas que nunca mais vamos permitir um outro golpe no nosso país."

"Sem amnistia!", rematou, sobre a eventual punição dos invasores do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal.

Em outubro de 2022, Sónia Guajajara já havia feito história, ao ser a primeira mulher indígena eleita como deputada federal. Foi também uma das finalistas do Prémio Sakharov e uma das 100 pessoas mais influentes do mundo da revista Time.

[Notícia atualizada às 08h47]

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+