Conversas na Bolsa

Felisbela Lopes. “Temos um país muito centralizado do ponto de vista mediático”

19 jun, 2023 - 13:45 • Olímpia Mairos

Para a investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho é urgente combater assimetrias e os media são chamados a um papel ativo. Felisbela Lopes foi a convidada, esta sexta-feira, das “Conversas da Bolsa”.

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Felisbela Lopes. “Temos um país muito centralizado do ponto de vista mediático”, reportagem de Olímpia Mairos
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“Não podemos pensar qualquer política pública, qualquer processo de descentralização ou de regionalização, sem incorporar os media”, defendeu a investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, Felisbela Lopes, oradora convidada das “Conversas na Bolsa”, desta sexta-feira, no Palácio da Bolsa, no Porto.

“Nós temos um país muito centralizado do ponto de vista mediático. Nós não temos a imprensa regional, os media de índole regional desenvolvidos em Portugal, por exemplo, ao contrário de Espanha ou de França, não temos. E isto cria, de facto, alguns problemas ao nível daquilo que é a constituição do espaço público”, nota a investigadora.

Na sua perspetiva, cabe às organizações, e nomeadamente às universidades, a responsabilidade de dar visibilidade e criar agendas mais atrativas.

“E comunicar aquilo que é importante, que é relevante para as pessoas, sempre naquela lógica de não estarmos sempre a falar. Mas temos que ter responsabilidade de dar visibilidade e criar agendas mais atrativas no espaço público contemporâneo e individualmente, enquanto fontes individuais. Nós também temos esta responsabilidade, nós também poderemos fazer isto, cada um de nós, a partir do nosso lugar”, explica.

Para Felisbela Lopes, uma das principais analistas dos media em Portugal, é urgente combater as assimetrias atuais que classificou de “grandes” e de “diversa índole”, num “processo de acompanhamento, de notoriedade e de interesse por aquilo que estamos a defender”.

“É um combate que é urgente, em Portugal, em simultâneo também com algo que me parece que é urgente, que é esta promoção da cidadania, de uma cidadania de alta intensidade”.

“Nós temos hoje os mais jovens completamente anestesiados, relativamente àquilo que que são os assuntos de interesse público”, alertou, ilustrando com o exemplo de uma estudante de 20 anos que “não sabia o que era a Assembleia da República, não sabia quem é que estava na Assembleia da República”.

A agenda dos media e as ondas noticiosas

Nas Conversas na Bolsa, a investigadora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho refletiu ainda sobre a agenda noticiosa dos media, “estruturada pelos acontecimentos e pela força de determinados acontecimentos cuja importância impõe a sua noticiabilidade”, destacando que de “há uns anos a esta parte, os media em Portugal desenvolvem a sua agenda por aquilo que nós chamamos ondas noticiosas”.

“E de uma forma interessante, nós constatamos que as ondas noticiosas não coabitam”, disse, exemplificando com casos concretos.

Segundo Felisbela Lopes, na agenda noticiosa entram ainda as redes sociais, as fontes de informação e as agendas dos próprios jornalistas.

Sublinhando que a agenda dos jornalistas “é extremamente importante”, a especialista referiu que as fontes “operam por uma confraria e o custo é chegar a confrade”.

“Quando nós somos confrades, andamos de palco em palco, porque estamos na agenda dos jornalistas e eles, por uma extensão de competências, acham que nós podemos falar de tudo e nós” - alertou - “não estamos habilitados a falar de tudo. E aqueles que falam de tudo também não têm propriamente uma notoriedade pública muito robusta”.

Por fim, Felisbela Lopes nota que “os próprios media têm editorias muito tradicionais” e é preciso inverter esta situação para atrair os mais jovens.

“Nós não temos temas de sustentabilidade, de ambiente, por exemplo, tecnologias. Os jovens, se calhar, gostam mais disso, porque é muito chato aquilo que está nos alinhamentos, para quem tem 20 anos. Ninguém ouve audições de 20 horas, para exagerar. Portanto, nós temos que criar agendas alternativas, com fontes alternativas. É difícil? - Sim. É possível? - É.”, conclui.

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