França

​Jordan Bardella, a ascensão meteórica do protegido de Le Pen

08 nov, 2022 - 19:01 • Stefanie Guerreiro, correspondente em França

Com apenas 27 anos, Jordan Bardella foi eleito presidente da União Nacional e sucede a Marine Le Pen. Esta é a primeira vez, nos 50 anos da história do partido, que o líder não pertence à família Le Pen.

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Jordan Bardella sucede a Le Pen na liderança da União Nacional
Edição de vídeo: Pedro Valente Lima/RR

Jordan Bardella, tido como o protegido de Marine Le Pen, nasceu em 1995, em Saint-Denis, uma das zonas mais pobres dos arredores de Paris e é descendente de uma família italiana que emigrou para França nos anos 60.

Desde cedo, demonstrou interesse pela política e, em 2012, com apenas 16 anos, entrou para a Frente Nacional, que, mais tarde, viria a tornar-se União Nacional. Era apenas o início da ascensão meteórica do “filho político” de Le Pen.

Nos anos seguintes, Bardella assumiu várias funções: foi eleito para o conselho regional de Paris e, durante as presidenciais de 2017, fez parte da equipa de campanha de Marine Le Pen; em setembro do mesmo ano, continuou a subir degraus na política e foi eleito porta-voz do partido. O jovem político ainda entrou para a universidade nesse período, mas nunca concluiu a licenciatura em Geografia.

Em 2019, aos 23 anos, chegou a eurodeputado. A rápida progressão de Bardella consolidou-se este ano, quando, durante as eleições presidenciais, assumiu o papel de presidente interino do partido.

Não é Le Pen, mas é quase como se fosse

Agora, assume, oficialmente, o cargo. É um feito inédito. Em 50 anos, é a primeira vez que a presidência é delegada a alguém que não pertence à família Le Pen. Pelo menos oficialmente, uma vez que que Jordan Bardella namora com a sobrinha de Marine.

Muitos analistas consideram, por isso, que o partido continuará a ser comandado pela ex-líder, que se afasta agora para se dedicar a uma eventual candidatura às Presidenciais de 2027 e também à liderança do bloco parlamentar da União Nacional, que conta com 89 deputados, a maior representação de sempre.

O futuro do delfim de Le Pen como Presidente só agora começa a desenhar-se, mas uma coisa é certa: apoia a linha anti-migração e protecionista do partido.

Muitos analistas consideram que o político já adotou, ao longo do tempo, um discurso mais extremista do que Marine Le Pen, tese também defendida por Diogo Sardinha, antigo presidente do Colégio Internacional de Filosofia em Paris, em entrevista à Renascença.

“É claro que ele já adotou uma retórica mais extremista. Os temas acabam por ser mais ou menos os mesmos. É a questão da identidade, é a questão da nação e da emigração, mas eles são apresentados agora de forma mais virulenta, mais violenta, ainda que esta violência seja ‘apenas’ retórica”, começou por defender, recordando depois o episódio em que um deputado da extrema-direita, Grégoire de Furnas, proferiu um comentário racista direcionado a um deputado de esquerda radical, de origem angolana e congolesa, Carlos Martens Bilongo, na câmara baixa do Parlamento francês.

O episódio aconteceu, na semana passada, quando Carlos Bilongo, do partido França Insubmissa, se pronunciava e questionava o governo sobre um barco de migrantes retido no Mediterrâneo. Nesse momento, Grégoire de Furnas, da União Nacional, gritou, do outro lado da sala, uma frase de cariz racista.

Há quem tenha entendido a expressão como “que ele volte para África”, como estando a referir-se ao deputado. A extrema-direita alega que a frase se referia ao “barco de migrantes” e que o seu deputado disse “que eles voltem para África”. O tema gerou muita controvérsia e um amplo debate em França e o deputado acabou mesmo por ser excluído temporariamente do exercício das suas funções.

Diogo Sardinha, o nosso entrevistado, recuperou este exemplo para salientar que esta conduta poderá vir a ser cada vez mais frequente no futuro.

“Essa pessoa [Grégoire de Furnas] é uma pessoa próxima do atual presidente da União Nacional e, portanto, é isso tipo de discurso que vai ser adotado [no futuro]”, complementou.

O antigo Presidente do Colégio Internacional de Filosofia em Paris não tem dúvidas de que este discurso mais extremista pode colocar em causa a imagem mais moderada que o partido tem vindo a tentar adotar nos últimos anos.

“Eu penso que sim porque os outros partidos vão aproveitar este tipo de deslizes, que não estão talvez previstos na estratégia, ou talvez estejam, para dizer ‘vejam que no fundo a União Nacional é um lobo com pele de cordeiro’”, rematou.

Jordan Bardella começa agora o seu futuro político como presidente, mas, seja qual for a conduta que decidir adotar, o seu nome já está inscrito na história do partido União Nacional por ser o primeiro dirigente a não pertencer, de forma direta, à família Le Pen.

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