Eleições francesas. "O projeto de Marine Le Pen arruinaria a França"

24 abr, 2022 - 17:14 • Stefanie Palma, correspondente Renascença em Paris

A Renascença acompanhou a votação ao longo da manhã em Nogent-sur-Marne, nos arredores de Paris, para a segunda volta das eleições presidenciais, em França.

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Em França, perto de 49 milhões de franceses são chamados às urnas este domingo, 24 de Abril, para a segunda volta das eleições presidenciais que opõe o candidato liberal Emmanuel Macron e a candidata de extrema-direita, Marine Le Pen.

As mesas de voto abriram às 8 horas locais e a Renascença acompanhou a votação ao longo da manhã em Nogent-sur-Marne, nos arredores de Paris.

Nas primeiras horas do dia, o ambiente nas mesas de voto refletia uma participação muito regular dos eleitores e, desde então, têm existido filas contínuas.

O Ministério do interior francês já revelou as primeiras taxas de participação, dados contalizados até ao meio-dia e que ficaram situados nos 26.41%, um valor superior ao mesmo horário da primeira volta, 25.48%, mas inferior às anteriores eleições presidenciais, de 2017. Na altura, a participação até às 12 horas havia sido de 28.54%.

Entretanto, novos dados de participação relativos às 17 horas, mostram uma quebra na participação relativamente à primeira volta (63.23% em comparação com 65%). Este valor é também de menos 2 pontos percentuais em relação a 2017, no mesmo horário (65.30%).

Philippe Pereira, lusodescendente e presidente da mesa de voto de Nogent-sur-marne, nos arredores da capital francesa, começou por destacar a importância fulcral destas eleições.

"Nestas circunstâncias, o desafio é enorme. São duas visões completamente diferentes, não só de um projeto político, mas de uma visão para o país, de valores muito diferentes também. Trata-se de escolher um projeto de centro ou então um programa de extrema-direita, que em nada pode ser comparado", começou por defender o entrevistado.

Emmanuel Macron ou Marine Le Pen, um dos dois candidatos vai vencer esta noite a corrida ao palácio do Eliseu, e tornar-se assim o próximo Presidente da República. De salientar que os dois candidatos já tinham estado frente a frente na segunda volta das presidenciais, em 2017, em que Macron saiu vencedor, com uma diferença bastante confortável (66.03% contra 33.94%), um cenário bastante diferente daquele que se prevê para este domingo.

As últimas sondagens apontam para a vitória de Emmanuel Macron contra Le Pen, no entanto, ambos têm estado bastante equilibrados, de acordo com os dados divulgados nas últimas semanas.

Philippe Pereira, que é também membro do Partido República Em Marcha, de Emmanuel Macron, revelou aquilo que se pode esperar para os próximos cinco anos, caso o candidato liberal seja reeleito.

"Confirmação de uma certa dinâmica, em termos económicos, o que para mim não é uma mudança. Apesar disso, a mudança que espero que aconteça se ele for eleito é compreender que foi eleito pelo seu eleitorado tradicional, mas também por muitas pessoas que quiseram defender a República e a democracia e que não quiseram que a extrema-direita chegasse ao poder", referiu, explicando ainda que parte do eleitorado de esquerda, que optar por Emmanuel Macron, espera uma política social mais marcada, num eventual segundo mandato.

Franceses votam na segunda volta das presidencias 2022 Foto: Stefaine Palma/RR
Franceses votam na segunda volta das presidencias 2022 Foto: Stefaine Palma/RR
Franceses votam na segunda volta das presidencias 2022 Foto: Stefaine Palma/RR
Franceses votam na segunda volta das presidencias 2022 Foto: Stefaine Palma/RR

O presidente da mesa de voto considera, por outro lado, que o projeto de Marine Le Pen não é sustentável.

"Conhecemos o programa de Marine Le Pen, tanto em termos de valores democráticos ou instituições ou até mesmo do ponto de vista económico. O projeto de Marine Le Pen é um projeto que arruinaria a França", defendeu, de forma afirmativa.

Para além disso, destaca ainda que, na sua óptica, este projecto não seria sustentável e que Marine Le Pen não teria a aptidão de unir os franceses.

"Os franceses querem mais união. É uma das coisas em que criticam Emmanuel Macron. Como é que podemos imaginar que Marine Le Pen consiga unir ainda mais os franceses?", questionou, em jeito de reflexão.

A Renascença quis ainda saber em quem poderão votar os lusodescendentes nesta eleição decisiva. Esta foi também a pergunta que fizemos a Philippe Pereira.

"É difícil ter uma impressão. Os portugueses que votam já são franceses. Os franceses que não tenham dupla nacionalidade ou nacionalidade francesa não podem votar, ou seja, já são portugueses mais integrados", referiu.

O nosso entrevistado salientou depois que muitos portugueses terão ainda presentes na memória o legado deixado pela ditadura em Portugal e que, como tal, não irão optar por uma candidata de extrema-direita.

"Eu acho que aqueles que, como eu, ainda têm vivas as razões pelas quais os nossos pais vieram para França, o autoritarismo e a ditadura que existia em Portugal e que os levou a sair de Portugal para França, nomeadamente, neste caso, faz com que votar para a extrema-direita, apoiá-la ou mesmo imaginar que a extrema-direita comande o país seja absolutamente impossível", exemplificou.

Apesar disso, Philippe Pereira sabe de vários casos em que o voto de portugueses poderá pender para Marine Le Pen e explicou-nos porquê.

"Sei que muitas pessoas estão tentadas a isso. Não creio que seja por motivos relacionados com a emigração ou com a xenofobia, mas será mais por razões económicas, sociais e dificuldades que tenham no dia-a-dia, em viver, e isso pode levar os portugueses ou lusodescendentes, tal como os franceses, a quererem virar tudo e mudar tudo, mas não creio que seja uma boa solução", reiterou.

Recorde-se que esta eleição é feita geralmente a duas voltas, nos casos em que nenhum candidato atinge os 50% da votação, numa primeira instância. Nestas presidenciais de 2022, 12 candidatos tentaram lutar pela presidência na primeira volta, mas nenhum conseguiu atingir esta fasquia, em termos de resultados.

Na primeira volta, o atual Presidente fixou-se nos 27.85% e Marine Le Pen nos 23.15%. Em terceiro lugar ficou Jean-Luc Mélenchon, candidato de esquerda pelo partido França Insubmissa, com pouco mais de 20% dos votos, o que corresponde a cerca de 8 milhões de franceses.

Os eleitores que votaram em Jean-Luc Mélenchon serão cruciais para ditar o futuro desta segunda volta das eleições. O líder da França Insubmissa apelou, nas últimas semanas, para que o seu eleitorado não dê "nem um voto a Marine Le Pen", sem contudo apelar ao voto útil em Emmanuel Macron.

Estes são os dados conhecidos até ao momento, numa altura em que se aguarda que os primeiros resultados destas eleições presidenciais sejam conhecidos pelas 20 horas locais, 19 horas em Portugal.

De salientar que as urnas fecham às 19 horas de Portugal continental ou 20 horas locais, no caso das grandes cidades.

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