​Hora da Verdade

Não vai faltar bacalhau nem carne este Natal. Mercado está "numa certa abundância"

22 dez, 2022 - 07:00 • Susana Madureira Martins (Renascença) , Sónia Sapage (Público)

Em vésperas do Natal, o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) garante que na mesa dos portugueses "não vai faltar bacalhau. Como não vão faltar ovos. Como não vai faltar carne". Os industriais da carne tinham alertado que a realização de greves podia provocar a falta de produtos, mas Gonçalo Lobo Xavier fala mesmo de um período de uma certa abundância".

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Não vai faltar bacalhau, nem carne este Natal. Mercado está "numa certa abundância"
Imagem: Maria Costa Lopes/RR; Fotos: Rui Gaudêncio/Público

Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e do jornal Público, o dirigente da APED diz-se ainda preocupado com as "centenas e centenas" de empresas que têm sofrido ataques informáticos, sendo, por isso, "algo que deve estar na mente do Governo e das políticas públicas, porque está seguramente a acontecer e pode ter consequências". Gonçalo Lobo Xavier não coloca de parte que parte dos apoios do Estado às empresas sejam direcionados para investimento em segurança informática. "É uma dinâmica que tem que ser pensada", conclui

A Associação Portuguesa de Industriais de Carnes avisou que pode não haver carne no Natal, na sequência de uma greve de trabalhadores em funções públicas que os afeta, lamentando a falta de respostas do Governo. Vamos todos ter de comer um bocadinho mais de bacalhau?

Nada contra a associação que referiu, mas muitas vezes há um apetite por dizer e aproveitar este tempo de Natal para lançar alguns alertas e isso é positivo. Mas ninguém pode pensar que a uma semana do Natal os nossos retalhistas não tenham tudo preparado e não tenham abastecido as suas lojas, do ponto de vista logístico, para que nada falte. Não vai faltar bacalhau. Como não vão faltar ovos. Como não vai faltar carne. Felizmente, nós vivemos até um período de uma certa abundância e estou a ser cuidadoso. Não quero que pensem que estou aqui a dizer que estamos a viver no País das Maravilhas. Não é nada disso, mas os retalhistas têm conseguido apresentar os produtos desta época a preços competitivos, a diferentes preços. Isso só se consegue com uma logística e com um planeamento muito, muito importante. Não escondo que temos tido aqui e ali, algumas dificuldades decorrentes das greves, seja na Função Pública, seja no sector privado. Mas felizmente, não temos nenhum problema para as próximas semanas.

Eu queria deixar uma nota ainda. Às vezes não se pensa muito nisso. Nós estamos a viver um período que não tem a ver agora com o alimentar ou com o não alimentar. Tem a ver com todo o sector. Estamos a viver um período muito difícil com um elefante que está na sala, escondido, mas que está a atacar: os ataques cibernéticos.

Que afeta também o setor da distribuição?

Felizmente, o consumidor não tem sentido. Não tem sentido porque as empresas estão bem preparadas, mas em algo que nos deve fazer refletir. Nós estamos todos sujeitos, empresas, pessoas, instituições, cada vez mais sujeitos a ataques cibernéticos e que muitas vezes podem pôr em causa o funcionamento da sociedade. E isso tem de ser pensado, tem de ser trabalhado e tem de ser, sobretudo, antecipado. O que é possível fazer, nós estamos a fazê-lo. Mas são dezenas, centenas e centenas as empresas que nos relatam casos de ataques quase diários e que, felizmente, não têm tido consequências.

Com o objetivo de sacar dados?

É um pouco de tudo.

Com pedidos de resgate também?

Sim, têm existido nalguns casos, felizmente tudo a ser resolvido. Mas eu não falo apenas do nosso setor, quis sinalizar que é algo que vai estar presente na atividade económica. Já está e vai continuar a estar presente na atividade económica em 2023 e que, a par dessas questões de greves, de ruturas, é uma preocupação que nós temos.

E já está a causar perdas?

Felizmente, repito, não temos nenhum caso grave. O que temos é casos esporádicos que felizmente estão ali, que nós não divulgamos naturalmente, mas que é importante que se diga que está a acontecer.

Desde as médias, pequenas empresas às maiores?

Todo o tipo de empresas. Naturalmente, as maiores são as mais apetecíveis do ponto de vista destes piratas. Mas a verdade é que o motivo que me levou a lembrar esta questão é porque isto exige muito da política pública.

Legislação, se calhar?

Mais do que legislação, talvez apoio e coordenação na defesa das empresas e dos sistemas, com empresas de segurança especializadas e que muitas vezes as empresas pequenas não têm em acesso. Portanto, é algo que deve estar na mente do Governo e das políticas públicas, porque está seguramente a acontecer e pode ter consequências.

Que conselhos é que dão aos associados nesses casos, quando se confrontam com uma situação dessas?

Nós temos sido confrontados e temos divulgado as boas práticas que existem. Mas, sobretudo, é preciso que as empresas recorram a especialistas de cibersegurança e que as ajudem nesta matéria. Por isso é que eu falava no investimento. Provavelmente uma empresa de média dimensão, que tem as suas preocupações do ponto de vista de abastecimento e de logística, está hoje a pensar que, de facto, também tem de investir nesta área.

Os apoios às empresas por parte do Estado também deviam dirigir-se para essa vertente?

É uma dinâmica que tem de ser pensada. Não somos uma associação que peça apoios, mas aqui estamos a falar de política pública dirigida a todos os setores, seja setores industriais, seja setores do retalho. Há, de facto, uma preocupação que é preciso estar no discurso político e que nós achamos que é muito importante. Por parte da APED estamos a trabalhar com várias empresas e estamos a alertar os nossos associados para esta matéria.

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