Covid-19. Metade dos restaurantes perdeu 50% da faturação em dezembro

05 jan, 2022 - 18:54 • João Carlos Malta

Os valores são do último inquérito realizado pela associação nacional de restaurantes, PRO.VAR, e que revela ainda que o setor vive uma “tempestade perfeita” em que o teletrabalho, o absentismo laborar e a falta de apoios do Estado pode levar “a encerramentos e despedimentos em massa”.

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As restrições do final do ano, o aumento de casos de Covid-19 e o teletrabalho estão a provocar uma situação de desespero quase generalizada nos restaurantes portugueses. A PRO.VAR - Associação Nacional de Restaurantes diz que o mais recente inquérito aos sócios revela que metade dos empresários perdeu 50% da faturação.

“Se tivermos em conta o final de 2021 e em especial o segundo período mais importante do ano que é dezembro, tivémos perdas no mês todo de 50%”, diz à Renascença Daniel Serra, presidente da PRO.VAR.

Já se a análise for apenas a partir do dia em que foram impostos os testes à Covid-19 obrigatórios para entrar nestes estabelecimentos, as perdas disparam. A quase totalidade dos espaços de restauração, 92,11%, tiveram perdas superiores a 50%.

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"Recebemos mensagens todos os dias de pessoas que atiraram a toalha ao chão", Daniel Serra, presidente da PRO.VAR.

“Muitos empresários têm ligado e estão desesperados. As palavras que eles mais usam são caos, desespero, pânico”, relata Serra.

Mais apoios, já!

O primeiro trimestre do ano é tradicionalmente muito difícil para o setor, e “os empresários estão a adivinhar momentos de enorme dificuldade”. Para minorar a situação, a PRO.VAR pede ao Governo que “amanhã [após o Conselho de Ministros] anuncie um pacote de medidas de apoio de compensação a estas elevadas perdas”. “Este setor já não tem mais resiliência”, garante.

O mesmo cenário é descrito pela vice-presidente da Associação Portuguesa de Restaurantes, Hotelaria e Turismo (APHORT), Inês Sá Ribeiro.

“Em termos de movimento esta semana, até ao dia de Reis, costuma ser forte para a restauração, e estamos a sentir esta diferença, seja porque as pessoas estão confinadas, as escolas encerradas ou haja muito teletrabalho. Há uma menor procura por esse elevado número de pessoas em confinamento”.

Em Portugal, já há mais de 400 mil pessoas confinadas, seja por estarem infetadas com o vírus da Covid-19 ou por terem um contacto de risco. Segundo os dados da DGS, desta quarta-feira, há agora mais 25.349 casos ativos, num total de mais de 239 mil.

Se tivermos em conta o final de 2021 e em especial o segundo período mais importante do ano que é dezembro, tivémos perdas no mês todo de 50%”, Daniel Serra, presidente da PRO.VAR.

Os contactos em vigilância, segundo os mesmos dados, são agora mais de 197 mil.

Inês Sá Ribeiro diz que perante este cenário haveria medidas mais consensuais a serem tomadas pelo Governo, como reduzir períodos de confinamento para cinco dias, tal como foi feito em alguns países e nas regiões autónomas dos Açores e da Madeira.

“Esses dois dias tem uma repercussão na vida das pessoas, e naturalmente em relação à atividade das empresas”, concretiza.

Oito em cada dez perdeu 25% da faturação

A imposição do teletrabalho − desde antes do Natal e com as seguintes semanas de contenção do vírus devido às festas − é responsável, segundo a PRO.VAR por um quarto da perda de faturação dos restaurantes. “Três em cada quatro perdem 25% da faturação devido ao teletrabalho”, afiança Daniel Serra.

O dirigente associativo avança que a situação do setor se agravou em 2021. Oito em cada dez restaurantes têm perdas de rendimento iguais ou superiores a 25% quando comparado com o período pré-Covid, ou seja, o ano de 2019.

"Até ao dia de Reis, costuma ser forte para a restauração, e estamos a sentir esta diferença, seja porque as pessoas estão confinadas, as escolas encerradas ou haja muito teletrabalho", Inês Sá Ribeiro, APHORT.

“Foi um final de ano em que apesar de não haver restrições de horários, nem limitações de pessoas por mesa, acabou por ter um forte impacto na restauração que se encontra à data de hoje com perdas de dimensão incalculáveis”, diagnostica.

Na hotelaria, Inês Sá Ribeiro afirma que a situação é muito idêntica. “Há perda de receita, havia reservas feitas e os números eram simpáticos, e isso de repente desapareceu”.

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"Muitos empresários têm ligado e estão desesperados. As palavras que eles mais usam são caos, desespero, pânico", Daniel Serra, presidente da PRO.VAR.

Devido a essa razão, adianta, “alguns espaços optaram por encerrar, por apresentarem taxas de ocupação muito baixas”.

Um efeito direto da situação pandémica galopante, em termos de infeções, é o absentismo laboral. Os restaurantes não são exceção.

"Havia reservas feitas e os números eram simpáticos, e isso de repente desapareceu", Inês Sá Ribeiro, APHORT.

Daniel Serra diz que um terço dos empregados de restaurante já esteve infetado com a Covid-19 e que 27% dos estabelecimentos já teve de fechar porque não tinha equipa para estar aberto.

“Isto está a acontecer sobretudo no último mês devido à Ómicron”, garante. “Basta não haver a equipa de cozinheiros para termos de fechar o restaurante”, diz.

Em relação à necessidade de apoios, Daniel Serra afirma que o Governo tem obrigação de compensar as empresas, mas acusa que, neste momento, o executivo é célere na implementação das regras, das restrições que os empresários acabam por cumprir na íntegra, mas que não tem a mesma rapidez nas compensações.

“O Governo não está a responder como em 2020, e os empresários têm mais responsabilidades com os bancos, o Estado, e os fornecedores”, lamenta.

O líder da PRO.VAR diz ainda que muitos dos apoios financeiros concedidos em 2020 e 2021 ainda não chegaram na totalidade às empresas.

Em conclusão, o líder da Associação Nacional de Restaurantes assegura que, “agora sim, está criada a condição para uma grande parte da restauração começar a encerrar portas e a haver despedimentos em massa”.

“Recebemos mensagens todos os dias de pessoas que atiraram a toalha ao chão”, remata.

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