26 out, 2021 - 23:00 • Rosário Silva
A derrocada para o interior de duas pedreiras, de um troço da estrada municipal 255, que liga Borba a Vila Viçosa, com a morte de cinco pessoas, em 2018, alterou para sempre “o paradigma da zona dos mármores”.
É a convicção manifestada por Nelson Cristo, da ASSIMAGRA, no inicio, em Évora, do Congresso Internacional “Mármore do Alentejo: da História ao Património”.
“A 19 de novembro, faz três anos do trágico acidente, foi fatídico, e não tenho dúvidas que veio mudar” aquilo que era o paradigma da zona dos mármores”, considera o responsável da associação que representa da Indústria Portuguesa dos Recursos Minerais.
A importância do sector dos mármores para o desenvolvimento social e económico da região do Alentejo e o valor estratégico deste recurso natural para Portugal, estão, de resto, no epicentro deste congresso, organizado pelo Centro de Estudos de Cultura, História, Artes e Patrimónios - CECHAP.
“O caso da Indústria Portuguesa no Mercado Global das Rochas Ornamentais” é o subtema desta iniciativa que reúne dezenas de investigadores, nacionais e estrangeiros, num fórum de discussão sobre a história e o futuro do mármore.
Na sua intervenção, Nelson Cristo admitiu que “muito que já foi feito”, quer em termos de conhecimento geológico, quer em termos de planeamento, porém, “ao nível local”, há ainda muito para fazer.
“Continuamos a carecer de uma coisa que é fundamental, o envolvimento dos próprios industriais no planeamento micro, no falar com os vizinhos, no aproximar de forma colaborativa”, afirma, “e não demostrar apenas disponibilidade, mas que essa disponibilidade seja efetiva no terreno, para que as coisas possam acontecer”.
O responsável da ASSIMAGRA diz mesmo que, “é preciso na zona dos mármores, deixarmos ter pequenas covas de berlinde para termos áreas mais amplas que facilitem o acesso à matéria-prima, que facilitem os trabalhos de quem lá está a explorar, que melhorem as condições de segurança de quem lá trabalha e até das próprias populações”.
Para ajudar neste “trabalho mais micro”, a associação aposta na criação de comissões de gestão para ajudar as empresas “a planear de forma integrada”, atendendo “às particularidades de cada núcleo e de cada território”, num trabalho “concertado com todas as entidades para transformar o paradigma dos mármores”.
“Mesmo antes do acidente de Borba, a zona dos mármores já não tinha o fulgor económico de outros tempos”, sublinha, recordando que “têm lá todo potencial geológico com viabilidade económica e nós temos que alterar este paradigma, para que voltemos a ter o fulgor que a região merece”.
Nelson Cristo defende, por isso, “um planeamento integrado”, dando “corpo e estrutura a estas comissões de gestão, para que aconteçam de forma regular e possam ajudar a captar investimento tão necessário para a região”.
O Congresso Internacional “Mármore do Alentejo: da História ao Património. O caso da Indústria Portuguesa no Mercado Global das Rochas Ornamentais”, acontece no âmbito da 3ª fase do projeto PHIM - Património e História da Indústria dos Mármores.
Iniciado em 2012, o estudo sobre o PHIM, segundo a CECHAP, procura “contribuir fortemente para criação de uma nova narrativa de matriz cultural”, e, através do “conhecimento histórico e patrimonial, e da sua difusão”, alavancar “o turismo cultural na geografia do Anticlinal (concelhos de Borba, Estremoz, Sousel e Vila Viçosa) e nos municípios limítrofes”.
Neste congresso, que decorre até quarta-feira, dia 27, na cidade de Évora, os promotores procuram intensificar “o diálogo entre a ciência, os atores da economia das rochas ornamentais, os decisores políticos e a sociedade civil em geral”, aproveitando o conhecimento do passado, mas perspetivando o futuro desta indústria através de novas abordagens.
Organizado em diversos painéis, compreende áreas que vão desde a Arqueologia e Geologia, à História, nas vertentes da Arte e Património, da Economia e do Direito. Motivo de abordagem, são também as preocupações nos domínios do recurso mármore, as questões sobre a paisagem, a sustentabilidade e conservação do património, a preservação da memória coletiva, a inovação e a criação artística.
Por outro lado, pretende-se destacar a importância dos mármores do Alentejo, enquanto “recurso natural, utilizado pelo homem ao longo da sua história”, refletir “perante os desafios colocados em cada um dos seus momentos cíclicos, áureos ou de declínio”, e a necessidade da sua “reinvenção perante futuros desafios económicos e sociais”.