07 mai, 2018 - 12:00 • Rui Barros
Pode dizer-se que "Amar pelos dois" é um caso raro entre todas as canções que venceram o festival Eurovisão nos últimos 20 anos. Isto porque é triste - e não há muitas assim.
Uma análise feita pela Renascença a cerca de 70% das músicas que chegaram às finais do festival, com base nos dados do serviço de música "Spotify", mostra que a música composta por Luísa Sobral e que valeu a Portugal o primeiro lugar na edição de 2017 do concurso foi, até hoje, a mais triste da competição.
Há de tudo num festival em que a música é quase sempre pensada para se enquadrar na espetacularidade que a televisão exige, dos habituais fogos de artifício até ao ano em que os finlandeses da banda de heavy metal Lordi venceram.
A grande maioria das músicas enquadra-se, por isso, nos géneros mais energéticos possível - ou são músicas “zangadas” ou “felizes”.
De acordo com a classificação baseada nos dados do popular serviço de streaming - que atribui um valor de “intensidade” e “positividade” a cada uma das músicas - a felicidade é o sentimento que mais prevalece entre as músicas que chegaram à final da Eurovisão: 46% delas estão associadas a esse sentimento, seguidas de músicas “zangadas” (37%) e, finalmente, “tristes” (14%).
O mais raro nas finais da Eurovisão dos últimos 20 anos é encontrar músicas "relaxadas" - só quatro podem ser classificadas como tal. À cabeça: "Tomorrow", do maltês Gianluca Bezzina, que acabou em quarta lugar na edição de 2013.
No extremo oposto estão “What about My Dreams?”, da húngara Kati Wolf, e “This is my life”, da islandesa Euroband. As duas músicas são as que estão mais próximas daquilo que o Spotify interpreta como sendo uma música "zangada" - ainda que a maior parte das canções nesta categoria registem baixos valores deste sentimento.
O expoente da felicidade eurovisionária parece ser a música que Andy Abraham, do Reino Unido, levou em 2008 a Belgrado. O modesto 25.º e último lugar da música cheia de ritmos e batidas soul não animou a participação do músico de 52 anos, mas hoje vale-lhe o prémio de música mais animada dos últimos tempos no festival.
“Douze Points!” ou “Twelve Points?”
A expressão "Douze Points" (doze pontos, em francês) já é um clássico da Eurovisão. Ficou no ouvido desde que o Luxemburgo recebeu essa pontuação máxima, há 40 anos. Com a nova edição do festival organizada em Lisboa, este ano o festival é tudo menos francófono.
Os dados recolhidos e analisados pela Renascença são inequívocos: apesar de só o Reino Unido, Austrália (sim, a Austrália participa desde 2015) e Malta terem o inglês como língua oficial, três em cada cinco músicas que chegaram à final nos últimos 20 anos foram cantadas em inglês. Esse valor cresce para quase 72% se considerarmos as músicas que combinam inglês com outra língua.
No pódio das línguas que sobem ao palco da música europeia, o inglês surge acompanhado do francês, do espanhol e, em quarto lugar, do português.
E se acha que Portugal canta muitas vezes em inglês, está bastante enganado: das nove vezes em que Portugal chegou à final, entre 1997 e 2017, todas foram cantadas em português, à excepção de “Deixa-me Sonhar (só mais uma vez)”, de Rita Guerra, que combinou português e inglês - e que rendeu ao país o 22º lugar.
Os campeões da “anglofilia” são os suecos e os alemães. Nas vinte participações que os dois países assinaram, os suecos só não cantaram em inglês duas vezes, em 1997 e 1998; já os alemães só deixaram o inglês de lado três vezes.
Amor à inglesa
Na hora de tentar conquistar os corações - e os ouvidos - dos espectadores, nem só a língua ajuda.
As palavras importam e "love" ("amor", em inglês) é aquela que os cantautores mais têm repetido nos títulos das suas músicas nos últimos 20 anos.
Na dúvida, o melhor é mesmo fazer como a Roménia fez em 2007, quando conseguiu ir à final com "Liubi Liubi, I love you", uma canção que combinava inglês, italiano, espanhol, russo, francês e romeno.