Ranking das Escolas 2022

Grande Colégio Universal lidera ranking das escolas. "Não somos uma máquina de montagem para exames"

16 jun, 2023 - 00:00 • André Rodrigues

Com 900 alunos, o Grande Colégio Universal saltou do 11.º lugar em 2021 para a liderança do Ranking das Escolas 2022. Diretor pedagógico assegura que o primeiro lugar "não é um objetivo em si mesmo". O importante, diz Rui Brito, é "dar aos alunos ferramentas para que possam ser livres para decidir o que querem para o seu futuro".

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O ruído é o habitual no recreio de uma escola, com centenas de crianças do pré-escolar ao 12.º ano que brincam durante o intervalo de almoço.

Rui Brito, o diretor pedagógico do Grande Colégio Universal, abre as portas da escola fundada em 1910, no cimo da Rua da Boavista, no Porto, paredes meias com o antigo Casão Militar e a dois minutos da estação de Metro da Lapa, “que é a melhor forma para chegar aqui”.

Depois do 11.º lugar de 2021, o estabelecimento, hoje com cerca de 900 alunos, alcançou a liderança do Ranking das Escolas 2022.

“É uma simplificação da realidade”, admite Rui Brito à Renascença, sem valorizar em demasia a classificação obtida por considerar que há “alguns elementos por trás do ranking que não são ponderados e dificilmente serão mensuráveis”.

Contudo, o salto de 10 lugares para a liderança, entre 2021 e 2022, “é um orgulho” e foi construído durante os anos da pandemia, num contexto em que o sucesso terá sido, eventualmente, mais difícil de alcançar.

Qual foi o segredo? “Adaptabilidade e resiliência, que são características distintivas do colégio”, responde sem hesitações.

“O trabalho de acompanhamento nestes anos específicos exigiu resiliência e o Colégio esteve à altura desses tempos. Isso comprova-se com os resultados obtidos, independentemente do lugar em que ficamos no ranking.”

“Não somos uma máquina de montagem para os exames”

Rui Brito insiste que o primeiro lugar do ranking “não é um objetivo em si mesmo”.

“Não podemos correr o risco de pensar que ficámos em primeiro lugar no ranking e que somos uma máquina de montagem para exames”.

Para o diretor pedagógico do Grande Colégio Universal, esse é um cenário irrealista.

“Podemos não ficar em primeiro lugar, se calhar não ficaremos. Mas nós também não somos uma máquina de montagem para os exames. Contudo, ficarei extremamente satisfeito se, quando saírem os resultados nacionais, sentir que os objetivos dos nossos alunos foram atingidos, independentemente de ficarmos no primeiro, no 10.º ou no 20.º lugar.”

A liberdade para os alunos poderem decidir o que querem para o seu futuro é a maior prioridade, “independentemente do curso superior que queiram tirar", assegura. "No fundo, é dar aos alunos as ferramentas para que eles possam ser livres para decidir o que querem para o seu futuro."

“Se há colégios que se orgulham das suas turmas de Medicina, aqui os alunos não estudam muito porque querem ir para Medicina. Eles estudam muito, porque querem ir para Medicina, querem ir para Engenharia, querem ir para Arquitetura e nós estamos cá para ajudá-los a construir as suas histórias de sucesso”, assegura.

“Não me ignoram nos corredores”

Mariana frequentou a escola pública até ao 11.º ano. Mudou-se para o Grande Colégio Universal neste ano letivo, para terminar o ensino secundário.

“Sinto que já estou aqui há anos, é uma segunda casa para mim”, reconhece a aluna do 12.º ano, candidata à colocação em Medicina -- "por acaso é Medicina, mas podia não ser". Para Mariana, fundamental é que "a escolha não esteja condicionada pelas notas".

Questionada sobre a mudança do público para o privado, Mariana argumenta que a escola onde andava não conseguia dar resposta às preocupações que tinha em relação ao seu futuro.

O que mais a marcou foi a diferença na forma como professores e funcionários interagem com os alunos.

“Aqui as pessoas sabem quem eu sou, conhecem a minha história, tenho um nome, dizem-me ‘bom dia’, não me ignoram nos corredores, não sou mais um número… sou considerada uma pessoa.”

Carolina valida esta versão, com experiência de causa. Foi finalista do Grande Colégio Universal no ano passado e frequenta agora o primeiro ano de Engenharia Informática no Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP).

Um dia, sonha desenvolver software, mas reconhece que ainda tem um longo caminho pela frente, numa área que lhe dá múltiplas possibilidades de saída profissional.

Quando recorda o tempo em que foi aluna do Grande Colégio Universal, é inevitável lembrar que passou por aqui “do pré-escolar ao 12.º ano”.

“Foi a minha vida toda”, recorda com saudade. E é por isso que regressa, sempre que pode. “Traz-me boas emoções. Eu sempre andei aqui desde criança, por isso estar aqui é bastante natural para mim”, admite.

Sobre o método para orientar os alunos para o futuro, Carolina recorda que “sempre que a conversa era sobre obter bons resultados em exames e em testes, era sempre com o intuito de nos motivar para os melhores resultados, para que nós pudéssemos escolher depois, no futuro, o caminho que queríamos seguir”.

Será essa a receita para liderar um ranking de escolas? Joana Correia, professora de Português há 26 anos, diz que “não há segredos nem receitas” e que o caminho para o sucesso é conhecido, “só tem de ser aplicado e a nossa gestão, a nossa dinâmica, são diferentes”.

E dá um exemplo: “Nós não temos os tradicionais diretores de turma; temos coordenadores de ano, que acompanham os alunos do 5.º ao 12º ano. São pessoas que vão ter um conhecimento muito alargado do aluno, não só a nível académico, mas também a nível pessoal”.

Por outro lado, “os professores também conversam com os alunos, conhecem os objetivos deles e passa a ser um compromisso, não apenas deles, que tentam fazer o melhor possível, mas também nosso, para orientá-los da melhor forma”.

Adaptação à pandemia demorou um dia

É uma filosofia pedagógica que Rui Brito diz que “dá confiança às famílias”, tal como também aconteceu no auge da crise sanitária da Covid-19.

Quando a vida coletiva foi surpreendida pela emergência do confinamento, a generalidade do sistema educativo não tinha uma resposta imediata para dar continuidade às atividades letivas. Mas no Grande Colégio Universal, "demorou um dia", diz o diretor pedagógico.

Como é que isso foi conseguido? “Quando a Covid chega a Itália [em meados de fevereiro de 2020], nós percebemos que está mesmo aqui ao lado e que seria pouco tempo até que também nós tivéssemos de nos sujeitar a um confinamento.”

Antecipando o que acabaria por acontecer, Rui Brito conta que foi encontrada, "atempadamente, uma plataforma digital que passámos a utilizar para as aulas à distância”.

Nuno Maio, professor de Biologia e Geologia, foi um dos coordenadores da formação ministrada ao corpo docente da escola e ainda guarda na memória a cronologia dos factos.

“O anúncio para fechar foi a 13 de março, que era uma quinta-feira, tivemos de fechar na sexta-feira, e nesse dia já estivemos aqui no colégio a dar formação aos restantes professores para conseguirem trabalhar com a plataforma de ensino à distância. Na segunda-feira, horário normal, tínhamos os alunos a ter aulas em casa.”

Enquanto isso, “quase toda a gente estava parada, à espera de ter ferramentas que permitissem iniciar o ensino à distância”.

Nuno Maio lembra que, no início, “não tínhamos a forma correta para fazer a transição, mas fomos adaptando”.

“Cada aluno é uma história… e eu sei o nome de todos”

A chave é a comunicação e a proximidade e Rui Brito reconhece que, para tal, “ter uma boa memória é meio caminho”.

Antes de assumir as funções de diretor pedagógico a tempo inteiro, foi professor de Economia até 2020.

Parece pouco tempo, mas três anos sem dar aulas é tempo demais para ficar no gabinete sem perceber as dinâmicas em sala de aula, sem ver como evoluem os interesses dos alunos.

“Há 10 anos, os alunos viam o Facebook, há quatro anos viam o Instagram, agora estão no TikTok. Deixámos de ter texto, passámos a ter imagem e agora temos movimento. Se nós perdemos aquilo que são as perspetivas e os interesses dos nossos alunos, o colégio desenquadra-se da realidade.”

Dos 900 alunos do Grande Colégio Universal do Porto, Rui Brito tem a seu cargo cerca de 600, entre o 5.º e o 12.º ano. “Cada aluno é uma história e eu sei o nome de todos", remata.

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  • Isabel
    18 jun, 2023 Porto 17:38
    Neste colégio selecionam para ficar apenas os alunos muito bons. Os médios, indiretamente, são convidados a sair. Nas escolas públicas não selecionam apenas os melhores...
  • Petervlg
    16 jun, 2023 Trofa 09:58
    Querem fazer ranking justos, coloquem os alunos dos colégios a fazerem os exames no publico e vejam as medias.

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