Reportagem

Porto Design Biennal 2023. A água como elemento que liga objetos, territórios e povos

19 out, 2023 - 08:00 • João Malheiro

A Renascença visitou duas exposições que vão ser inauguradas ao público e falou com os curadores responsáveis.

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A Porto Design Biennal 2023 vai levar a espaços culturais de Porto e Matosinhos 11 exposições.

O tema desta edição tem o nome "Ser Água: Como Fluímos e nos Moldamos Coletivamente" e realça as temáticas do Ambiente e dos recursos climáticos.

O evento arranca a 24 de outubro , depois do mau tempo ter levado a um adiamento da data original.

A Renascença esteve presente na apresentação do evento, que decorreu no Reservatório do Museu do Porto e que contou com a presença dos autarcas de Porto e Matosinhos.

O presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, realça que esta edição da Biennal "é a consolidação enquanto projeto que une dois municípios muito próximos".

"Com a Biennal, Porto e Matosinhos assumem um compromisso. Esta edição consubstancia os princípios fundadores da Biennal. É um tema muito atual e muito preocupante", realça.

O autarca destaca também "um programa interdisciplinar" que consegue "criar pontes entre territórios".

Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Luísa Salgueiro, presidente da Câmara Municipal de Matosinhos Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Luísa Salgueiro, presidente da Câmara Municipal de Matosinhos Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR

Já a presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro, refere que a Porto Design Biennal "é um compromisso político com o design enquanto fator estratégico de identidade e afirmação dos dois municípios".

"Este ano, entenderam que o tema principal devia ser a água. Penso que é facilmente percetível pela importância da água nas nossas vidas individuais e coletivas, quer à escala global e à escala municipal", aponta.

Luísa Salgueiro acredita, ainda, que "a aposta na Biennal vai permitir-nos a chegar a outros públicos" e garante estar ciente da obrigação "de termos os nossos recursos de água nos mais altos níveis de qualidade".

À Renascença, o curador-geral da Porto Design Biennale 2023, Fernando Brízio, conta que enquanto artista trabalha os vários conceitos da água desde que é estudante. Não obstante, "a razão mais importante" para a escolha do tema para esta edição é "o momento que vivemos".

O responsável realça "os longuíssimos períodos de seca, os usos errados da água, o desperdício e a usurpação", como alguns dos fatores que marcam a escassez cada vez mais frequente.

"Em 2030 deverá haver um défice de 40% de água em relação à procura. Como podemos cuidar do que não conhecemos bem?", questiona.

Desta forma, as várias exposições da Biennal podem ser uma forma de "mostrar os vários sítios da água, onde ela está" e, no fundo, "melhorar a literacia em relação à água".

Fernando Brízio considera que a Biennal deve mesmo "revelar outras dimensões que nos são desconhecidas" no que toca a um bem tão essencial para o ser humano.

As ligações fundamentais da água

É também esse o intuito da exposição do próprio curador-geral do evento: o trabalho "Petrichor, O Cheiro da Chuva", que arranca às 17h00, dia 24 de outubro, na Casa do Design, em Matosinhos.

Em visita antecipada, o autor diz à Renascença que se trata "de um mini-roteiro" de todo o trabalho de pesquisa que realizou para a Biennal.

Fernando Brízio incluiu na exposição alguns dos elementos que também usou para construir o texto que serviu de base para a curadoria da edição deste ano.

"Não me interessava só recolher informação que tivesse a ver com palavras e texto. Interessava-me também informação que tivesse a ver com soluções e sistemas", refere.

A expressão "Petrichor" (petricor em português), vem do grego e refere-se ao cheiro que é produzido quando gotas de água entram em contacto com solo seco. Este contraste entre o solo árido e a água que o volta a fertilizar serve de lançamento para uma exposição que pretende demonstra as diversas utilidades da água.

O propósito do trabalho de Fernando Brízio é "sublinhar a ubiquidade da água, a sua presença e circulação, enquanto elemento fulcral de ligação entre todas as coisas".

É, por isso, possível encontrar na Casa do Design um conjunto de objetos que, à partida, não têm ligação entre si, até que se identifica a presença da água no seu propósito. Há canoas, pedaços de lã que pretendem alertar para a desvalorização e ameaça de raças de ovelha, algumas delas pertas da extinção, em Portugal, equipamento submarítimo e até o célebre registo em vídeo de Marcelo Rebelo de Sousa, na altura candidato à autarquia de Lisboa, em 1989, a mergulhar no rio Tejo para falar da poluição do mesmo, acabando por apanhar hepatite B.

"Há uma intenção divertida, mas também está aqui porque o Presidente da República está a fazer uma avaliação da água e dos danos que foram feitos", esclarece o curador-geral da Biennal.

Exposição "Petrichor, O Cheiro da Chuva" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Exposição "Petrichor, O Cheiro da Chuva" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Exposição "Petrichor, O Cheiro da Chuva" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Exposição "Petrichor, O Cheiro da Chuva" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Exposição "Petrichor, O Cheiro da Chuva" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Exposição "Petrichor, O Cheiro da Chuva" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Exposição "Petrichor, O Cheiro da Chuva" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Exposição "Petrichor, O Cheiro da Chuva" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR

Do passado ao futuro da Galiza

Em todas as edições, há um país que é convidado a participar na Porto Design Biennal. Desta vez, a região da Galiza foi a escolhida.

A decisão, curiosamente, foi tomada previamente à escolha da água enquanto tema do evento, segundo conta Fernando Brízio à Renascença. Contudo, "é uma escolha brilhante" para o curador-geral.

"Quando comecei a trabalhar vi que a separação entre água e terra não existe, está sempre em mutação. A fronteira também não existe. Os rios que ligam Portugal e Espanha são raízes interligadas", refere.

Este convite manifesta-se na exposição "Galiza. Processos e Formas", com a curadoria de David Barro, que será inaugurada às 18h00 de 24 de outubro, na Galeria Municial de Matosinhos.

Numa visita antecipada, o responsável do trabalho diz à Renascença que pretende "contar a minha história do que é o passado, o presente e o futuro" do design galego.

"É uma história em constante mutação, não é estático, é uma construção que vem da Saudade, do misticismo e da ideia que temos do próprio território", explica.

David Barro reuniu elementos que atravessam o século XX e as décadas da ditadura espanhola, porém que demonstram uma coesão identitária que, no fundo, são a expressão de um território e de uma população muito particular dentro do que é Espanha.

Nesta viagem do tempo a água continua a ser componente essencial. "Em Galiza, chama o Atlântico" cita o curador, para expressar o significado da dureza e dos riscos do mar e, igualmente, o seu papel enquanto recurso indispensável.

Ideias que estão ligadas de forma muito semelhante à realidade do norte litoral de Portugal. David Barro acredita que "a conexão galega e da região norte portuguesa é mais intensa do que com Castela".

"É uma relação histórica, emocional e de território, incluindo um rio. Nesse sentido, qualquer que seja a ligação, Galiza e Portugal podem estar a falar o mesmo idioma, como no nosso passado", aponta.

[Atualizado com a nova data de inauguração do evento]

Exposição "Galiza. Processos e Formas" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Exposição "Galiza. Processos e Formas" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
David Barro, curador da Exposição "Galiza. Processos e Formas" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
David Barro, curador da Exposição "Galiza. Processos e Formas" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Exposição "Galiza. Processos e Formas" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR
Exposição "Galiza. Processos e Formas" da Porto Design Biennal 2023 Foto: João Malheiro/RR

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