375 anos da coroação da Padroeira de Portugal

D. José Ornelas: “Sem Deus, o mundo caminha para a autodestruição”

27 mar, 2022 - 19:40 • Rosário Silva

No Santuário de Vila Viçosa, foi lida uma mensagem do Papa Francisco, enviada propositadamente para a missa de encerramento das comemorações dos 375 anos da coroação de Nossa Senhora da Conceição como Padroeira e Rainha de Portugal.

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O Papa Francisco invocou este domingo a bênção apostólica para “todos, especialmente os que vivem atribulados por algum mal”, no inicio da eucaristia que encerrou o Ano Jubilar, dedicado aos 375 anos da coroação de Nossa Senhora da Conceição, como Padroeira e Rainha de Portugal.

Numa mensagem lida pelo núncio apostólico em Portugal, o arcebispo D. Ivo Scapolo, o Papa recordou que "a promessa da vitória do amor de Cristo” está “na misericórdia do Pai”, sendo a Virgem Imaculada, “testemunha privilegiada desta promessa e do seu cumprimento”.

“Diante do anúncio do anjo, não esconde a sua admiração por ter sido escolhida”, afirmou, “pois não vive nos palácios do poder e da riqueza, não realizou feitos extraordinários”, mas “está disponível para Deus, sabe confiar Nele, mesmo não entendendo tudo”.

O texto de Francisco, apresentado no Santuário nacional de Vila Viçosa, lembrou aos presentes que Deus surpreende-nos sempre, rompe os nossos esquemas, põe em crise os nossos projetos e diz-nos: “Confia em mim. Não tenhas medo. Deixa-te surpreender. Sai de ti mesmo e segue-me”.

Aos participantes pediu ainda que se “deixem surpreender como fez Maria”, façam do Rei D. João IV, um exemplo de vida a imitar e “não voltem a envergar a coroa do próprio reino, mas deixem aos pés de Maria as próprias seguranças, os próprios projetos, os próprios revezes. Seja Ela, a Senhora da própria casa e do próprio ser”.

“Quanto precisamos de aprender com os nossos maiores!”, escreveu, Francisco, questionando: Porventura, não nasceu Portugal em territórios que já então dava pelo nome de Terra de Santa Maria? Pois bem, os filhos da Terra de Santa Maria, hão de mostrar que nunca esquecem e que, a Ela se devem, em grande parte, as glórias do passado”.

“Portugal, destes novos mundo ao mundo. Deverás dar estes mundos a Deus”, pediu, o Santo Padre.

E, de Portugal para o mundo, a situação que se vive na Ucrânia mereceu também a reflexão de Francisco: “Nestes dias tristes de guerra sem fim, com um rasto incomensurável de vitimas inocentes e a negação cruel dos princípios da fraternidade universal, apresentemo-las ao Pai, com a intercessão de Maria, a garantia personificada da esperança de que a Humanidade obterá a completa comunhão com Cristo, na glória da ressurreição”.

“É preciso voltar às nossas raízes”

A situação na Ucrânia foi, de resto, um dos pontos da homilia de D. José Ornelas que presidiu á celebração eucarística.

“O mundo não é dom, mas então torna-se objeto de conquista, açambarcamento, de conquista, de luta, até à guerra e destruição da própria terra. E, mesmo que se consigam períodos longos de paz e realizações cada vez mais espetaculares da ciência e do progresso, será sempre limitado ao caráter finito do mundo e do cosmos”, afirmou, o bispo de Leiria-Fátima.

“Sem Deus, o mundo caminha para a autodestruição, seja pela sua precariedade natural, seja pela desagregação, a violência, a corrupção dos próprios seres humanos. Veja-se o que está acontecendo, neste momento na Ucrânia. É precisamente o contrário da “Cheia de Graça”.

Na celebração em honra de Nossa Senhora, o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) levou aos presentes a imagem de Maria com o Filho ao colo.

“Não me parece desapropriado ver essa imagem de Maria com o Filho morto nos braços, espelhada hoje, nos nossos dias, nas mães grávidas e parturientes, vitima de iniquo bombardeamento de uma maternidade em Mariupol, na Ucrânia, nos nossos dias de hoje”, lamentou.

Na homilia, D. José Ornelas lembrou o passado glorioso de Portugal, para firmar a necessidade de se “voltar às nossas raízes e reconhecer de onde nascemos e a matriz da fé e dos seus governantes de então”, o que “não significa parar no tempo, nem afirmar o nacionalismo ideológico, fechado e conflituoso”.

“Pelo contrário”, prosseguiu, “é afirmar os elementos da nossa unidade, forjada no devir da História, integrada nos valores fundamentais que nos caraterizam de forma nova e criativa, no hoje em que vivemos, como um trampolim de projeto novo de futuro”.

Mais do que nunca, é preciso “voltar à tradição e proclamação da Imaculada, mas com “caráter de releitura hermenêutica e atualizadora”, pois só assim, mencionou, a “História não será um fator de imobilismo congelador, mas um processo de fidelidade dinâmica áquilo que se celebra”.

E a celebração deste 25 de março de 2022, “não está em 1646”, mas sim em “Maria de Nazaré, a Mãe de Jesus, a quem o mensageiro de Deus se dirige com uma saudação exultante”.

Identificar Maria como Imaculada, acrescentou o presidente da CEP, “não revela imediatamente toda a abrangência da saudação “Cheia de graça”, do Anjo, mas responde diretamente à precariedade da humanidade quando dela desaparece essa graça, quando Deus não está presente”.

Quando isso acontece, remata o bispo de Leiria-Fátima, “a lei fundamental não é o cuidado do outro e do mundo, mas a lei do mais forte, a lei do domínio sobre os outros, esse é o espirito do mal”.

“Deus é o limite para o progresso e a plena realização humana. Esse é o espirito que conduz ao medo de Deus e até ao desejo de Vê-lo fora da própria vida e da sociedade, dos projetos e do futuro. Mas, sem Deus, Criador e Pai, não há fraternidade”, declarou.

Já a terminar, numa alusão ao evangelho, a Parábola do Filho Pródigo, D. José Ornelas sublinhou que a Igreja, tem de ser lugar de acolhimento para todos, a começar pelos que mais sofrem e pelos pecadores.

“Dentro da Igreja, há filhos e filhas que não entendem o amor do Pai e abandonam a casa em busca de uma liberdade e de uma felicidade ilusórias. Outros, numa atitude hipocritamente justiceira e punitiva, acham desapropriada, injusta e até ofensiva, a atitude acolhedora e de festa do Pai pelo regresso de um filho ingrato e esbanjador. Muitos discursos fazem-se neste tom, hoje em dia”, concluiu.

Além das autoridades civis e militares, marcou presença, este domingo, na cerimónia, presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Esteve também patente a exposição “Três Coroas, a mesma Padroeira”, com as coroas de Nossa Senhora da Conceição, de Vila Viçosa, Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora do Sameiro, Braga.

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