25 out, 2023 - 10:06 • André Rodrigues
O chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal diz não compreender a reação do seu homólogo israelita às mais recentes declarações de António Guterres sobre o conflito entre Israel e o Hamas.
Em Nova Iorque, perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas, Guterres insistiu na condenação ao ataque do Hamas, a sete de outubro, lembrando, contudo, que essa ação não surgiu do nada, fazendo uma alusão direta a 56 anos de ocupação de Gaza.
Na reação, em entrevista à Renascença, o embaixador israelita em Lisboa classificou estas declarações como "vergonhosas".
Nabil Abuznaid, o representante diplomático da Palestina em Portugal, contrapõe e diz não compreender a perspetiva de Israel.
"Não entendo. O senhor Guterres condenou o Hamas, mas gostaria que o mundo compreendesse que existe um conflito entre os palestinianos e os israelitas. É tudo o que ele disse", refere à Renascença o responsável palestiniano.
"Não há razão que justifique que haja pessoas sob ocupação, privadas da sua vida, da sua liberdade", acrescenta o diplomata.
Questionado sobre se esse argumento é suficientemente razoável para justificar a ação dos militantes palestinianos, Nabil Abuznaid defende que "nada justifica mortes dos dois lados" e que "tudo isto está errado".
"Este é um problema sério que ninguém resolveu em 56 anos e a frustração das pessoas tem limites", remata.
Guerra Israel-Hamas
Rita Dieb é de Beirute há quase 20 anos, desde que(...)
Perante a escalada de provocações e trocas de tiros entre Israel e o Hezbollah, na fronteira sul do Líbano, o alastramento da guerra entre Israel e o Hamas é uma possibilidade com riscos potencialmente devastadores.
"Ninguém no mundo ficaria imune a este conflito", alerta Nabil Abuznaid que diz estar "muito preocupado com mais destruição, mais mortes e com o fim da esperança de todas as pessoas da região de poderem, um dia, viver em paz".
"As coisas estão a tornar-se muito perigosas. E não há muitos líderes a tentar impedir isso", critica.
Esta quarta-feira, um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alerta que, em 18 dias de guerra no Médio Oriente, terá morrido uma média de, pelo menos, 400 crianças todos os dias.
Para Nabil Abuznaid, é um número demasiado ilustrativo da situação enfrentada por uma geração de palestinianos que "poderão nunca ter uma oportunidade de ser alguém na vida".
"Ontem ouvi na televisão um repórter perguntar a um menino palestiniano em Gaza: “o quê que gostarias de ser quando fores grande?" Ele disse: "infelizmente, somos palestinianos; não sei se um dia vou conseguir crescer e ser alguém".
"Alguém imagina o que é crescer assim?", termina o embaixador da Palestina em Portugal.