18 out, 2023 - 11:11 • André Rodrigues
A visita de Joe Biden a Israel pretende "marcar o terreno político-militar, de solidariedade com Israel, contendo, por outro lado, os excessos que possam levar, no pior cenário, ao desencadear de um conflito mais alargado".
A tese é de José Pedro Teixeira Fernandes, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais.
Em declarações à Renascença, no dia em que o Presidente dos Estados Unidos inicia uma ronda de visitas ao Médio Oriente - no quadro da guerra desencadeada pelos ataques do Hamas em solo israelita a 7 de outubro - este especialista em política internacional admite que a anunciada operação terrestre das forças israelitas em Gaza trará uma "situação muito delicada do ponto de vista humano, com enorme sofrimento humano das populações palestinianas", o que pode, no limite, tentar o Irão e os grupos paramilitares aliados a envolver-se de forma mais direta no conflito. .
Daí que Teixeira Fernandes conclua que, para além da solidariedade com Israel e do discurso preventivo face a eventuais excessos de força contra civis, Biden "quererá dar um sinal muito claro ao Irão e aos seus aliados", ao mesmo tempo "quererá fazer um balanceamento diplomático muito delicado que é apoiar Israel, mas manter os países árabes diplomaticamente mais ou menos também do lado da normalização.
Nos últimos dias, Teerão admitiu que as milícias do Hezbollah estariam a ponderar uma ação preventiva, caso Israel mantivesse o cerco e os bombardeamentos a Gaza.
Não sendo um cenário a excluir, o investigador do IPRI acredita que, "pelo menos nesta fase, isso fará parte de um jogo de ameaças políticas, de pressões sobre o outro lado na opinião pública... não podemos ignorar isto, pode acontecer, mas não é assim tão simples também o Irão se envolver mais diretamente nisto".
Guerra Israel-Hamas
O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud A(...)
Além disso, continua Teixeira Fernandes, "se o próprio Hezbollah se envolver, provavelmente isto vai, de maneira imediata, abrir uma segunda frente de batalha. O resultado óbvio seria a destruição do Líbano".
Há, ainda, um terceiro aspeto a te rem conta por Teerão: "se começa a fazer esta escalada, não faltarão estados com vontade que haja uma retaliação militar sobre o Irão, por causa do seu programa nuclear que, desde logo, é muitíssimo mal-aceite pelos estados árabes, a começar, desde logo pela Arábia Saudita".
No entanto, José Pedro Teixeira Fernandes alerta para um cenário limite em que tudo isto pode mudar.
"Ou o avanço da operação militar israelita mostra um impacto enormíssimo, do ponto de vista do sofrimento dos palestinianos; ou um sucesso muito grande de Israel, erradicando o Hamas... nesse cenário, o Irão não quer perder um aliado no terreno e, portanto, tentar, também, por essa razão, a fazer algum tipo de intervenção. Mas ainda não estamos aí".
Esta é, ainda, a fase da retórica e da diplomacia e que, para este professor universitário, também estará a contribuir para o adiamento da ofensiva terrestre israelita em solo palestiniano.
"É um dos grandes méritos da diplomacia norte-americana, para conter, por agora, a intervenção militar, dando mais tempo à população para fugir para a parte sul de Gaza. Provavelmente, isto está a ser feito em colaboração com o Egito, abrindo a fronteira", assinala.
"Só iremos perceber melhor nos próximos dias o que é que vai ser este tipo de manobra militar.
Neste momento, assistimos a uma pausa, precisamente por causa desta diplomacia de bastidores", conclui.
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