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Mais um deputado eleito por Setúbal. "É só mais um. É mais um tacho"

06 mar, 2024 - 10:30 • João Cunha

A subida de eleitores recenseados fez com que Setúbal tivesse ganho mais um mandato nas próximas eleições legislativas. Passam a ser dezanove. Os residentes nos concelhos que mais contribuíram para essa alteração acham que ter mais um deputado na Assembleia eleito por Setúbal não vai fazer qualquer diferença.

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A euforia dos pássaros na praça central de Alcochete, às primeiras horas da manhã, quase abafa o sino da Igreja Matriz. O único movimento, àquela hora, é o das carrinhas de duas padarias ali nas proximidades, o dos clientes e o de alguns funcionários da autarquia que começam a chegar aos Paços do Concelho, que ficam ali a uns metros.

Susete Lúcio segue para casa com o pão fresco da manhã. Não acredita que mais um deputado na Assembleia, eleito por Setúbal, faça diferença. "Não muda concretamente nada. É só mais um", diz.

Acompanhada por um colega, também ele funcionário da autarquia, Idalina Bravo acha que "mais um deputado só vai atrapalhar".

"Quantos mais são menos fazem. Portanto, acho que os que cá estão chegavam. Não faz sentido. É mais um tacho que vem para aí que não nos vem fazer bem nenhum."

Ali ao lado, na Praça de São João, José Carlos está com dificuldades em puxar a trela do cão, durante o primeiro passeio do dia. "Eu acho que não vai fazer nada. É tudo mais do mesmo. O fado é o mesmo. É mais um tacho", atira, puxando energicamente pela trela.

Para além do aumento da população residente em Alcochete, também o concelho do Montijo contribuiu para a subida de eleitores recenseado no círculo eleitoral de Setúbal, que consegue mais um mandato nas próximas eleições.

Maria Sousa acaba de chegar ao Cais do Seixalinho, onde está o Terminal Fluvial do Montijo. É uma mulher do Norte, cuja procura por melhores condições de vida a levou a aceitar um trabalho em Lisboa.

"Lisboa está impossível no que se refere a rendas. Por isso, vim morar para a margem sul", explica esta jovem, que também não acredita que mais um deputado eleito por um determinado círculo eleitoral faça qualquer diferença.

Ainda assim,a os 19 deputados que vão ser eleitos por Setúbal, em março, deixa um alerta.

"A única coisa que acho que poderia ser um bocadinho diferente era a situação da Ponte [Vasco da Gama], que está cada vez mais cara. Os residentes deviam ter uma ajuda nesse sentido", mesmo com as vantagens da Via Carda, que dá desconto aos habituais utilizadores da travessia.

Lá fora, à porta do terminal, a fumar um cigarro enquanto espera pelo barco, está Guilherme Silva. Um jovem de vinte e poucos anos para quem mais um deputado pelo círculo de Setúbal é pouco.

"Principalmente porque essa pessoa vai ficar nos mesmos. Vai ficar nos partidos de sempre", argumenta.

Ainda assim, é "sempre importante ter maior representatividade na Assembleia de quem sabe o que se passa no distrito". Para Pedro Conceição, vice-presidente da Associação do Comércio, Indústria, Serviços e Turismo do Distrito de Setúbal, há, contudo, algo que pode "travar" a defesa dos interesses da região.

"A disciplina de voto absorve um bocadinho esse efeito. No entanto, mesmo dentro dos partidos, é importante que existam essas pessoas, porque também influenciam por dentro."

A Associação do Comércio, Indústria, Serviços e Turismo do Distrito de Setúbal representa em 95 por cento as micro e pequenas empresas da região, com anseios e problemas distintos das grandes empresas.

"As Federações que estão em concertação social acabam por se focar na macroeconomia e os pequenos empresários ficam sempre com estes problemas em mão. A nós preocupa-nos coisas como a ausência de elevador social nas empresas, tal como existe nas pessoas. Uma empresa pequena, com 55 mil euros de lucro, paga de impostos o mesmo, percentualmente, que uma empresa que faça 300 milhões. Mas há outras questões, como as contribuições autónomas, que são muito injustas. Uma empresa que tenha prejuízo paga o dobro da contribuição autónoma, ou seja, quando está em dificuldades ainda paga mais".

Temas que na opinião de Pedro Conceição não são abordados nas campanhas eleitorais, mas que deviam, em agendas locais, quando os candidatos visitam os vários distritos do país.

Seria realmente interessante que os candidatos tivessem uma agenda local quando visitam cada distrito. Mas com a dinâmica da política e a comunicação de massas, eu diria que todos os candidatos se focam naqueles 30 segundos de televisão que vão ter, porque lhes vão dar impacto a nível nacional. E, portanto, o foco acaba por ser sempre nacional", e não local.

E assim tem sido nesta campanha.

Ainda assim, é "sempre importante ter maior representatividade na Assembleia de quem sabe o que se passa no distrito". Para Pedro Conceição, vice-presidente da Associação do Comércio, Indústria, Serviços e Turismo do Distrito de Setúbal, há, contudo, algo que pode "travar" a defesa dos interesses da região.

"A disciplina de voto absorve um bocadinho esse efeito. No entanto, mesmo dentro dos partidos, é importante que existam essas pessoas, porque também influenciam por dentro".

A Associação do Comércio, Indústria, Serviços e Turismo do Distrito de Setúbal representa em 95 por cento as micro e pequenas empresas da região, com anseios e problemas distintos das grandes empresas.

"As Federações que estão em concertação social acabam por se focar na macroeconomia e os pequenos empresários ficam sempre com estes problemas em mão. A nós preocupa-nos coisas como a ausência de elevador social nas empresas, tal como existe nas pessoas. Uma empresa pequena, com 55 mil euros de lucro, paga de impostos o mesmo, percentualmente, que uma empresa que faça 300 milhões. Mas há outras questões, como as contribuições autónomas, que são muito injustas. Uma empresa que tenha prejuízo paga o dobro da contribuição autónoma, ou seja, quando está em dificuldades ainda paga mais".

Temas que na opinião de Pedro Conceição não são abordados nas campanhas eleitorais, mas que deviam, em agendas locais, quando os candidatos visitam os vários distritos do país.

Seria realmente interessante que os candidatos tivessem uma agenda local quando visitam cada distrito. Mas com a dinâmica da política e a comunicação de massas, eu diria que todos os candidatos se focam naqueles 30 segundos de televisão que vão ter, porque lhes vão dar impacto a nível nacional. E, portanto, o foco acaba por ser sempre nacional", e não local.

E assim tem sido nesta campanha.

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