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Celebrar Mário Viegas numa "autobiografia não autorizada"

13 dez, 2023 - 02:38 • Marisa Gonçalves

A edição comemorativa dos 75 anos do nascimento do ator recupera as memórias que o próprio escreveu. Agora vêm acompanhadas de CD’s com gravações inéditas.

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Celebrar Mário Viegas numa "autobiografia não autorizada"

“Sobre mim está aí tudo, o resto não tem interesse nenhum”, declarou Mário Viegas aquando do lançamento da sua “Auto Biografia (não autorizada)”, em 1995.

O ator, encenador e declamador reuniu em livro uma vida plena de memórias, tendo recorrido a anotações feitas à mão, recortes de jornais, fotos e até a banda desenhada.

“Escreveu o livro com aquele ar que tinha de menos organizado, embora isso fosse um facial para os outros porque ele era extremamente cuidadoso. Guardou durante a vida toda tudo o que lhe interessava do seu percurso e das suas memórias”, conta à Renascença a irmã, Maria Hélia Viegas.

“Ele já estava bastante doente, mas fez o livro em 15 dias. São 250 folhas em formato A3. Dizia que era um livrinho de mesa de cabeceira para as pessoas se entreterem e lá escreve: o teatro foi a minha vida e a minha morte”.

Desde muito cedo Mário Viegas se deixou encantar pelas pequenas histórias.

“Lia um livro por semana, já com oito ou nove anos. Era uma coisa impressionante. O que eu fazia com ele era pintar e recortar. Não havia fotocopiadora nem televisão, claro. Então, pintávamos e fazíamos jornais que íamos vender de porta em porta. Chamava-se ‘A folhinha’ porque era só uma folha”, revela Maria Hélia Viegas, também promovida a assistente, nos espetáculos da sua infância.

Desses tempos, Maria Hélia Viegas lembra-se de um menino-prodígio e já muito versátil.

“A nossa mãe ofereceu-nos um teatro de fantoches, quando ele tinha sete ou oito anos, que ele adorou. Depois andávamos com o teatro atrás e eu ajudava a vestir as mãos. Ele construía na cabeça uma história para mostrar aos outros, nas festas de anos”, recorda.

O candidato presidencial que quis levar “o sonho ao poder”

Foi uma personalidade irreverente e desconcertante, que chegou a assumir uma pretensa candidatura a Belém, em 1995.

Pediu emprestadas as palavras ao poeta José Gomes Ferreira e erigiu a sua campanha presidencial.

“Sonhadoras e sonhadores, é com este belo verso do poeta José Gomes Ferreira que um homem só, e de mãos limpas e vazias, se apresenta ao país como candidato independente à Presidência da República de Portugal”, afirmou na apresentação da sua candidatura.

Maria Hélia Viegas garante que era uma candidatura que o próprio levou muito a sério. “Não foi propriamente um teatro ou uma graça. Foi importante porque ele era muito ligado à proteção das pessoas, ao desenvolvimento cultural. Ele fala muito disso no livro”, aponta.

Aspirações que levaram Mário Viegas a apresentar o espetáculo “Europa Não! Portugal Nunca!”

Além do seu talento como ator no teatro ou no cinema, Mário Viegas destacou-se também como exímio declamador. Nasceu em Santarém a 10 de novembro de 1948 e faleceu em Lisboa no dia 01 de abril de 1996.

O livro que agora chega aos escaparates intitulado “Auto-Photo Biografia (não autorizada)" surge acompanhado de 4 CD, dois deles compostos por gravações totalmente inéditas e que incluem registos de quando tinha apenas nove anos. Os outros dois CD revelam um café-concerto realizado em Janeiro, no Porto.

A obra vai ser apresentada esta quarta-feira, às 18h30, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Tem ainda mais dois lançamentos previstos, um deles no dia 15 às 18h30, no Teatro Taborda, em Santarém e o outro no dia seguinte, às 16h00, na Biblioteca do convento de São Francisco, em Coimbra.

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