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Casilda é avó aos 29 anos. O drama do casamento infantil em Moçambique

28 jan, 2024 - 22:10 • João Carlos Malta

Joanita e Casilda, mãe e filha, são os rostos de uma tragédia humana em Moçambique. Mulheres que têm de casar e ter filhos antes dos 18 anos para fugirem a pobeza. Moçambique é o quinto país do mundo com a maior taxa de casamento infantil.

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Joanita tem 15 anos e é casada. Teve um filho. A mãe Casilda tem 29 anos e é avó. Estas duas mulheres são rostos de uma reportagem do jornal espanhol “El Pais” em Moçambique, que alerta para um flagelo de grandes dimensões naquele país: o das meninas que são empurradas para o casamento pela pobreza extrema.

Esta menina frequentava a escola quando começou a ser abordada à porta do estabelecimento de ensino por um homem mais velho. Depois de várias insistências para que fossem viver juntos, conta o diário espanhol, acabou por aceitar casar com o desconhecido. Tinha 14 anos.

A menina não consegue explicar ao El Pais o porquê de ter aceitado, mas descreve o pesadelo que se seguiu.

“Fechou-me em casa um mês. Não me deixava sair, nem sequer para ver a minha família. Mas eu nem sequer sabia cozinhar e limpar uma casa. Não percebia o que tinha de fazer. Não me tratava bem. Assim que me engravidou, desapareceu e nunca mais voltou”, disse ao jornal espanhol.

Moçambique é o quinto país do mundo com a maior taxa de casamento infantil. Quase uma em cada duas mulheres entre os 18 e os 24 anos casou-se ainda menor, segundo dados da Unicef.

As percentagens mais elevadas encontram-se no norte: na província de Cabo Delgado e em Nampula, onde vive Joanita. São, precisamente, as regiões mais pobres. A expectativa de vida na região é de 53 anos. Os idosos dificilmente são vistos nas aldeias.

O país é um exemplo de um problema global. Hoje existem 650 milhões de mulheres e meninas no mundo que se casaram antes de completar 18 anos. Uma em cada seis. E todos os anos, mais 12 milhões fazem-no, segundo dados fornecidos pela Unicef.

Casilda, a mãe de Joanita, é avó aos 29 anos. Explica aquilo que Joanita não consegue exprimir em palavras: que uma das principais razões pelas quais as raparigas se casam é a pobreza extrema que as rodeia.

Querem tentar sair de qualquer maneira do sítio onde se encontram, até mesmo casando com um homem mais velho e desconhecido. Algumas admitem que quando começaram a menstruar começaram a “procurar homens” para ter uma vida melhor.

Noutros casos, são as famílias que as obrigam, pelo mesmo motivo: para que o marido as ajude financeiramente e para que tenham menos uma boca para alimentar. Às vezes também são forçadas a casar porque engravidaram.

Em Moçambique casar com uma menor é punido com pena de prisão entre os 8 e os 12 anos. Quem aceita celebrar os matrimónios pode ser castigado com um ano de cadeia.

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