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Futebol nacional

Quem é Joseph Szabo, o único treinador do Sporting com mais jogos do que Amorim?

26 fev, 2024 - 16:45 • Redação

"Foi buscar o Cristiano Ronaldo dos anos 40" e "trouxe para as nossas terras a escola danubiana", explica a Bola Branca o escritor Miguel Lourenço Pereira.

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Rúben Amorim (195) fez história ao ultrapassar Paulo Bento (194) como o segundo treinador com mais jogos pelo Sporting, no empate contra o Rio Ave em Vila do Conde, mas há um nome que soa ainda mais alto e estará marcado para sempre nas estrelas: Joseph Szabo.

Szabo é provavelmente o treinador mais importante da história do emblema verde e branco e, para muitos, o mais importante dos primeiros 50 anos do século XX no futebol português. Passou por FC Porto e Sporting de Braga, mas foi na formação lisboeta que revolucionou por completo a forma de jogar em Portugal.

Ao serviço do Sporting, o treinador, que foi internacional pela Hungria enquanto jogador, acumulou três campeonatos nacionais, uma Taça de Portugal e seis campeonatos de Lisboa. Marcou por completo a história do Sporting e estabeleceu o clube como um dos três ‘grandes’. A liga portuguesa e a Hungria têm de estar na mesma frase. Foram mais de 50 anos de treinadores húngaros no comando técnico das equipas portuguesas, em que fizeram florescer o jogo de uma maneira que nunca se viu (quem nunca ouviu falar nos mágicos magiares?). Afinal, são a segunda nacionalidade com mais títulos conquistados entre treinadores.

“Foi o homem que trouxe para as nossas terras a cultura de jogo da escola danubiana, que basicamente marcou o ADN do futebol português durante muitíssimo tempo”, diz a Bola Branca Miguel Lourenço Pereira, autor de livros como "Bring Me that Horizon", sobre o futebol português, e "Sueños de la Euro".

É, então, um discípulo de Jimmy Hogan, um treinador inglês que é considerado o pai do futebol moderno e o criador das táticas danubianas. As ideias de passes curtos e de um jogo mais ofensivo foram ensinadas por ele a vários treinadores de países por onde corre o Rio Danúbio. Szabo foi um dos precursores dessas ideias em Portugal.

Os primeiros anos de Szabo em Portugal

A história de amor entre Szabo e Portugal é muito longa. Em 1926, depois de ter jogado no Ferencvaros, da Hungria, o Szombathely, outro clube húngaro, pediu o empréstimo do então futebolista Szabo para uma digressão em Portugal. E foi aí que despertou a atenção do Nacional, acabando por ser convidado para ir para a Madeira.

Ingressou depois no Marítimo, que, segundo Miguel Lourenço Pereira, “fez com que o Marítimo se tornasse numa das equipas mais importantes do futebol português nos anos 20”. Em 1928, aterrou no Porto e levou consigo Artur “Pinga” de Sousa, que se tornou “no melhor jogador do Futebol Clube do Porto durante largas décadas”.

O FC Porto foi o primeiro grande êxito de Szabo. Venceu o primeiro campeonato nacional de sempre, na época 1934/35, e rumou ao Sporting Clube de Braga. Reza a lenda que foi Szabo que transformou o equipamento do Braga, que na altura era verde e branco a imitar o Sporting, em vermelho e branco. Mas haverá uma razão para isto. Em 1935, Szabo rumou a Londres para realizar um estágio no Arsenal e acabou por trazer para o clube bracarense as mesmas cores que os gunners utilizvam e utilizam.

A ida para o Sporting

Foi por um triz que não voltou aos azuis e brancos. Contudo, do Sporting do norte rumou ao Sporting lisboeta, em 1937, e foi ali que verdadeiramente criou “a sua lenda” e onde deixou “um legado absolutamente único para os leões”, afirma Pereira à Renascença.

E se hoje os cinco violinos são uma das bandeiras do Sporting, Joseph Szabo está no cerne da sua criação. Contratou Jesus Correia e Peyroteo. Este último é “provavelmente o avançado com a melhor média de golos na história do futebol mundial e um jogador que ele trabalhou com muito afinco a nível tático para transformá-lo verdadeiramente num killer”, explica o autor. E a verdade é uma: Peyroteo fez 336 golos em 190 jogos no campeonato português, uma média de 1,76 golos por jogo, um verdadeiro “Cristiano Ronaldo dos anos 40”.

Dentro e fora das quatro linhas, ninguém batia Szabo e os seus violinos. O húngaro marcou um antes e um depois na história do Sporting. Os leões já tinham alguns títulos na sua conta, mas, com Szabo, o Sporting tornou-se no “maior clube português da época”. A dominância leonina durou até meados dos anos 50, numa altura em que o Benfica começou a ganhar com mais regularidade.

Szabo fabricou um desenvolvimento tático importantíssimo, favorecendo o futebol ofensivo e com “uma componente física que o jogo português não tinha”, conta Miguel Pereira.

O húngaro não era um treinador qualquer, era também o fisioterapeuta e massagista da equipa. E não acaba por aqui. Szabo treinava desde as camadas mais jovens até à equipa principal e ficava até fora de horas a ajustar pormenores com alguns jogadores. Para Miguel Pereira, este factor foi diferenciador para criar uma “aura de um conhecimento superlativo que, depois, ajudou o Sporting a dar esse salto de qualidade em frente e de começar a conquistar” troféus.

Este homem, um cidadão de Gönyű, treinou o Sporting naqueles que foram os primeiros “anos de ouro” da equipa, como o próprio clube afirma. Na página oficial dos leões é possível ler ainda que os cinco violinos pareciam uma “orquestra a jogar”, com espírito coletivo e eficácia em campo, algo que o treinador húngaro ajudou a criar.

A hora de abandonar o Sporting veio em 1945, depois de terminar o campeonato em segundo lugar, logo atrás do Benfica. Mas a relação entre o homem e o clube ainda tinha mais para dar, embora por pouco tempo. Szabo voltou ao Sporting em maio de 1953, mas foi suspenso no ano seguinte depois de uma entrevista polémica.

Após uns anos de declínio enquanto treinador, reformou-se em 1966, a seguir a treinar a seleção angolana.

A história que deixa ficar

“Joseph Szabo não é só o treinador mais importante da história do Sporting Clube de Portugal, mas é também, provavelmente, dos treinadores mais importantes dos primeiros 50 anos do século XX em todo o futebol português”, afirma Miguel Pereira a Bola Branca. E ficou para a história.

Até hoje, nenhum treinador sportinguista conseguiu chegar à marca que Szabo alcançou. São 270 jogos pelo emblema do Sporting. Atrás dele, e ainda bastante longe, estão Rúben Amorim, com 195 jogos, e Paulo Bento, com 194.

O Sporting de Szabo “foi capaz de criar uma dinastia e uma estabilidade” que não se viram nos anos após a sua morte.

Era um apaixonado por Portugal e pelos leões, acabando por se naturalizar português. Faleceu no Lar de Jogadores do Sporting, como foi o seu desejo, com 76 anos, acabando por ser um “símbolo da sua eterna união entre ele e o clube lisboeta”, finaliza Miguel Pereira.

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