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Brasil

José, o procurador do Pará que cruza o Atlântico para competir nas piscinas portuguesas

20 jul, 2023 - 12:05 • João Carlos Malta

Tinha ligações familiares a Portugal, mas é através da natação que está a criar uma relação forte com o país. O procurador do estado brasileiro do Pará quis nadar nas competições de veteranos. Está a ganhar as provas e até já pensa em mudar-se de armas e bagagens.

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A bisavó portuguesa marcou uma ligação umbilical que José Eduardo Gomes nunca quis perder. Sempre foi fomentando com Portugal uma relação de proximidade. Mas a natação foi o pretexto ideal para dar vida a esse laço que queria manter e passar para os dois filhos. Em 2019, começou a competir em Portugal e agora quatro anos depois, e uma pandemia pelo meio, voltou.

O Atlântico que separa os dois países foi pequeno para a vontade deste brasileiro de 41 anos nadar nas piscinas portuguesas, nos campeonatos de veteranos − conhecidas como competições masters. A pandemia interrompeu uma ligação que já tem quatro anos, mas este mês o nadador que também é procurador do Estado do Pará, no Brasil, regressou para competir.

Em Portugal, os resultados têm sido muito bons. Ainda no início de julho ganhou os 100 metros e os 200 metros costas, no escalão D (40-44 anos). Conquistou ainda um segundo lugar nos 50 metros, nos campeonatos nacionais de Verão. Considera que as competições em Portugal já começam a ter um nível muito bom.

Mas como é que um nadador amador decide fazer mais de seis mil quilómetros e quase sete horas de viagem, pagando bilhetes que rondam os mil euros, para competir em Portugal? A ideia de nadar surgiu depois de há uns anos os filhos terem começado as aulas de natação e José ter reanimado uma paixão de infância. Voltou às piscinas, para treinar três vezes por semana, e quando chegou a altura de se pôr à prova, resultados até foram melhores do que quando era jovem.

E se o bichinho da água com cloro já lá estava, a ideia de estar mais tempo em Portugal também foi crescendo. Um alimentou o outro e de repente deu consigo a procurar na internet clubes da zona de Lisboa nos quais se pudesse enquadrar para participar em competições.

A busca não foi muito longa e um contato com Duarte Ferreira, treinador da equipa de masters dos Salesianos, escancarou-lhe as portas do clube. O voo para Portugal e ida até às piscinas de Loulé, em julho de 2019, marcaram o início desta relação.

“A experiência foi excelente porque a organização da competição foi muito boa”, relembra. A ideia era passar a vir todos os anos a Portugal. A pandemia cortou-lhe esse desejo, mas a relação com os Salesianos de Lisboa manteve-se. Quatro anos depois regressou, desta vez para a competição que decorreu de 7 a 9 de julho em São João da Madeira.

Mas José não está sozinho. A ideia é dar aos filhos a possibilidade de virem cada vez mais vezes a Portugal e conhecerem o passado familiar e as origens. Os parentes do procurador do estado do Pará vivem em Viseu e competir é apenas uma das causas que o traz a Portugal.

A família não tem dúvidas é “a pedra angular” “é a nossa base por completo”. Por isso quando vem um, vêm todos.

“Eles apoiam-me, acompanham-me. Eu faço questão de eles virem acompanhar-me nas competições e eles adoram”, diz.

Tanto é assim que a filha mais velha já participa em competições no Brasil e ela também já quer competir em Portugal. “Estamos a estuda a melhor forma de o fazer”, explica.

Certo é que a natação, segundo José, está a reforçar os laços com Portugal e a “ajudar à integração no país”. Tanto que até já pensa numa mudança a título definitivo. Sair do Brasil está no horizonte.

“A minha profissão permite-me trabalhar de forma remota e estamos a pensar nisso”, afirma.

José considera que a natação tem sido fulcral na criação de novas amizades no país e o fortalecimento dos laços com a família que vive cá.

Enquanto a ideia de mudança não se concretiza, a experiência tem sido tão positiva que está mesmo a pensar em reforçar a presença em competições de veteranos em Portugal. Quer fazê-lo nas duas provas mais importantes do calendário, os campeonatos nacionais de Inverno e Verão.

Para já, está rendido à recetividade dos portugueses e qualifica a experiênica de nadar em Portugal como uma das “mais maravilhosas” da sua vida.

“Tenho recebido muito carinho dos outros nadadores, e muito respeito e sinto que estamos, através da natação que é o desporto que amo, estreitar as relações entre Portugal e o Brasil”, remata.

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