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Saúde

Tosse convulsa dispara. "Surtos são normais a cada 4 a 5 anos"

08 mai, 2024 - 17:13 • Anabela Góis

Gustavo Tato Borges diz que há vários motivos que podem justificar esta subida de casos de tosse convulsa em Portugal, apesar de termos uma elevada taxa de vacinação para a doença.

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Os surtos são normais a cada 4, a 5 anos, há muitos estrangeiros no país com taxas de vacinação desadequadas, e a capacidade para diagnosticar casos de tosse convulsa está mais apurada. Estes são os motivos que levam o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública a desdramatizar o aumento de casos de tosse convulsa em Portugal. Gustavo Tato Borges ressalva também que, até à data, não se registaram casos graves da doença.

Os casos de tosse convulsa dispararam em Portugal à semelhança do que aconteceu por toda a Europa. De acordo com a Direção-Geral da Saúde este ano foram registados 200 casos, quando no ano passado tinham sido 22. A maioria – adianta a DGS – ocorreu em idade pediátrica (86%), sobretudo em crianças entre os 10 e 13 anos (21%) e com idade inferior a 12 meses (20%)".

Ouvido pela Renascença, o presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública desdramatiza. Gustavo Tato Borges diz que há vários motivos que podem justificar esta subida de casos de tosse convulsa em Portugal, apesar de termos uma elevada taxa de vacinação para a doença.

“Em primeiro lugar, porque é normal a cada 4, 5 anos haver um surto, com um aumento significativo do número de casos de tosse convulsa mesmo em países altamente vacinados", começa por dizer Tato Borges. "Depois, porque temos uma grande mobilidade da população estrangeira em Portugal, sem uma cobertura vacinal tão adequada como a nossa e, portanto, pode aumentar a disseminação."

Por fim, aponta o médico, "porque depois da pandemia os nossos serviços de saúde melhoraram a capacidade de diagnóstico em termos laboratoriais, podendo fazer, com a mesma amostra, um conjunto de análises alargada de procura de determinados agentes microbiológicos", onde está também o agente da tosse convulsa. Segundo Tato Borges, isso faz com que alguns diagnósticos, "que há uns anos seriam desvalorizados e não eram considerados como tosse convulsa agora sejam efetivamente identificados”

E, mais importante, sublinha Gustavo Tato Borges, os casos de tosse convulsa aumentaram muito mas, até agora, não deram origem a situações graves. “Não se traduziu nenhuma gravidade elevada, ou seja, não temos fatalidades, temos muito poucas pessoas internadas, o que mostra que a proteção vacinal tem feito o seu papel e nós estejamos obviamente mais confortáveis”

Em 2023, adianta a DGS, "a cobertura vacinal da quinta dose de vacina combinada contra o tétano, difteria e tosse convulsa atingiu os 95% e estima-se que 85% das mulheres grávidas elegíveis tenham sido vacinadas” em Portugal. É uma taxa excelente, na opinião de Gustavo Tato Borges

“Para as crianças uma taxa de 95% é excelente e garante imunidade de grupo. Portanto, aquelas pessoas que não podem efetivamente ser vacinadas, também ficam mais protegidas pelo facto de estarmos quase todos vacinados. Nas grávidas, 85% é um ótimo valor. Gostaríamos que fosse mais, porque aqui não há imunidade de grupo, mas protege as crianças que nascem, através dos anticorpos da mãe, nos primeiros anos de vida, até que a criança possa ser vacinada. É uma medida extraordinária que deve continuar a ser promovida existir fazendo com que as crianças mantenham a cobertura vacinal elevadíssima e as grávidas possam melhorar ainda mais a sua cobertura vacinal”, esclarece.

De acordo com um relatório da Agência de Saúde Europeia, desde o início de 2023, até abril, registaram-se 10 vezes mais casos de tosse convulsa nos países da União Europeia do que nos dois anos anteriores.

O estudo, do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, dá conta de perto de 60.000 casos na UE e no Espaço Económico Europeu (mais Noruega, Islândia e Liechtenstein) naquele período, 25.130 em 2023 e 32.037 entre janeiro e março deste ano.

A tosse convulsa é altamente contagiosa, transmite-se através de gotículas de saliva e pelo contato com objetos contaminados. O principal sintoma é tosse seca, prolongada e persistente.

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