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Mundial de Resistência

24 Horas de Le Mans. Ferrari contraria o guião e repete vitória de 2023

16 jun, 2024 - 16:24 • João Pedro Quesado

Marca italiana voltou a ganhar à geral, numa nova disputa com a experiente Toyota, e recupera terreno para as 13 vitórias da Audi e 19 da Porsche. Filipe Albuquerque sofreu com um erro de um colega do carro, e terminou em último na segunda classe, a LMP2.

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O Ferrari 50 de Antonio Fuoco, Miguel Molina, Nicklas Nielsen nas últimas horas da prova. Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
O Ferrari 50 de Antonio Fuoco, Miguel Molina, Nicklas Nielsen nas últimas horas da prova. Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
O carro vencedor no final da corrida, decorado pela sujidade de 24 horas e pelos confetis da festa do pódio. Foto: Charly Lopez / DPPI
O carro vencedor no final da corrida, decorado pela sujidade de 24 horas e pelos confetis da festa do pódio. Foto: Charly Lopez / DPPI

A Ferrari venceu este domingo a edição de 2024 das 24 Horas de Le Mans, superando a Toyota numa corrida acidentada, marcada por períodos de chuva forte, principalmente durante a noite. Foi a 11.ª vitória da equipa italiana à geral e a segunda consecutiva, num dia de pouca sorte para Filipe Albuquerque, o único português em prova.

Depois de uma porta que não fechava e de 50 minutos a poupar combustível, o Ferrari n.º 50, de Antonio Fuoco, Miguel Molina e Nicklas Nielsen, terminou a prova apenas 14.2 segundos à frente do Toyota n.º 7, conduzido por José Maria López, Kamui Kobayashi e Nyck de Vries. A completar o pódio da classificação geral ficou o outro Ferrari oficial, o carro 51, dos vencedores da edição de 2023 – Alessandro Pier Guidi, James Calado e Antonio Giovinazzi.

Filipe Albuquerque, o único português em prova, voltou a ter uma passagem para esquecer pelo Circuito de La Sarthe. O piloto de Coimbra fez o arranque da prova e cedeu o volante ao colega Ben Keating ainda na primeira hora, mas o norte-americano fez um pequeno pião, estacionando numa escapatória de gravilha.

Esse momento provou-se determinante: além do tempo perdido, uma pedra dessa gravilha conseguiu alojar-se no alternador do carro, partindo a correia. As reparações causaram mais atrasos, atirando o 23 da United Autosports para o último lugar da categoria LMP2 – onde terminou a corrida, a 25 voltas do vencedor da classe, o outro carro da United Autosports, o n.º 22.

Nem uma porta mal fechada, nem penalizações

Desde que regressou ao topo das corridas de resistência, a Ferrari apenas venceu duas corridas do Campeonato Mundial: a edição de 2023 das 24 Horas de Le Mans, e agora a edição de 2024.

Mas a fase final da corrida pareceu escrita para impossibilitar a vitória de qualquer carro da Ferrari, especialmente do 50. Uma porta mal fechada na 21.ª hora de corrida forçou o carro vitorioso a ir às boxes mais cedo que o programado, já sob aviso do diretor de corrida – o português Eduardo Freitas – para resolver a “questão de segurança”.

Com 50 minutos para o fim da corrida, Nicklas Nielsen foi às boxes reabastecer, e passou o resto da corrida em modo de poupança de combustível e da bateria, acabando por completar as 311 voltas desta edição na frente, e apenas com 2% de energia restante no final - provando-se assim sobrevivente a todos os desafios que Le Mans conseguiu criar este ano.

Tudo indicava que o Toyota n.º 7 ia conseguir superar o carro vermelho na última meia hora, mas o ritmo de José Maria López provou-se insuficiente, ao mesmo tempo que a chuva voltava a cair com mais força. A marca japonesa acabou por admitir a derrota a cerca de 15 minutos do fim, pedindo ao piloto argentino para não arriscar e assegurar a chegada à meta. Este foi o 7.º pódio consecutivo da Toyota em Le Mans, que regressou à prova em 2012.

Antonio Fuoco e Miguel Molina foram da tensão insuportável enquanto viam Nicklas Nielsen a completar a última volta... Foto: Charly Lopez / DPPI
Antonio Fuoco e Miguel Molina foram da tensão insuportável enquanto viam Nicklas Nielsen a completar a última volta... Foto: Charly Lopez / DPPI
... Ao estado de euforia quando viram o seu carro a cruzar a meta no fim das 24 horas. Foto: Charly Lopez / DPPI
... Ao estado de euforia quando viram o seu carro a cruzar a meta no fim das 24 horas. Foto: Charly Lopez / DPPI
Depois da volta de consagração, Fuoco e Molina juntaram-se a Nielsen para a tradicional entrada triunfal nas boxes... Foto: Charly Lopez / DPPI
Depois da volta de consagração, Fuoco e Molina juntaram-se a Nielsen para a tradicional entrada triunfal nas boxes... Foto: Charly Lopez / DPPI
... E juntaram-se finalmente para festejar antes do cobiçado pódio. Foto: Charly Lopez / DPPI
... E juntaram-se finalmente para festejar antes do cobiçado pódio. Foto: Charly Lopez / DPPI

Ao longo da corrida, a performance da Ferrari nem sempre pareceu suficiente para disputar a vitória, principalmente quando as nuvens e a chuva arrefeciam o alcatrão. Apesar disso, rapidamente assumiram a liderança nas voltas iniciais, e ganharam uma aposta estratégica na segunda hora de corrida, ao não trocar para pneus de chuva quando a pista começou a ficar molhada, convencidos de que os aguaceiros eram passageiro e que a pista ia secar relativamente rápido - o que aconteceu.

Uma aposta semelhante, já na sétima hora de corrida, ao início da noite, não foi tão bem conseguida. Mas os danos foram minimizados pela primeira neutralização da corrida, após o terceiro Ferrari da classe principal (hipercarros), o carro n.º 83, tocar noutro hipercarro, o BMW n.º 15, atirando-o para as barreiras em plena reta das Hunaudières.

A 92.ª edição das 24 Horas de Le Mans foi, aliás, a corrida com mais horas atrás do Safety Car na história da mítica prova de resistência na França. Ao todo foram quase sete horas, divididas por três períodos: o acidente do BMW n.º15 valeu cerca de 1h30, a chuva durante a noite custou 4h25 de competição, e perto de uma hora por um aparatoso acidente durante a manhã, a menos de 6h30 da bandeira de xadrez.

Durante grande parte da corrida foi outro hipercarro Ferrari, o carro 83 (pintado de amarelo) que pareceu o melhor candidato da marca italiana a repetir a vitória de 2023. A equipa de Robert Kubica (ex-F1), Robert Shwartzman e Yifei Ye foi mais rápida durante grande parte da corrida, até ser ultrapassada por Fuoco nas cruciais primeiras horas da manhã.

Ao início da 20.ª hora, Le Mans fez mais uma escolha e o azar bateu na porta do 83. O carro teve um apagão elétrico total durante uma paragem nas boxes, fazendo com que bastante fumo começasse a emanar de partes sensíveis do carro. A equipa não teve outra opção senão obrigar Yifei Ye a saltar do carro (evitando riscos com possíveis choques elétricos) e abandonar a prova.

Também o Ferrari n.º 51 podia ter acabado no topo do pódio, apesar de estar regularmente fora dos primeiros cinco lugares na corrida. Mas foi uma penalização, que obrigou o carro vencedor de 2023 a parar cinco segundos extra nas boxes por bater no Toyota n.º 8 enquanto o tentava ultrapassar na curva mais lenta da pista, que arredou o n.º 51 da discussão da vitória na fase final, e quase foi suficiente para terminar atrás do Porsche n.º 6.

Toyota 7 de José Maria López, Kamui Kobayashi e Nyck de Vries. Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
Toyota 7 de José Maria López, Kamui Kobayashi e Nyck de Vries. Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
Ferrari 51 de Alessandro Pier Guidi, James Calado e Antonio Giovinazzi Foto: Charly Lopez / DPPI
Ferrari 51 de Alessandro Pier Guidi, James Calado e Antonio Giovinazzi Foto: Charly Lopez / DPPI
Porsche 6 de Kevin Estre, Andre Lotterer e Laurens Vanthoor Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
Porsche 6 de Kevin Estre, Andre Lotterer e Laurens Vanthoor Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
Toyota 8 de Sebastien Buemi, Brendon Hartley e Ryo Hirakawa  Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
Toyota 8 de Sebastien Buemi, Brendon Hartley e Ryo Hirakawa Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
Cadillac 2 de Earl Bamber, Alex Lynn e Alex Palou Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
Cadillac 2 de Earl Bamber, Alex Lynn e Alex Palou Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
Ferrari 83 da AF Corse, de Robert Kubica, Robert Shwartzman e Yifei Ye. Foto: Christophe Petit Tesson/EPA
Ferrari 83 da AF Corse, de Robert Kubica, Robert Shwartzman e Yifei Ye. Foto: Christophe Petit Tesson/EPA

Outro carro que surgiu como candidato à vitória - para surpresa de todos - na manhã de domingo foi o Cadillac n.º 2, de Alex Lynn, Earl Bamber e Alex Palou. A "águia azul" surgiu repetidamente na liderança por estar dessincronizada dos restantes carros nas paragens nas boxes. Mas qualquer vantagem que pudesse resultar desse desalinhamento desapareceu quando a chuva voltou para as últimas três horas de corrida, forçando todos os hipercarros a montar pneus de chuva quase em simultâneo. O destino do carro 2 acabou por ser o sétimo lugar da geral.

As grandes diferenças de opções estratégicas apenas permitiram perceber a verdadeira ordem na classificação nas últimas três horas de corrida. A experiência da Toyota, que foi mais consistente e cometeu menos erros ao longo da prova, mas também foi mais conservadora nas opções que tomou, não foi suficiente para impedir a 11.ª vitória da Ferrari à geral. O recorde continua a pertencer à Porsche, que tem 19 vitórias (a última é de 2017), e a Audi acumulou 13 vitórias entre as edições de 2000 e 2014.

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