Mundial 2022

"Vitória da organização contra a anarquia" e "fim de ciclo" para Fernando Santos

10 dez, 2022 - 20:04 • Redação

Os comentadores Silas, Tiago Margarido, João Ferreira e Rui Miguel Tovar fazem o balanço da eliminação portuguesa no Mundial e as possíveis consequências.

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A eliminação da seleção portuguesa do Mundial 2022, nos quartos de final, deverá representar o fim de ciclo para Fernando Santos, assim como para figuras como Cristiano Ronaldo e Pepe.

João Ferreira, comentador Renascença, acredita que "será difícil a continuidade de Pepe e também creio que Ronaldo acabará por sair", mas depende "de quem for o selecionador".

Sobre Fernando Santos, o treinador "fala numa conversa com o presidente, nem pensar em demissão, portanto só sairá em caso de acordo, uma conversa que leve à sua saída. Mas creio que Portugal continuará com jogadores que permitam manter uma grande equipa e que permita continuar a sonhar no torneio seguinte".

Rui Miguel Tovar é claro quanto à sua posição: "Vejo o amanhã sem essas três figuras, mas nunca se sabe o que vai acontecer. É uma questão de idade, a próxima prova é daqui a ano e meio, em 2024. Os jogadores já ultrapassaram o seu limite, digo eu, até porque o Pepe surpreendeu. Já achava que Fernando Santos deveria ter saído no Europeu, teve agora um golpe de autoridade no balneário, mas parece-me fim de ciclo".

O treinador Silas acredita que "terá sido a última competição de Fernando Santos", mas não tem tanta certeza em relação às saídas de Pepe e Ronaldo: "Depende do que lhes for acontecendo, ano a ano. Acho possível no próximo Europeu, mas não acredito no próximo Mundial".

Sobre a partida, Tiago Margarido, atual treinador do Varzim, acredita que foi uma "vitória da organização" e uma derrota da anarquia portuguesa.

"Penso que Portugal usou e abusou do jogo exterior, não aproveitou o jogo interior como deveria ter feito. A saída de Gonçalo Ramos foi um tiro nos pés. Faltou ter gente no espaço entre linhas e na área, foi muita gente na primeira fase de construção. Foi uma vitória da organização contra a anarquia. Nota-se que há uma ideia clara em Marrocos: defendem o espaço, a ideia está definida e há muita ajuda. Quando saiu o Gonçalo Ramos foi a anarquia total, cada um por si e à procura do talento individual", analisa.

João Ferreira diz que Marrocos foi "melhor a ser aquilo que é do que Portugal queria construir de si próprio. Sabemos a identidade de Marrocos e Portugal andou à procura de uma forma de jogar. Onde Portugal fica a dever a si própria é na primeira parte, quando o jogo está empatado. Um jogo muito lento e passivo".

"A seleção foi atrás do resultado, Fernando Santos fez as alterações quase todas bem decididas. Acho que Gonçalo Ramos teria sido uma muleta boa para o Ronaldo, aproveitaria melhor o espaço que o Ronaldo libertava. Félix não conseguiu ser tão decisivo. Fica um gosto bastante amargo, é um motivo de desilusão. Que seja um ponto de partida para um novo caminho amanhã", diz o comentador Renascença.

"É ilusão pensar que vamos fazer tudo bem só pelos jogadores"

Silas, antigo internacional português e que como treinador passou pelo Belenenses, B SAD, Sporting, Famalicão e AEL Limassol, contrapõe: não é assim tão fácil atacar bem.

"Não acho que seja impossível marcar a Marrocos, até porque as oportunidades foram claras. Nem nos clubes, com muito tempo de trabalho, se ataca sempre bem. Temos muito talento, mas há muito pouco tempo para trabalhar. É uma ilusão pensar que vamos fazer tudo bem em organização ofensiva só porque temos grandes jogadores", diz.

Nesse sentido, o treinador acredita que o ponto fraco da seleção foi na defesa: "Principalmente nos duelos aéreos e nas bolas paradas. Estivemos muito aquém do nível que é exigido".

Tiago Margarido, atual treinador do Varzim.  Foto: Pedro Valente Lima/RR
Tiago Margarido, atual treinador do Varzim. Foto: Pedro Valente Lima/RR
João Ferreira, treinador e comentador da Renascença. Foto: Pedro Valente Lima/RR
João Ferreira, treinador e comentador da Renascença. Foto: Pedro Valente Lima/RR
Silas, antigo internacional e atual treinador. Foto: Ricardo Fortunato/RR
Silas, antigo internacional e atual treinador. Foto: Ricardo Fortunato/RR
Rui Miguel Tovar, comentador na Tertúlia Bola Branca. Foto: Joana Bourgard/RR
Rui Miguel Tovar, comentador na Tertúlia Bola Branca. Foto: Joana Bourgard/RR

Rui Miguel Tovar recorda o pesadelo do México 1986, quando Portugal foi eliminado por Marrocos na fase de grupos.

"Nunca esperei isto, nem no meu pior sonho. Tinha 9 anos quando acordei e percebi que Portugal tinha sido eliminado por Marrocos em 1986. Nunca pensei sentir isso outra vez, foi uma deceção imensa. Jogos diferentes, mas a mesma sensação, de impotência e frustração. É incrível como Marrocos faz história com Portugal duas vezes, na altura foram a primeira africana a chegar aos 'oitavos' e agora são a primeira a chegar às meias-finais", termina.

Diogo Costa ligado à derrota

O guarda-redes da seleção fica ligado ao golo de Marrocos, com uma saída em falso.

Tiago Margarido assume que "não foi a melhor exibição": "Sabemos que, pela posição em si, basta falhar uma vez que dá golo. Foi o que aconteceu com o Diogo Costa. Salvou mais dois golos, mas fica ligado ao resultado. Foi infeliz nesse lance. É um grande guarda-redes, vai usar o erro para crescer, faz parte e só falha quem lá está".

Rui Miguel Tovar sublinha a ideia: "Foi uma exibição muito insegura da baliza ao ataque. O Diogo Costa esteve mal no golo, depois redimiu-se a evitar o segundo".

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  • Mal perdido
    10 dez, 2022 Desilusão 21:44
    Pode ter ganho o Europeu e a Liga das Nações - ninguém tinha tido triunfos antes disso - mas há limites para a gratidão, e o ciclo Fernando Santos à frente da Seleção deve ter chegado ao fim. Precisamos dum treinador sem medo de atacar e que aproveite os talentos que temos, em vez de os por a "passar a bola uns para os outros" num futebol de contenção que se as coisas correm mal, não se transforma em nada a não ser desorganização e cada um por si.

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