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Futebol nacional

Tulipa, o seu Torreense e as memórias de Artur Jorge: "As pessoas que ouvem muito e que não falam tanto são de elevada inteligência"

01 mar, 2024 - 12:20 • João Filipe Cruz

Quatro vitórias consecutivas, a aproximação aos lugares da bulha pela promoção e o cruzamento com Artur Jorge no FC Porto servem de desculpa para a entrevista a Bola Branca

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Depois de vitórias com AVS, Oliveirense, Benfica B e Belenenses, o Torreense de Tulipa aproxima-se seriamente pela luta pelo play-off de subida à I Liga (Nacional, o terceiro classificado, está a cinco pontos). Em conversa com Bola Branca, o treinador explica o momento atual, revelando ainda o que lhe pediram quando assinou em dezembro e até o que exigem das gentes de Torres Vedras.

Puxando a fita atrás, recorda ainda Artur Jorge, o lendário treinador que morreu na semana passada e que era o chefe da equipa técnica dos séniores dos dragões quando Tulipa era um jovem dos juniores. No próximo domingo, o Torreense defronta o FC Porto B e Tulipa vai defrontar alguns rapazes que treinou na formação dos azuis e brancos

Podemos dizer que este é o melhor momento do Torreense?
Sim, é verdade. Temos uma ideia nova, tivemos de analisar primeiro, conhecer as características dos nossos jogadores e trabalhar sobre elas e sobre as ideias. Isso demora tempo. Neste momento estamos muito mais próximos daquilo que pretendemos fazer, como staff técnico, e o que os jogadores nos podem dar. Quando há essa harmonia, é muito mais fácil conseguir resultados. As coisas não acontecem de um dia para o outro. As coisas crescem com tempo. O grupo é bom, trabalha muitíssimo bem. É ambicioso, por isso estamos neste registo.

O que lhe pediram quando assinou?
Aproximar-nos das equipas dos primeiros lugares. Ser uma equipa competitiva, com um jogo apelativo, é isso que as pessoas pedem quando vêm ao estádio. Que se jogue bem e qualidade nos resultados. Não estávamos mal posicionados quando chegámos, mantivemos isso, queremos encurtar a distância. Muitas vezes não encurtamos mais [a distância] porque as equipas de cima também têm qualidade e ganham os seus jogos

As gentes de Torres Vedras já lhe falam na subida? Pedem isso?
O que nos pedem é que continuemos neste registo. As pessoas entendem que há uma diferença para os dois primeiros lugares, mas o terceiro lugar dá a possibilidade de acesso ao play-off. O que queremos fazer é olhar para cada jogo como algo diferente e que tem de ser bem preparado e estudado, e que tem de ser trabalhado para ser ganho. Sinto que os adeptos estão envolvidos nesse espírito, querem uma equipa que jogue para a frente e que lute, que tenha a atitude correta perante cada jogo. E, acima de tudo, que tenha um jogo apelativo, muitas vezes isso é chegarmos à baliza adversária e termos oportunidades, isso tem acontecido nos últimos jogos.

Como vê esta II Liga?
Há equipas muito boas, com plantéis muito bem conseguidos, com jogadores com mescla de experiência e juventude, que conhecem muito bem as duas divisões. O Santa Clara foi uma das equipas que se reforçou muitíssimo bem.

Vai agora jogar contra o FC Porto B. Conhece por lá algumas caras, certo?
Sim, estive três anos na formação, treinei a geração de 2003 e 2002. Há alguns jogadores que hoje estão inseridos nesta equipa, outros noutras equipas, o que é bom para um treinador, é sinal que em algum momento interferimos na vida e na qualidade dos nossos jogadores. Percebemos que o adversário é muito competente, que tem jogadores de qualidade, com uma ideia de jogo muito boa.

Certamente que vai ser um jogo muito difícil para nós. Temos de ter um enquadramento estratégico um pouco diferente daquele que foi o da última semana, com o Belenenses, mas acima de tudo não queremos fugir da nossa ideia, de termos protagonismo, de sermos a equipa que mais vezes tem a bola e a ambição de ferir o adversário.

Andou na formação do FC Porto e depois nos sub-23 de Vizela e Marítimo. Prefere futebol sénior ou de formação?
Os escalões de sub-23 já têm um bocadinho de futebol sénior, as pessoas não têm ideia do que vale a Liga Revelação. É muito competitiva, com boas ideias dos seus treinadores, um jogo muito para a frente, com muita envolvência e muita gente na parte ofensiva do jogo. Com bons executantes, jovens. A formação carece de muito mais tempo, de preparares bem o teu jogar, de olhares para o teu jogador e para a sua individualidade e dares tempo para ele crescer. Há mais tempo para corrigir.

O futebol profissional é muito mais direcionado para o resultado. Gosto de estar envolvido no futebol profissional, é exigente nos resultados, mas não descuro a parte que falei: o resultado vem e nasce quando cuidamos do nosso jogar, quando cuidamos do jogador e da sua individualidade. São eles que transformam o nosso jogo numa coisa apelativa, em oportunidades de sermos superiores ao adversário. Prefiro estar no futebol profissional.

O Tulipa era júnior aquando da derradeira passagem de Artur Jorge no FC Porto. Que memórias tem dele?
Tenho umas memórias muito interessantes. Nessa altura, éramos juniores mas já fazíamos muito trabalho com a equipa sénior. Fomos muitas vezes solicitados a treinar com a equipa principal. Acima de tudo, nessa altura, havia jogos de reservas, que se faziam à terça ou quarta-feira. Era essa a relação que tinha com o Artur Jorge, era muito simples. Ele era uma pessoa muito honesta, muito simples e muito íntegra. Via-se que tinha uma cultura muito elevada para o conhecimento dos nossos treinadores na época.

Foi uma perda, porque era uma pessoa avessa a polémicas, muito dona de si, que ficava no seu espaço e até um pouco introvertida, para aquilo que foi o sucesso na profissão. É uma perda grande, era uma excelente pessoa. No pouco tempo que tive com o mister Artur, era de uma elegância muito grande. Era uma verdadeira excelência de pessoa.

E lembra-se de alguma conversa ou dava-lhe aqueles feedbacks normais no treino?
Era o auge de uma geração. Não havia grandes conversas connosco. Recordo-me que o adjunto dele era o Octávio [Machado], era quem mais falava connosco, corrigia-nos e incentivava-nos a jogar, a ter critério e a ter tranquilidade e segurança. Se estávamos ali era porque reconheciam a nossa qualidade. São essas as grandes referências que tenho dele. Depois, muitas vezes como opositor.

Já tocou brevemente, mas, resumindo, que homem era este? Fazia realmente a diferença pelo discurso?
Vamos aprendendo com a idade. Ele era uma pessoa que ouvia muito. Normalmente, as pessoas que ouvem muito e que não falam tanto são de elevada inteligência. Acho que era isso, estávamos perante uma pessoa muito inteligente, muito culta e que foi importante em vários momentos no nosso futebol, não só na dimensão como treinador e no que ganhou, mas também enquanto dirigente. Foi a primeira pessoa que incentivou a que olhássemos para o sindicato dos jogadores, para que os jogadores tivessem condições e exigências para cimentar a sua posição. Estamos a falar de uma pessoa diferenciada.

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