Patrick Morais de Carvalho: "Liga 3 será uma verdadeira prova de fogo para o Belenenses"

15 jul, 2022 - 10:35 • Carlos Dias

Depois de quatro subidas de divisão consecutivas, o presidente do Belenenses modera expectativas, face aos orçamentos elevados de vários clubes do terceiro escalão. Em entrevista à Renascença, Morais de Carvalho elogia o treinador, Bruno Dias, agradece a confiança dos adeptos e admite orgulho pelo quase concluído afastamento da B-SAD.

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O Clube de Futebol Os Belenenses prepara com ambição a nova temporada, depois de quatro subidas de divisão consecutivas, mas o seu presidente admite que as dificuldades vão aumentar.

Em entrevista a Bola Branca, Patrick Morais de Carvalho elogia Bruno Dias, "a pessoa certa" para o projeto de escalada de divisões, e avisa que a luta vai ser mais difícil daqui para a frente, tendo em conta os orçamentos elevados de vários clubes do terceiro escalão do futebol nacional, a que chegou pela secretaria.

"O Belenenses, querendo chegar à I Liga, com os seus recursos próprios, sem se voltar a vender a ninguém, o caminho daqui para a frente vai ser muito difícil, vai ser muito exigente e será uma verdadeira prova de fogo, a presença, este ano, na Liga 3", assinala o presidente do Belenenses.

Patrick Morais de Carvalho promete, independentemente dos resultados, uma equipa a honrar a história do clube, mostra confiança nos adeptos e admite orgulho pelo desfecho do processo de afastamento da atual B-SAD, que está praticamente concluído.

Depois de mais uma subida de divisão, quais são as suas perspetivas para a participação do Belenenses da Liga 3?

Em quatro anos conseguimos quatro subidas de divisão. No início desta caminhada de honra, verdade e dignidade, parecia que o topo da montanha estava muito longe e inalcançável e, hoje, olhamos para trás e sentimo-nos satisfeitos, porque, apesar de algumas contrariedades, estamos agora na Liga 3.

Aqui chegados, percebemos que este é um patamar de dificuldade acrescida. O nível sobe bastante relativamente ao Campeonato de Portugal, onde, na verdade, já tivemos muitas dificuldades para subir. Agora, na Liga 3, percebemos que a fasquia sobe muito, mas nós vamos estar nesta prova com o objetivo claro de ganhar todos os jogos, sendo o mais competitivos possível, sabendo que vamos com armas desiguais.

Estamos muito satisfeitos com o plantel que construímos e com o treinador que conseguimos atrair para o nosso projeto e para a nossa ideia. Percebe-se claramente que há algumas equipas que têm orçamentos três ou quatro vezes superiores ao do Belenenses. Continuamos a ter ambição, vamos ter de a casar com o nosso orçamento.

Porque sente que Bruno Dias é o treinador certo para este projeto?

Nós identificamos um perfil à imagem dos jogadores que procuramos, queríamos uma equipa técnica que tivesse conhecimento, que fossem pessoas educadas, que tivessem ambição e fome de ter sucesso, e isto faz parte do Bruno Dias e dos seus adjuntos. Destacamos também a liderança e os métodos de trabalho que ele consegue incutir nos seus grupos e, depois, ter uma ideia de jogo dominadora, porque a massa associativa do Belenenses assim o exige, é o ADN do clube.

A escolha do treinador acaba por ser o ato de gestão mais importante de qualquer presidente. Penso que escolhemos muito bem, escolhemos a pessoa certa. Depois, também é preciso uma pontinha de sorte, porque todos os treinadores estão sujeitos aos resultados.

Com o aumentar da exigência, será natural o Belenenses ganhar menos jogos, comparando com estes últimos quatro anos?

Em termos lógicos, aquilo que está a dizer é uma forte possibilidade, mas não tenho dúvidas de que vamos ganhar mais vezes que aquelas que vamos perder. Também não tenho dúvidas de que a nossa massa associativa vai rever-se na nossa equipa. Vamos ter uma cultura de exigência e um grupo forte. Tenho a certeza que o Belenenses vai ser muito competitivo nesta Liga 3 e que vai ser muito difícil a qualquer adversário vencer a nossa equipa, apesar das diferenças orçamentais.

Esta recuperação desportiva do Belenenses está a correr melhor do que esperava?

Quando, em 2018, apresentei aquela proposta choque de largarmos a equipa que estava na I Liga e recomeçarmos a reconstrução dos direitos desportivos a partir da sétima divisão, só conseguiríamos obter a aprovação dos sócios se tivéssemos um discurso consciente, mas muito positivo e muito assertivo.

Aquilo que eu previa, naquela altura, é que, nestes quatro anos, subíssemos de divisão. Com franqueza, as coisas até ficaram um pouco aquém do que esperava, porque pensava que seríamos campeões nas quatro divisões e não o fomos na última temporada, no Campeonato de Portugal.

Agora, a partir da Liga 3, isto "pia mais fino", o nível é mais exigente, as diferenças orçamentais começam a notar-se. O Belenenses, ao contrário de outros clubes, não é só futebol. Costumo dizer que é um monstro, há sempre dificuldades de tesouraria. O Belenenses, querendo chegar à I Liga, com os seus recursos próprios, sem se voltar a vender a ninguém, o caminho daqui para a frente vai ser muito difícil, vai ser muito exigente e será uma verdadeira prova de fogo, a presença, este ano, na Liga 3.

A Belenenses SAD já admitiu que vai competir na II Liga como B-SAD. Este processo tão longo está a dar razão ao Clube de Futebol os Belenenses.

Sim, diria que estamos num momento de viragem, num momento importante em que foi consumada a separação total entre o Belenenses e a SAD que tinha fundado. Para nós, o ponto final está praticamente consumado.

Foi uma longa luta, porque, recordo, também parece mais fácil olhando para trás, mas, quando iniciamos esta luta, a 30 de junho de 2018, o Belenenses estava praticamente sozinho naquela que era a sua interpretação da lei das SADs.

Felizmente, as nossas posições foram vingando, foram tendo adesão de muitos professores universitários, de muitos estudiosos da matéria, de muitos advogados e, depois, do mais importante deste tema, dos tribunais, da Federação Portuguesa de Futebol, da própria Liga, ao ponto em que chegou o momento em que a B-SAD se conformou.

Ficámos satisfeitos por a B-SAD e a sua administração terem percebido que tinha de seguir o seu caminho, separada do Belenenses. Não entendo que haja vencedores e vencidos, neste processo penso que todos perdermos. Mas não posso negar que é com muito orgulho que e com muita satisfação que, hoje, percebo que as teses do Belenenses vingaram, que o Belenenses é independente, é livre e pode ascender de novo aos campeonatos profissionais, mesmo se a lei das sociedades desportivas se mantiver exatamente como está.

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