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Sporting pode ficar a perder com recontagem dos títulos. Conheça os pareceres apresentados

14 jun, 2022 - 09:33 • Eduardo Soares da Silva , Luís Aresta

Sporting diz ter 23 títulos de campeão nacional, mas nenhum dos pareceres da comissão independente nomeada pela FPF reconhece os quatros títulos que o clube leonino reclama. Perceba os pareceres, que diferem no reconhecimento do Campeonato de Portugal, prova realizada entre 1921 e 1938.

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A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) apresentou às federações do país os dois pareceres sobre a recontagem dos títulos de campeão nacional que uma comissão independente elaborou ao longo dos últimos anos, na sequência de um pedido do Sporting, que reclamava mais quatro campeonatos. No entanto, nenhum dos pareceres reconhece essa vontade dos leões.

Um dos pareceres atribui mais dois troféus ao Sporting, enquanto o outro não altera o quadro atual de contagem dos títulos.

A FPF convocou as federações para uma Assembleia Geral Extraordinária, no dia 29 de junho, às 17h00, onde esse será um dos assuntos levado a votos.

Campeonato de Portugal causa polémica

Entre 1921 e 1938, decorreu uma prova intitulada de Campeonato de Portugal e que não é contabilizada, atualmente, no número de títulos de campeão que a FPF reconhece.

Durante as 17 edições, Porto e Sporting foram campeões quatro vezes, enquanto que Benfica venceu o título por três. No entanto, essa prova não é oficialmente reconhecida.

Outros dos imbróglios é que entre 1934 e 1938, duas provas existiram em simultâneo: o Campeonato de Portugal e o Campeonato das Ligas, sendo que a última é já reconhecida pela FPF na lista de campeões nacionais atual.

Nesses quatro anos, antes da criação oficial da I Divisão nacional, o Benfica venceu três troféus e o Porto venceu um, o primeiro.

A Federação criou, em 2017, uma uma Comissão Independente para Análise dos Títulos Nacionais (CIATN), depois da insistência do Sporting, que pretende contabilizar os títulos conquistados em 1923, 1934, 1936 e 1938.

O próprio clube já reconhece esses quatro títulos conquistados em diferentes plataformas, quer na página dos palmarés no seu site oficial, como no autocarro da equipa principal de futebol.

Bruno de Carvalho, em 2016, acusava a federação de "desrespeitar a verdade e a história", "cobardia dos seus dirigentes, que tudo defendem menos a verdade desportiva e o futebol".


O primeiro parecer

O primeiro parecer, elaborado por Amândio J. M. Barros, Manuel A. Janeira e Ricardo C. Pereira (todos indicados pela Universidade do Porto) e Sílvia A. C. Alves (da Universidade de Lisboa) diz que "os vencedores do Campeonato de Portugal entre as épocas 1921/1922 e 1933/1934 devem ser considerados como campeões nacionais, bem como os vencedores do Campeonato das Ligas, entre 1934/1935 e 1937/1938, que precede o Campeonato Nacional".

No entanto, determina que "os vencedores do Campeonato de Portugal entre 1934/1935 e 1937/1938 devem ser reconhecidos como vencedores da Taça de Portugal", pode ler-se, no documento a que a Renascença teve acesso.

O que significa isto em concreto nas contas? Uma vez que os vencedores das quatro edições do Campeonato das Ligas já estão integrados na atual contagem oficial, esta alteração beneficia, principalmente, Porto e Belenenses, que ganham três títulos de campeões cada.

Sporting e Benfica acrescentam dois títulos de campeão, enquanto que o Marítimo, Carcavelinhos e Olhanense são reconhecidos como campeões nacionais.

No que diz respeito à Taça de Portugal, que contabilizaria as últimas quatro edições do Campeonato de Portugal, o Sporting acrescenta dois títulos, Benfica e Porto um.

No entendimento dos quatro investigadores, ignorar os vencedores do Campeonato de Portugal é "esquecer os primeiros longos anos das competições e a forma como elas foram vividas no país, por uma cada vez maior legião de adeptos. Não devemos ser condescendentes e achar que as provas antes do estabelecimento do quadro competitivo moderno não contribuíram para o fomento da modalidade em Portugal".

Este parecer é ainda completamente contra contabilizar o Campeonato de Portugal como Taças de Portugal, que é a conclusão do segundo parecer. [ver abaixo].

"Não atribuir títulos a coisas que não existiam. Isto é, colocar os vencedores do Campeonato de Portugal no elenco dos vencedores da Taça de Portugal. Não faz qualquer sentido atribuir aos campeões de Portugal (entre 1922 e 1934) o título de vencedores da atual Taça de Portugal porque, pura e simplesmente, ela não existia", pode ler-se.

Porquê mudar em 1938? O parecer explica ainda o motivo para o qual, a partir de 1935 e até 1938, passam a entender que o Campeonato de Portugal deve ser contabilizado como Taça de Portugal.

"Com o aparecimento do Campeonato das Ligas e a ulterior reforma do quadro competitivo do futebol português, não encontrámos provas que refutassem a linha de pensamento seguida pela FPF naquela época: após 1934/1935, o Campeonato das Ligas precede o Campeonato Nacional da Primeira Divisão e o Campeonato de Portugal (desse quadriénio) a Taça de Portugal", pode ler-se.

O segundo parecer

No que diz respeito ao segundo parecer, da autoria de Francisco Pinheiro (nomeado pela Universidade de Coimbra), não implica mudanças na contagem dos campeões.

"O Campeonato de Portugal é prova antecessora da Taça de Portugal e os Campeonatos das Ligas (I e II Liga) antecessores do Campeonato Nacional (I e II Divisão)", esclarece este parecer.

Nesse sentido, "devem ser por isso reconhecidos como campeões nacionais os vencedores dos Campeonatos das Ligas (entre 1934/35 e 1937/1938) e como vencedores da Taça de Portugal os clubes que venceram o Campeonato de Portugal desde 1921/1922".

O que muda? Nada, no que diz respeito aos títulos de campeão nacional.

Uma vez que o Campeonato das Ligas já era contabilizado e reconhecido na contagem atual, este parecer não prevê alteração do palmarés de campeões nacionais, mas mexe apenas na contagem das Taças de Portugal.

Sporting e FC Porto acrescentam quatro Taças, Benfica e Belenenses acrescentam três. Neste parecer, Marítimo, Carcavelinhos e Olhanense juntam uma Taça de Portugal ao palmarés.

O parecer reconhece que "existe sustentação argumentativa e documental para qualquer uma das cinco hipóteses levantadas, mas comprovou-se na documentação uma maior fundamentação e consistência argumentativa para" esta hipótese.

"Esta agregação deve ser feita segundo o princípio da equiparação e não da simples diluição de uma prova noutra. Foi patente na pesquisa a característica singular de cada prova, sustentada na sua própria regulamentação e identidade", pode ler-se.

A equiparação é "é desejável em todos os sentidos, de forma a manter viva a memória e a história das competições nacionais federativas, reconhecendo o seu contributo para o desenvolvimento do futebol português, conferindo-lhes assim a dignidade que merecem no seio institucional que lhes deu origem, respeitando historicamente a documentação e as decisões dos órgãos que fazem “doutrina” no seio da FPF".

Os pareceres vão a votos no fim do mês, mas a realidade é que nenhum dos pareceres dá razão aos 23 títulos de campeão que o Sporting reclama.

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