"À partida, ocorreu fora da escola", diz ministro da Educação sobre caso de agressões a menino nepalês

16 mai, 2024 - 12:02 • João Carlos Malta

Sobre as afirmações da APAV que revelam que há escolas que desvalorizam e não reportam casos de violência, Fernando Alexandre diz desconhecer a existência dessas situações. “Nenhum dos casos de violência pode ser desvalorizado por nenhuma escola”, sublinha.

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O ministro da Educação, Fernando Alexandre, disse, esta quinta-feira de manhã, que não há registo do caso de agressões ao menino nepalês de nove anos, noticiado pela Renascença. “Não sabemos se ocorreu dentro da escola, à partida ocorreu fora da escola ”, disse à margem de um evento numa universidade de Lisboa.

Na noite de quarta-feira, o ministério da Educação afirmava que não havia registo de qualquer caso com os contornos do que foi denunciado pelo Centro Padre Alves Correia (CEPAC). E revelou que identificou a escola onde decorreu a agressão a um menino nepalês, mas que esta não tem registo de "qualquer ocorrência disciplinar".

Segundo o Governo, a direção da escola informou então que "os únicos alunos de nacionalidade nepalesa a frequentar o agrupamento estão no Ensino Secundário", disse ainda "desconhecer por completo o alegado episódio ou qualquer situação semelhante" e que não recebeu "qualquer participação sobre um ato idêntico".

Já esta quinta-feira, Fernando Alexandre reiterou o comunicado da noite de quarta-feira daquele ministério.

Afirmou que a partir do momento que a notícia foi veiculada tentou saber junto das escolas, mas “que com os contornos que foram descritos na comunicação social não temos a identificação do caso”.

“Estas situações merecem a nossa melhor atenção, é um dos grandes desafios que nós temos na educação em Portugal, o grande número de estrangeiros que temos nas nossas escolas que merecem uma grande atenção do ponto de vista da sua integração e sucesso escolar”, afirmou.

O mesmo Fernando Alexandre diz que o ministério “dá toda a atenção a estes casos [de violência] e também a este”.

Sobre as afirmações da APAV que revelam que há escolas que desvalorizam e não reportam casos de violência, o ministro diz desconhecer a existência desses casos.

Nenhum dos casos de violência pode ser desvalorizado por nenhuma escola”, sublinhou.

Já a diretora-geral do Centro Padre Alves Correia (CEPAC), Ana Mansoa; que denunciou um caso de agressão com motivações racistas a um menino nepalês de nove anos, reafirma, numa troca de mensagens escritas com a Renascença “que está em colaboração com as autoridades competentes” e acrescenta que “a verdade será apurada”.

“Qualquer outra informação será veiculada por comunicado oficial emitido pelo CEPAC”, remata.

Perante a insistência da Renascença com mais questões sobre o conteúdo das informações veiculadas pelo Ministério, Ana Mansoa voltou a responder: “Remetemos para o comunicado. Estamos a colaborar com as autoridades competentes na transmissão de informação sobre o caso.”

Num comunicado na tarde de quarta-feira, o CEPAC escreveu que está a cooperar com as autoridades nas diligências do caso do menino nepalês, de nove anos, agredido com violência numa escola de Lisboa por um grupo de seis colegas menores.

"Os factos foram disponibilizados às autoridades competentes, a quem caberá fazer o seguimento da situação", informa o CEPAC na nota escrita.

No mesmo comunicado, a instituição da igreja que apoia imigrantes apela "ao respeito pela privacidade da família e outras partes envolvidas, e em particular das vítimas do episódio sucedido".

O CEPAC, que pertence aos Missionários do Espírito Santo, uma congregação missionária que trabalha sobretudo em África, considera ser da maior importância uma maior sensibilização da sociedade portuguesa e um debate responsável e construtivo na opinião pública "sobre estes fenómenos de violência, discriminação, racismo, xenofobia, alertando para a sua existência".

Governo acompanha caso com "muita preocupação"

Também esta manhã, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria Rosário Ramalho, disse, esta quinta-feira na Casa do Artista, em Lisboa, que o Governo acompanha a denuncia do caso de agressões ao menino nepalês de nove anos com “muita preocupação”.

E acrescentou que o ministério que lidera pediu a CPCJ que fizesse avaliação da situação. “Estamos à espera do que vão dizer e avaliar a partir daí, mas temos uma grande preocupação. As crianças não podem ser agredidas. Não podem ser agredidas. Ponto”, disse a Maria Rosário Ramalho aos jornalistas.

A ministra citou a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, que afirmou que o policiamento será reforçado junto às escolas.

O caso foi noticiado pela Renascença, através de uma denuncia da diretora-geral do Centro Padre Alves Correia, Ana Mansoa, que revelou a existência de um caso de linchamento de um menino nepalês de nove anos por cinco colegas que foi filmado por um sexto e colocado nas redes sociais.

Ana Mansoa criticou a escola pela forma como lidou com o caso. A diretora do CEPAC diz que a instituição não valorizou devidamente as agressões, e apenas um dos alunos envolvidos foi suspenso por três dias.

O menino nepalês ficou com feridas graves em resultado das agressões e ainda hoje se debate com sequelas psicológicas do ataque, acordando com pesadelos e tendo medo de ir à escola, como divulgou a mesma fonte.

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