São Bento à Sexta

Brilhante Dias: "PS até pode ganhar eleições, mas não tem maioria para governar"

11 mar, 2024 - 18:19 • Susana Madureira Martins

Mesmo que venha a ter mais mandatos de deputados do que a AD, ainda com os votos da emigração por apurar, o PS opta por ficar na oposição em qualquer caso. Num São Bento à Sexta especial pós-eleições, Eurico Brilhante Dias explica que, com o Chega, a direita terá a maioria absoluta no Parlamento, o que não dá condições aos socialistas para formarem governo. Miranda Sarmento, do PSD, admite IL no Governo.

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Brilhante Dias: PS "até pode ganhar eleições, mas não tem uma maioria para governar"
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Perante os resultados das eleições deste domingo que dão vantagem (provisória) à AD e ainda sem o apuramento de quatro mandatos da emigração, o socialista Eurico Brilhante Dias considera que o Presidente da República é "um dos principais derrotados da noite" eleitoral deste domingo.

Em declarações ao programa da Renascença São Bento à Sexta, transmitido esta segunda-feira, o dirigente socialista diz que, "evidentemente, aquilo que aconteceu ontem foi tudo aquilo que não devia ter acontecido e que não procurou, seguramente, o senhor Presidente da República, quando procurou dissolver a Assembleia da República".

Brilhante Dias conclui mesmo que "foi o pior resultado". Questionado se com a mensagem do dia de reflexão, Marcelo Rebelo de Sousa acabou a condicionar o ato eleitoral deste domingo, o líder parlamentar do PS respondeu que as decisões que "misturam justiça com política" penalizaram "fortemente" o PS, "adubando o caminho à extrema-direita".

Esta é uma tese que, de resto, já foi ensaiada no domingo por António Costa, que à chegada ao hotel Altis para acompanhar a noite eleitoral do PS defendeu que os casos judiciais que surgiram no percurso da maioria absoluta ajudaram ao crescimento dos populismos.

Brilhante Dias refere que o Chega fez "da corrupção o centro desta campanha eleitoral" dando ao país o que que considera ser "o pior dos resultados" em que nenhuma "alternativa democrática se constituiu de forma sólida".

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"PS não tem maioria alternativa para oferecer aos portugueses"

Independentemente do resultado nos círculos da emigração, que em teoria podem aumentar o número de deputados socialistas, Brilhante Dias defende a tese de que o PS está sempre derrotado à partida, mesmo que venha a ter um grupo parlamentar maior ou igual ao do PSD.

Para o dirigente do PS, Pedro Nuno Santos "não tem uma maioria alternativa para oferecer aos portugueses, independentemente daquilo que acontecer com os resultados dos círculos de emigração".

Brilhante Dias vai ao ponto de admitir que "o mais provável" é que a esquerda tenha "um número superior de deputados do que a direita sem o Chega", mas "a verdade" é que para os socialistas é líquido que não consegue assumir "uma alternativa que possa ser governo" e que, sobretudo, seja estável e que não deixe o PS a arder em lume brando durante sabe-se lá quanto tempo.

Os socialistas quiseram assim despachar qualquer responsabilidade de Governo quer para a AD, quer para o próprio Presidente da República, em nome da rapidez e para evitar "ter o país num impasse", segundo Brilhante Dias.

Apoio parlamentar do Chega? "É normal nesta geometria"

Se se confirmar que Luís Montenegro é indigitado como primeiro-ministro pelo Presidente da República, para Joaquim Miranda Sarmento governar será simples: há uma maioria relativa. É certo que não se sabe se haverá uma moção de rejeição ao programa de Governo, mas não havendo, o líder parlamentar do PSD, assume que o executivo "entra em funções no quadro constitucional".

Entrando em funções, o Governo de Luís Montenegro toma decisões ou submete ao Parlamento essas decisões. É aí que terá de procurar apoios, admite o líder parlamentar do PSD e número dois na lista da AD por Lisboa nas eleições de domingo.

E se o apoio parlamentar tiver de vir do Chega, será. Miranda Sarmento salienta que, na legislatura passada, houve "milhares de votações" e que, por exemplo, "as propostas de alteração aos três orçamentos que foram votados, muitas vezes vimos o Chega votar favoravelmente propostas de outros partidos". Para o dirigente do PSD isso "é normal nesta geometria".

Neste novo xadrez político, o dirigente do PSD não coloca o PS de fora do tabuleiro. Ao apresentar a proposta de Orçamento do Estado para 2025, a AD deixa "a cada partido a responsabilidade daquilo que quer ser". Miranda Sarmento acrescenta que "cada partido tomará as suas responsabilidades".

O dirigente do PSD adianta que aí se verá se o PS "quer que o país volte a ter eleições a breve trecho, ou se entende que houve aqui um sinal de mudança e que a AD tem legitimidade para governar".

Mas, afinal, que garantias de estabilidade de Governo pode dar a AD numa situação de maioria relativa? Para Miranda Sarmento, é muito simples o que Montenegro vai dizer ao Presidente da República. A AD só pode ser quebrada com Chega e PS a funcionarem juntos.

"As condições de estabilidade serão aquelas que foram conferidas pelo povo português, uma maioria relativa, a possibilidade de governar e, sobretudo, que este governo só pode ser derrubado com uma coligação negativa entre o PS e o Chega", resume o dirigente do PSD.

A AD quer tirar o PS da trincheira da oposição em que Pedro Nuno Santos meteu os socialistas. Para Miranda Sarmento, a questão é "se queremos dar estabilidade ao país e não estar aqui sucessivamente em eleições", evitando o "que aconteceu em Espanha nos últimos anos".

A responsabilidade por garantir a estabilidade política é, "antes de mais", da AD, mas é partilhada pelos "outros partidos" e, sobretudo, por aquele que se assume como "o maior partido da oposição", conclui Miranda Sarmento.

IL pode entrar no Governo

Na formação do novo Governo da AD, Joaquim Miranda Sarmento não coloca de parte que Luís Montenegro chame a Iniciativa Liberal (IL) para dentro do executivo. A coligação pós-eleitoral "pode ter vários figurinos", admite.

O modo como a IL irá jogar dentro da AD depende "obviamente" de uma negociação, assume o líder parlamentar social-democrata. A IL é visto como "um parceiro possível de futura governação, seja no governo ou apenas com o grupo parlamentar", conclui.

Isso, obviamente, dependerá da negociação entre a AD e o partido liderado por Rui Rocha e dependerá ainda daquela que for a decisão dos órgãos de direção de cada um dos partidos que integram a AD.

A opção dos socialistas, porém, é outra, com Eurico Brilhante Dias a assumir que, se houvesse uma maioria de esquerda, o PS "devia governar e governar em conjunto". Mas, "o pior que pode acontecer ao país é não ter uma alternativa democrática para governar", assume o líder parlamentar socialista.

Apesar de não se saberem os resultados finais, apesar de o PS "até poder ganhar as eleições, não tem uma maioria para governar", insiste Brilhante Dias. Os socialistas querem ir para a oposição, dando, por um lado, tempo a Pedro Nuno Santos para se afirmar e, por outro, evitam deixar o campo do protesto aberto ao Chega.

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