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João Ferreira do Amaral
Opinião de João Ferreira do Amaral
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Inquietação

07 jul, 2022 • Opinião de João Ferreira do Amaral


Como irá a Zona Euro reagir se o aumento das taxas de juro e o fim do programa de aquisição do BCE desencadearem dificuldades de financiamento nos mercados?

Agora que o Banco Central Europeu deixa de comprar activos financeiros na forma como vinha fazendo desde há alguns anos, ou seja, reduz o apoio à situação das finanças públicas dos diversos estados, em especial dos mais endividados, vai surgindo uma grande inquietação relativamente ao futuro da Zona Euro.

Sabíamos que aquela actuação do BCE teria de ser limitada no tempo – e até foi mais prolongada do que se admitia, em grande parte devido à pandemia. Sabíamos também que o processo inflacionista que se desencadeou a partir da recuperação pós-pandémica e que se agravou com a guerra na Ucrânia levaria inevitavelmente a um aumento das taxas de juro.

Mas sabendo tudo isto, a inquietação permanece e condensa-se na seguinte interrogação: Como irá a Zona Euro reagir se o aumento das taxas de juro e o fim do programa de aquisição do BCE desencadearem, em alguns dos países da zona euro, dificuldades de financiamento nos mercados?

Deste ponto de vista, a situação é significativamente mais perigosa do que a existente em 2010, quando as dificuldades de financiamento da Grécia e depois de Portugal e outros países se fizeram sentir.

Com efeito, no início da crise financeira, em 2008, a proporção da dívida pública no PIB, no que respeita a toda a zona euro era de 69,7%. Actualmente é de 97,4%. França Itália e Espanha têm hoje respectivamente 112,8%, 150,8% e 118,4% de dívida pública sobre o PIB, muito mais do que tinham em 2008. Ao mesmo tempo, a Alemanha mantém um endividamento baixo, pelo que tal trará um aumento da tensão dentro da zona euro quendo se vier a discutir a forma de fazer face a dificuldades de financiamentos estatais.

Se nos lembrarmos da atitude da Alemanha em 2010 - 2011, como podemos não estar inquietos?

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