Emissão Renascença | Ouvir Online
Henrique Raposo
Opinião de Henrique Raposo
A+ / A-

​Porque é que gosto de Jesus?

07 out, 2022 • Opinião de Henrique Raposo


Ele ouve quem à partida não tem voz reconhecida pelo mundo. As crianças, as mulheres, os pobres e os pecadores podem não ter voz no mundo dos homens, mas têm voz no Reino.

Há dias, numa conversa sobre fé, comecei a falar da diferença entre a abordagem dominicana e a abordagem franciscana. O meu interlocutor teve um desabafo sincero: "Mas estás a falar do quê?". Por vezes, deixamo-nos mesmo levar por discussões teóricas que acabam por secar o fundamental. É por isso que neste ano de crónicas aqui na Renascença irei seguir a grelha da catequese das minhas filhas. As perguntas mais simples são muitas vezes esquecidas pelas tais bizantinices.

A primeira pergunta que elas têm pela frente na catequese é esta: porque é que eu gosto de Jesus?

Em primeiro lugar, gosto de Jesus precisamente porque ele simplifica tudo e responde sempre com o concreto e nunca com ideias abstratas e desumanas. Ele seria o primeiro a rir-se do meu excesso de pedantismo teológico.

Em segundo lugar, gosto de Jesus porque ele dá importância a quem à partida não tem importância. As contas do Reino são diferentes das contas do mundo dos homens. Ele dá importância às crianças, para começar. Ele ouve as crianças quando não é suposto fazê-lo. Ele sabe que muitas vezes é preciso olhar para o mundo com o interesse e a simplicidade de uma criança - um olhar limpo das manias e modas de cada momento. Ele também dá importância às mulheres, que, na época, também não tinham lugar de destaque. Não me lembro de uma passagem do Evangelho em que Jesus seja crítico ou duro com uma mulher. Quando uma mulher interrompe uma conversa entre homens, profanando assim os códigos sociais, Jesus ouve essa voz feminina e manda calar os homens.

Ele dá importância aos pobres, aliás, Ele começa por nascer entre os pobres dos pobres, os pastores, que eram desprezados por todos. Para terminar, ele até dá importância aos pecadores e aos alegados vilões, os cobradores de impostos, por exemplo.

É por isso que eu gosto de Jesus. Ele ouve quem à partida não tem voz reconhecida pelo mundo. As crianças, as mulheres, os pobres e os pecadores podem não ter voz no mundo dos homens, mas têm voz no Reino. Tudo o resto, a começar na diferença entre o intelectualismo dominicano e o empirismo franciscano, é secundário e vem depois. Se me esquecer disto, nada importa.


Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Desabafo Assim
    13 out, 2022 Porto 07:55
    É mais fácil falar de Deus às crianças que de Jesus Cristo, Deus é pai que cuida, ele na sua grandeza atribuiu a cada um dos escolhidos um anjo, esse anjo é nosso, somos nós a sua missão, cada um de nós tem de por um pratinho de bolachas e um copo de leite debaixo da árvore de Natal ('princepesinho"). Na verdade Cristo nasce em nós só quando a besta se revela, uma contra força não instalada na infância, "nada te disse até agora sobre ti, pois agora te digo" ao jovem e ao adulto.
  • Ivo Pestana
    10 out, 2022 Funchal 11:43
    "Um rico, que se fez pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza", como não gostar, admirar e seguir. Pena, que muitos cristãos sejam hipócritas...adulterando o caminho, a verdade e a vida, assim como levando ao ateísmo de muitos.
  • João Lopes
    08 out, 2022 Porto 11:59
    Análise sensata.
  • Rui Pelerigo
    07 out, 2022 Algés 19:19
    Não acredito em Deus em Jesus ou qualquer outro mensageiro. Prefiro o José Saramago... Estou cheio, farto de crendices.