07 out, 2022 • Beatriz Lopes
Imagina ficares 24 horas sem Wi-Fi. O que farias? Agarravas num livro e sentavas-te, calmamente, no sofá à espera que o tempo passasse? Ou ligavas à operadora e propunhas um braço de ferro para testar quem teria mais paciência e nervos de aço?
Afinal, quanto tempo conseguem os jovens passar desconectados? É esta a pergunta a que se têm dedicado muitos investigadores como Vitor Tomé, especialista e formador nas áreas da educação para os média e da literacia digital. E o diagnóstico está feito: os jovens sofrem de ''ansiedade mediática'' e precisam de saber geri-la.
"Nós precisamos do Wi-Fi. Aliás, o que os estudos mostram é que nós desbloqueamos o telemóvel 80 a 110 vezes por dia. Lembro-me de ter feito um trabalho com alunos para perceber se conseguiriam viver sem o telemóvel 24 horas. A resposta é de que é possível fazê-lo, mas isso cria uma "ansiedade mediática", tal como diria Pérez Tornero. E essa ansiedade mediática de não sabermos o que está a acontecer, e de estarmos desligados, é algo que importa gerir. Não é assim tão fácil desligar do online e depois voltarmos e estar tudo normal, porque não está."
De acordo com o estudo Digital Consumer Survey Portugal 2021, os portugueses passam cerca de 10 horas por dia ligados à Internet através do telemóvel, computador e até colunas e televisões inteligentes, mas Vitor Tomé alerta: o problema não se prende tanto com o tempo que os jovens passam na internet, até porque "o uso diário de tecnologia é comum", "mas é preciso perceber o que fazem os jovens quando estão com o telemóvel, se aproveitam o tempo da melhor forma".
"Na União Europeia, um terço dos jovens de 15 anos não tem as competências digitais básicas que deveria ter e é necessário fazer algo nesse sentido. Isso não significa que não usem telemóvel, a preocupação é que não sabem tirar partido dele. O telemóvel serve não só para comunicar e para entretenimento, mas também para aprender, pesquisar, trabalhar."
Na opinião do professor auxiliar na Universidade Autónoma de Lisboa, "não é verdade que quem não está na internet não existe", mas os que optam por fazê-lo devem ter alguns cuidados: gerir a identidade digital, mas, sobretudo, "trabalhar muito bem a questão dos dados pessoais"
"As pessoas partilham os dados com a maior das facilidades, sem se questionarem. Quando há um produto novo no mercado, imagine-se chocolate para adicionar ao leite, e dizem: 'Quer receber três amostras? Então coloque aqui os dados'. E as pessoas vendem os dados por três pacotes de chocolate para adicionar ao leite. Outro exemplo, são as fotografias que se colocam online e que, depois, podem vir a ser a base de problemas que prejudicam a identidade da pessoa. Aquilo que se coloca online nunca mais sai de lá. Isto não é para assustar, é para que as pessoas comecem a gerir".
No Geração Z desta semana, falamos sobre a relação dos jovens com o mundo digital e tecnológico. Onde é que os jovens passam mais tempo e o que consomem na internet? De que forma é que os pais podem afastar os filhos dos tablets sem que percam a corrida tecnológica? As gerações mais novas ainda se movem pelo número de likes e pela aprovação por parte dos outros ou há mudanças nos padrões de consumo? Quem é que não está a fazer o suficiente para controlar a desinformação que circula? As próprias redes sociais? Os governos? Há culpados?
Neste episódio, Vitor Tomé desafia ainda os jovens para um "rebenta a bolha": está na hora de contornar os algoritmos e de procurar opiniões e preferências de quem pensa de forma diferente.
"Os jovens devem falar sobre o uso que fazem dos média e tentar perceber quando é que estão a viver dentro de bolhas, quando é que estão a viver dentro de grupos que pensam todos uniformemente e da mesma maneira. É necessário saber olhar para os média de uma janela ampla e perceber diferentes perspetivas sobre os mesmos assuntos sejam eles ambientais, sejam eles sobre jovens, sobre saúde, ou o que seja”.