Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Instabilidade governamental em 2023

27 dez, 2023 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


António Costa chefiou o executivo desde 2015, mas enfrentou mais instabilidade no governo de maioria absoluta do que nos seus dois anteriores governos, de 2015 a 2019 e de 2019 a 2022. Nos cinquenta anos do 25 de Abril é imperativo salvaguardar a democracia.

No dia 30 de janeiro de 2022 as eleições deram uma inesperada maioria absoluta ao PS, fenómeno raro no regime eleitoral que entre nós foi adotado. Esperava-se um período de estabilidade governamental, mas foi o contrário que aconteceu. António Costa chefiou o executivo desde 2015, mas enfrentou mais instabilidade no governo de maioria absoluta do que nos seus dois anteriores governos, de 2015 a 2019 e de 2019 a 2022.

Ao longo do ano que está prestes a acabar o governo de A. Costa continuou envolvido numa interminável série de “casos e casinhos”. Mas em novembro passado A. Costa demitiu-se, na sequência da abertura de um inquérito pelo Supremo Tribunal de Justiça. Daí novas eleições, a 10 de março próximo.

O Estado atravessou 2023 sem crises de confiança externa na sua capacidade de pagar a dívida pública, que começou a reduzir. Mas o crescimento da economia foi modesto. A pobreza não recuou e o número dos sem-abrigo aumentou.

Vários setores encontram-se em crise, mas talvez nenhum em situação tão preocupante como a saúde. O número de famílias sem médico subiu, os problemas nas urgências hospitalares não diminuíram (obrigando os doentes a longuíssimas horas de espera), o Serviço Nacional de Saúde sobrevive “preso por arames”, o que é dramático para quem não tem dinheiro para procurar ajuda nos privados.

Regista-se uma quebra de confiança nas instituições, que afetou até o Presidente da República. E mais um ano passou sem que o poder político tenha tomado uma decisão sobre onde construir o novo aeroporto de Lisboa.

A perspetiva para 2024 é de uma provável instabilidade política, pois não haverá certamente uma nova maioria absoluta. O país político deveria habituar-se a coligações governamentais, como acontece noutros países europeus, mas tudo indica que não será para já.

Nos cinquenta anos do 25 de Abril é imperativo salvaguardar a democracia. Regressar à ditadura não é uma perspetiva aceitável, mesmo para os que não viveram no antigo regime.

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