Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Inflação e crescimento económico

04 dez, 2023 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A subida dos preços em Portugal e na zona Euro atenuou-se mais do que o esperado. Irão os juros do BCE descer? Provavelmente não no corrente mês.

Na semana passada tivemos uma boa notícia – a subida de preços em Portugal terá ficado por 1,6% em novembro. E outra notícia, menos boa – no terceiro trimestre do corrente ano o PIB baixou 0,2% relativamente ao segundo trimestre; se no quarto trimestre o PIB voltar a descer, a economia portuguesa terá entrado em recessão.

Acontece que estas notícias, a boa e a menos boa, não surgem ao mesmo tempo por coincidência ou por acaso. O combate à inflação é feito pelo Banco Central Europeu (BCE) subindo juros, o que trava o crescimento da economia. Ainda não se descobriu uma maneira melhor de combater a alta de preços; os que criticam a subida dos juros pelo BCE não apresentam, infelizmente, um remédio alternativo.

Ora a inflação equivale a um imposto sobre o rendimento das pessoas, que afeta sobretudo quem tem rendimentos baixos. É uma situação que os consumidores ricos suportam sem dificuldade, mas os pobres não. Por isso combater a inflação é um imperativo de justiça social.

Outra coisa é mitigar os efeitos negativos da inflação, por exemplo baixando impostos ou subsidiando certos preços. Atenuam-se assim os efeitos negativos para os baixos rendimentos, mas persiste o surto inflacionista.

Na zona Euro, onde Portugal se encontra, já foi possível, em novembro, uma baixa da inflação para 2,4%, não muito distante do objetivo do BCE de a trazer para 2%. E a chamada inflação subjacente (a que não inclui os preços, mais voláteis, da alimentação e dos combustíveis) passou de 4,2% em outubro para 3,6% em novembro. Irão os juros do BCE descer?

Provavelmente não no corrente mês. É certo que várias economias da zona euro estão em risco de recessão, como é o caso de Portugal. Mas a recente subida do preço do petróleo, provocada por cortes na produção de países da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) é uma ameaça à estabilidade de preços na zona Euro.

De facto, a OPEP anunciou no dia 30 de novembro um novo corte na sua produção de petróleo. A partir de janeiro de 2024, o grupo vai reduzir em quase 2,2 milhões de barris de petróleo por dia a oferta no mercado internacional.

Por outro lado, a experiência recente já mostrou que a relutância em subir juros da parte do BCE se paga cara com uma inflação mais duradoura.

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