27 nov, 2023
Há uma semana Geert Wilders e o seu partido obtiveram uma maioria relativa nas eleições nos Países Baixos. É mais um sinal dos avanços da extrema-direita europeia, que se reuniu em Lisboa, para grande satisfação do Chega.
A hostilidade à imigração e, sobretudo, o receio do Islão são bandeiras comuns a estes partidos radicais. Ora eles também pretendem uma “nova Europa”. Estranha-se essa posição da parte dos Países Baixos, que, com a Bélgica e o Luxemburgo, criaram a Benelux em 1944, ainda antes de existir a Comunidade Económica Europeia (CEE).
Mas o partido de G. Wilders há longos anos que critica a União Europeia (UE), antes CEE. Agora defende a saída do seu país da UE. O Chega afirma não pretender que Portugal abandone a UE, mas quer caminhar para uma “nova Europa”. Certamente uma Europa menos integrada no plano político, talvez uma mera zona de trocas livres, como era a EFTA.
A extrema-direita europeia quer restaurar a plena soberania nacional nos Estados membros da UE. Ou seja, nada de novo, apenas um retrocesso na integração europeia.
Além disso, estes partidos de extrema-direita visam tornar as democracias liberais dos seus países em democracias iliberais, isto é, em regimes autoritários que verdadeiramente já não são democracias. Veja-se o caso da Hungria de Viktor Orbán.
V. Orbán começou por se opor, e bem, ao poder comunista na Hungria. Mas, uma vez no governo, após o colapso do comunismo soviético, tem-se dedicado a retirar ao regime do seu país as caraterísticas essenciais de uma democracia autêntica. A justiça passou a depender do poder político, a liberdade de expressão foi limitada pela compra por parte de empresários amigos políticos de V. Orbán dos principais órgãos de comunicação (assim evitando a censura), as eleições na Hungria passaram a parecer-se muito com as eleições em Portugal nas últimas décadas do Estado Novo – nem livres nem justas.
V. Orbán quer travar o apoio da UE à Ucrânia e não esconde a sua proximidade a Putin. A deriva autoritária de V. Orbán acentua-se numa altura em que a Polónia parece ter travado essa tendência nefasta, com o próximo regresso de Donald Tusk ao governo em Varsóvia.
O Tratado de Roma, de 1957, já previa algumas decisões do Conselho Europeu por maioria e não por unanimidade. Assim, um Estado membro pode ter que aceitar uma decisão da qual discorda. Hoje, com o previsto alargamento da UE, mais decisões por maioria serão indispensáveis.
Os partidos de extrema-direita querem uma Europa sem integração política. E tendem a favorecer regimes políticos autoritários. Tudo que é do passado. A “nova Europa” é afinal velha.