Siga-nos no Whatsapp
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

​A. Costa e a corrupção

13 nov, 2023 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O primeiro ministro demissionário parece não se ter dado conta de que o país enfrenta um preocupante caso de corrupção ao mais alto nível do Estado. A classe política, que é atingida por este caso, não poderá ter uma atitude passiva face à corrupção.

António Costa falou em direto ao país no passado sábado. Com o pretexto de dar confiança aos investidores estrangeiros, traçou um quadro da intervenção governamental, quanto a investimentos em lítio e em Sines, por exemplo. A. Costa não falou das suspeitas que levaram o Ministério Público (MP) a investigar; mas as suas palavras pareceram-me uma justificação indireta da atuação dos seus colaboradores que suscitaram suspeita – uma atuação visando apenas eliminar obstáculos a importantes investimentos, tudo normal...

O primeiro ministro demissionário parece não se ter dado conta de que o país enfrenta um preocupante caso de corrupção ao mais alto nível do Estado. Independentemente do que a justiça vier a decidir sobre as suspeitas agora levantadas, impressiona que essas suspeitas envolvam ministros e ex-ministros do PS, altos funcionários e pessoas próximas de A. Costa.

A opinião pública está abalada com este choque, que deixa mal colocada a classe política. Mas só agora A. Costa demitiu o seu chefe de gabinete, por terem sido encontrados no seu espaço de trabalho 75 800 euros em notas, disfarçadas em envelopes no meio de livros e noutros esconderijos. Paralelamente, ministros constituídos arguidos tomaram insólitas atitudes de desafio, como aconteceu com J. Galamba.

O partido socialista nunca encarou com determinação o fenómeno da corrupção, não obstante os meritórios mas ineficazes esforços de alguns dos seus membros, como J. Cravinho, pai do atual ministro dos Negócios Estrangeiros. As poucas tentativas de combater a corrupção foram rapidamente metidas na gaveta. E nunca se viu que A. Costa se empenhasse em combater a corrupção, no partido e no Estado. Veja-se o caso de J. Sócrates, que o PS se apressou a procurar esquecer, parecendo agora esboçar uma reação semelhante.

A maioria absoluta do PS nas eleições de janeiro de 2022 terá contribuído para difundir no partido uma sensação de impunidade – passou a valer tudo.

Perante o que publicamente se passa aos nossos olhos desde a passada terça-feira, os mais otimistas salientam ser um bom sinal terem sido lançadas suspeitas sobre figuras altamente colocadas – será prova de que a justiça funciona e de que ninguém está acima da lei. Pelo contrário, os pessimistas duvidam que venham a ser condenados por corrupção os agora constituídos arguidos.

Seja como for, é hoje um imperativo para os líderes políticos e partidários terem uma atitude exigente e corajosa face a suspeitas de corrupção. Atitude que A. Costa nunca teve.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • ze
    13 nov, 2023 aldeia 11:31
    O 1ºministro demissionário é de uma inteligência muito superior.....se a tentarmos comparar com outro ex 1º ministro também do mesmo partido que inclusive esteve preso,mas que depois a "justiça" parou no tempo!........