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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Os bancos centrais e a inflação

17 mar, 2023 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Depois dos sustos bancários, a subida dos juros vai continuar a combater a inflação. Até agora com fraco sucesso, provavelmente porque os bancos centrais dos EUA e da zona euro tardaram a subir os juros.

Numa semana marcada pelo nervosismo provocado pelos problemas de alguns bancos nos EUA e por uma queda brutal da cotação do Crédit Suisse, muitos esperavam que o Banco Central Europeu (BCE) abrandasse a subida dos seus juros diretores ou, até, que agora não os subisse. Mas o BCE subiu ontem, em 50 pontos base, esses juros. O motivo de não abrandar a subida dos juros está em que, se tal fizesse, o BCE perderia credibilidade no seu combate à inflação.

Os bancos centrais foram decisivos nesta semana para acalmar os mercados. A Reserva Federal (Fed), o banco central americano, juntamente com o Departamento do Tesouro, garantiram que os depositantes nos bancos em dificuldades não perderiam dinheiro. A Fed adiantou ainda uma linha de crédito em condições muito favoráveis aos bancos durante um ano. Na Europa o banco central da Suíça abriu um crédito de 50 mil milhões de francos (50,7 mil milhões de euros) para apoiar a liquidez do Crédit Suisse.

Recentemente Jerome Powell, presidente da Fed, alertou para que iria subir os juros mais do que se pensava. Em janeiro a subida havia sido de 0,25%; veremos se na próxima semana a Fed avançará com uma maior subida. E Christine Lagarde, presidente do BCE, anunciara há semanas que iria manter, como manteve, uma subida de 50 pontos base. Esta subida de juros é a mais rápida dos últimos 40 anos.

A Fed e o BCE estão a voltar a uma política monetária mais restritiva, depois de a Fed ter abrandado a subida dos juros e o BCE ter suscitado esperanças de que também o viesse a fazer. Isto acontece porque a inflação, depois de abrandar, também voltou a acelerar nos Estados Unidos e na Europa – em fevereiro a inflação subiu em Espanha, França, Alemanha e Irlanda. Na zona euro a inflação “core”, excluindo alimentação e energia, atingiu máximos em fevereiro.

Significa isto que subir os juros dos bancos centrais para combater a inflação não resulta? Não necessariamente. Nos últimos vinte anos os bancos centrais das economias emergentes conseguiram, com políticas monetárias restritivas, dominar surtos violentos de inflação.

Ora em 2022 a Fed e o BCE – mais o BCE do que a Fed – atrasaram-se a subir os seus juros, na esperança de que a inflação fosse um fenómeno temporário. Não era, e esse atraso levou a que as expectativas inflacionistas se enraizassem profundamente nas cabeças de americanos e europeus, tornando o seu combate mais difícil.

Se os bancos centrais dependessem dos governos provavelmente os juros não subiriam tanto e a inflação instalar-se-ia por muitos anos. Aliás, os críticos da independência dos bancos centrais não apresentam uma alternativa credível à subida dos juros para dominar a inflação.

Claro que há sempre figuras originais, como Erdogan, que impõe juros baixos ao banco central turco, com isso agravando muito a inflação. Mas a maioria dos países prefere democraticamente bancos centrais independentes e juros altos a combaterem a inflação.

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