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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​Reflexões pós-eleitorais

18 mar, 2024 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Não será fácil levar para o governo da AD ministros de qualidade. Mas os melhores deverão encarar de bom grado este serviço a Portugal.

Na longa noite eleitoral do passado dia 10, quando Pedro Nuno Santos afirmou que o PS seria oposição, sem esperar pelos resultados da emigração, pareceu-me que o líder socialista não queria ficar à frente da Aliança Democrática (AD) na contagem dos votos. E que P. N. Santos encarou com alívio não ter que governar.

Um motivo plausível para essa atitude seria a grande dificuldade de governar sem maioria no parlamento. Outra possibilidade terá sido a vontade, que P. N. Santos provavelmente sentiu, de acabar com o incómodo de ser, ao mesmo tempo, uma bandeira de mudança e um exemplo de continuidade.

Quem não se assustou com a perspetiva de ficar à frente de um governo minoritário foi Luís Montenegro. O líder do PSD manteve a sua recusa em fazer acordos com o Chega, que dariam à AD e ao Chega uma larga maioria parlamentar. Horas antes, André Ventura tinha-se apressado a reclamar fazer parte de um governo liderado pela AD.

Ficou definitivamente esclarecida uma questão que durante muitos meses levou adversários do PSD a atacarem a credibilidade de Montenegro. O que agora leva o PS a abandonar a sua estratégia de “picar” o Chega para atrapalhar o PSD. A tendência do Chega para defender políticas e valores característicos do regime derrotado no 25 de abril de há cinquenta anos deve preocupar os partidos e os políticos que não querem um regresso mais ou menos encapotado a esse regime.

Com a sua espetacular subida eleitoral o Chega continuará, assim, a ser um partido de protesto. Aos partidos democráticos cabe não dar aso às insatisfações dos que protestam, governando melhor e sendo oposição leal mas efetiva. A AD terá de apresentar ao país um governo de qualidade, que conquiste o respeito e até o apoio dos portugueses.

Não será fácil levar para o governo da AD ministros de qualidade. Alguns poderão não aceitar fazer parte de um executivo de duração incerta. Mas os melhores deverão encarar de bom grado este serviço a Portugal.

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