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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​A seca e as culturas consumidoras de água

26 jan, 2022 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Não obstante a seca que avança no Algarve, multiplicam-se ali as plantações de abacate. Estas plantações consomem quatro vezes mais água do que as tradicionais laranjeiras.

O mês de janeiro vai quase no fim e o tempo continua seco. Não chove. Sucedem-se os dias de sol. Tempo agradável para a maioria dos portugueses, que vivem em meios urbanos. E tempo certamente simpático para os turistas que começam a regressar ao nosso país.

Mas não esqueçamos o reverso da medalha: a falta de chuva agrava a seca, que já se estende praticamente a todo o território continental. Segundo afirmou há dias à Renascença a climatologista Vanda Pires, do Instituto do Mar e da Atmosfera, tudo indica que o Algarve e o Alentejo entrem em breve na categoria de seca extrema e que o resto do país evolua de seca fraca para seca moderada.

Para que tal não se verificasse, de acordo com a mesma fonte, seria preciso que chovesse durante os meses de fevereiro e março, mas não de uma forma abrupta ou muito intensa. Ora o que temos visto desde há alguns anos são secas crescentes e quase simultaneamente chuvas violentas e excessivas.

As alterações climáticas não são infelizmente uma fantasia. Temos de as enfrentar para reduzir tanto quanto possível os seus efeitos negativos, entre os quais a progressiva falta de água.

Por isso choca saber que no Algarve, não obstante a seca que ali avança, se multiplicam as plantações de abacate. Estas já ocupam uma área que é quase o dobro da área que ocupavam em 2018. O problema é que a cultura do abacate consome quatro vezes mais água do que as tradicionais laranjeiras algarvias, como a Renascença também noticiou.

Quem agora investe em culturas altamente consumidoras de água poderá obter altos lucros durante uns tempos e depois ter que desistir por falta de água. Parece que já se registam alguns desistentes.

Esses investidores podem limitar as perdas porque abandonam o terreno, depois de alguns anos de confortáveis lucros; mas os outros habitantes da Algarve, ou a maioria deles, esses permanecem. Serão eles que irão pagar o essencial do custo de um terreno seco e improdutivo.

Comentários
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  • Cidadao
    26 jan, 2022 Lisboa 09:44
    Que tal em vez de olharem para o Céu à espera de chuvas que não veem, que tal começarem a construir canais de irrigação que movimentem água por todo o País, e a tragam de onde ela é mais abundante para onde ela não existe? Que tal uma rede de estações dessalinizadoras que transformem a água do mar em água potável, pelo menos para a industria, lavagens, e consumos que não humanos? Custa dinheiro? A TAP, a Banca, as PPP's também e para lá vão anualmente milhares de milhões dos nossos impostos, dinheiro que nunca mais vai ser visto. Que tal empregá-lo em coisas que interessam?