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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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Mais empregos, piores empregos

09 jan, 2018 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Portugal tem, cada vez mais, uma economia de salários baixos e precários.

O INE estima que a taxa de desemprego em Novembro último se tinha situado nos 8,2% da população activa, o valor mais baixo desde Dezembro de 2004. A redução do desemprego, estimulada por uma economia que cresce, é sem dúvida um traço positivo da presente conjuntura económica e social.

Mas nem tudo corre bem nessa área, sobretudo se recordarmos os objectivos dos governantes. Estes têm insistido não só em mais empregos, como também em melhores empregos. António Costa e o seu governo mostram-se contrários a políticas de baixos salários, que acusam o executivo anterior de ter prosseguido.

O problema está em que, sendo certo haver agora mais empregos, a maioria dos novos postos de trabalho é pior paga e de carácter mais precário. Ou seja, o contrário daquilo que o Governo desejava e prometia.

Ontem soube-se que Portugal foi o país da UE onde o desemprego jovem mais cresceu entre Setembro e Outubro do ano passado. Já no terceiro trimestre de 2017 se tinha registado um agravamento do desemprego da população jovem em relação ao segundo trimestre.

É certo que, em comparação com anos anteriores, a situação melhorou. Mas não deixa de ser uma preocupante inversão de tendência. Um terço dos jovens continua em Portugal sem emprego, apesar de muitos terem já emigrado.

Na sexta-feira passada, o barómetro do Observatório das Crises e Alternativas, de Coimbra, alertava para que o número de contratos permanentes, sem termo, não aumentou com a recuperação económica.

Mais preocupante: regista-se uma degradação do nível médio dos salários nos novos contratos permanentes. A precariedade cresce. Se bem me lembro, estas tendências negativas já eram apontadas no barómetro de há um ano.

É o resultado natural de a retoma económica se verificar sobretudo em áreas ligadas ao turismo (alojamento, restauração, etc.) e noutros sectores de baixa produtividade e que requerem modestas qualificações.

Decerto que fazer com que Portugal deixe de ser uma economia de baixos salários não é tarefa que se concretize em pouco tempo. Mas importa reconhecer que a tendência em curso é negativa e não positiva.

A propaganda governamental, ao sugerir que já não somos um país de baixos salários, acentua ilusões e atrasa a solução do problema.

Comentários
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  • Pedro Silva
    09 jan, 2018 Lisboa 22:46
    Não foi o professor Sarsfield Cabral que apoiou a política de baixos salários durante o (des)governo de Pedro Passos Coelho? Sarsfield Cabral e Graça Franco são hoje a face visível da decrepitude das opiniões (des)formadas da Renascença.
  • António Costa
    09 jan, 2018 Cacém 14:57
    O Rogério Silva, do Porto colocou o dedo no problema. Se uma empresa não tem dinheiro para pagar aos empregados, não funciona, deve encerrar. Ganhar dinheiro, com pessoas a trabalhar de graça qualquer um é "empresário". A falta de respeito por quem trabalha, apareceu em força com a queda do muro de Berlim, no final do século passado. Com as brigadas blindadas do Pacto de Varsóvia estacionadas na Alemanha, a "música" era outra, não é verdade? Parece que o "respeito" para "certas pessoas" só existe com "rédea curta"!
  • Ricardo Martins
    09 jan, 2018 Lisboa 13:03
    Curioso este artigo do Dr. Cabral no tempo dos pafiosos apoiou em delírio total a liberalização total dos despedimentos promovida pelo amigo o DR . Coelho , e mais , dizia na SIC N é melhor um contrato precário que nada !!! em que ficamos afinal dr. Cabral ?
  • Cidadao
    09 jan, 2018 Lisboa 10:43
    O mote foi sempre competitividade à custa de salários irrisórios e precariedade - vide a gestão à La Nuno Carvalho/Padaria Portuguesa, devidamente acompanhado por António Saraiva para quem o salário minimo de 580€ só podia ser com o "compromisso solene de não mexer na legislação laboral". Mais de 580€ deve custar a roupa que ele traz vestida, mas embora diga o contrário, o que o Patronato quer mesmo é despedimentos sem justa causa nem indemnizações, fim do salário mínimo, horários de trabalho à vontade das Empresas e claro, nada de contratação colectiva. E se a isto tudo for possível juntar isenção de impostos às empresas, e apoios ao escoamento de produtos, leia-se o Estado garantir a compra de tudo o que não vendem... Aí, era o Paraíso!
  • Rogério Silva
    09 jan, 2018 Porto 10:36
    Tenho assistido de há uns anos a esta parte, que as relações laborais estão a degradar-se cada vez mais. muitos dos empregos que existem hoje são de vendas D2D, e normalmente a recibos verdes. Assim as empresas de facto não têm qualquer tipo de problema de empregar, uma vez que o custo de ter um funcionário deixa de existir, tirando o valor pago pelos recibos verdes. esta solução só deveria ser de facto para os profissionais liberais, uma vez que teriam mais de uma entidade para quem trabalham. Uma outra situação que me deixa escandalizado , é quando ouço determinadas pessoas a dizer que o Salário Minimo de 580€ é para muitas empresas insuportável. Ora se um salario tão baixo é insuportável, meus amigos só tenho a concluir que essas mesmas empresas não têm capacidade para estar no mercado, até porque o intuito é vender produtos e serviços a preços muito baixos para fazer face à concorrência. Se não encontram outras formas de valorizar o que vendem, de facto só estão a distorcer o mercado. e já agora e para finalizar, fala-se muito do desemprego Jovem (e bem), mas esquecem quantas pessoas estão desempregadas de longa duração e sem terem qualquer tipo de rendimento, incrivelmente e ao contrário de outros Países ter 50 Anos é ser velho para trabalhar!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Que falta de visão, fala-se muito na Formação dos funcionários e bem, mas a formação dos "Empresários" não existe, o que é uma falta muito grave.
  • Observador
    09 jan, 2018 Lisboa 10:23
    Engraçado o sr Cabral fazer referência a um relatório liderado pelo dr. Carvalho da Silva. Dá jeito.
  • JP
    09 jan, 2018 Olhão 10:17
    Sr Cabral continua a não perceber o que se passa no país. Isto que se está a passar É REALMENTE AQUILO QUE O Sr DESEJA E OS SEUS AMIGOS POLÍTICOS FIZERAM DURANTE 4 ANOS. Escreve o sr Cabral que a propaganda do governo de não sermos um país de baixos salários só atrasa a resolução do problema. Meu caro descodifique a frase eu tenho dificuldade em perceber. Que não goste deste governo está no seu direito agora escrever desta forma! Mas vamos à coisa real. Eu ainda me lembro de pessoas com o seu pensamento incluindo o Coelho dizerem que a economia não crescia porque o OMN ERA ELEVADO e até sugeria a sua redução este governo desde que tomou posse aumentou todos os anos o dito. Ou não é assim sr Cabral. Por aqui me fico com um conselho. Sr Cabral deixe de escrever sobre estes assuntos aonde o sr por cada cavadela saca uma minhoca. Escreva sobre o Irão e a Síria aí sim o sr às vezes acerta.