19 ago, 2017
Trump prometeu acelerar o crescimento económico americano. Por enquanto, passados sete meses desde que é Presidente, ainda não conseguiu atingir esse objectivo.
A economia dos EUA cresceu a cerca de 2% no primeiro semestre deste ano, menos do que crescia quando Obama estava na Casa Branca. Por isso, Trump refere frequentemente a alta na bolsa, que é um facto. Mas na campanha eleitoral ele dizia mal de Wall Street e dos jogos financeiros…
Porque tem subido a bolsa americana? Porque Trump é um homem de negócios, próximo da vida empresarial. E os investidores ainda depositam esperanças no programa de obras públicas (infra-estruturas) que Trump anunciou há meses, mas que tarda a concretizar-se.
Segundo o economista Nouriel Roubini, “perante a ineficácia política da administração Trump, é seguro assumir que, se houver algum estímulo, ele será menor do que o esperado”.
Wall Street recebera com agrado a prometida reforma fiscal, com menos impostos para as empresas e para os ricos, bem como a redução da regulamentação do sector financeiro. Só que tudo isso terá de ser aprovado no Congresso, o que não será fácil.
A política bloqueada
Mas não dispõe o partido republicano de maioria nas duas Câmaras, Senado e Câmara dos Representantes? De facto, detém essas maiorias. Simplesmente, há cada vez mais congressistas republicanos que se distanciam do presidente Trump. Por isso, e contra tudo o que fora prometido, a reforma da saúde de Obama (“Obamacare”) ainda não foi eliminada – nem se sabe se um dia virá a sê-lo.
O que se passou esta semana quanto à manifestação racista de Charlottesville acentuou ainda mais o fosso entre Trump e os republicanos, bem como entre ele e os empresários.
No plano político-partidário, o facto de Trump ter colocado no mesmo plano os racistas adeptos da “supremacia branca”, muitos deles neo-nazis, e os seus críticos (alegadamente violentos na contra manifestação) suscitou significativas tomadas públicas de posição.
Dois ex-presidentes republicanos, Bush pai e Bush filho, afirmaram, em conjunto, que os EUA têm que rejeitar o ódio racial, o anti-semitismo e a intolerância. Jeb Bush (outro filho), que entrara na corrida à Casa Branca nas primárias de 2016, escreveu que “este é um tempo de clareza moral e não de ambivalência”.
O ex-candidato republicano à presidência em 2012, Mitt Romney, condenou a afirmação de Trump de que haveria culpas semelhantes dos dois lados: “não, não é o mesmo. Um lado é racista, intolerante, nazi; o outro opõe-se ao racismo e à intolerância”.
O presidente republicano da Câmara dos Representantes, o assumido conservador Paul Ryan, disse que “não pode haver ambiguidade moral” e condenou o que designou de “fanatismo vil”.
Mitch McConnell, líder da maioria republicana no Senado, defendeu que “as mensagens e ódio e fanatismo” de supremacistas brancos, do Ku Klux Klan e de grupos neonazis, não são bem-vindas em qualquer lugar dos Estados Unidos. “Não podemos ser tolerantes com uma ideologia de ódio racial” – acentuou ele – “Não há neonazis bons e quem apoia as suas posições não é um defensor das liberdades e dos ideais americanos.”
O republicano John McCain foi claro: “Não pode haver equivalência moral entre racistas e americanos que se erguem para combater o ódio e a intolerância”. Um conhecido comentador de direita, Charles Krauthammer, classificou na Fox News a posição de Trump (ou posições…) como “uma desgraça moral”.
O desapontamento empresarial
Curiosamente, importantes gestores empresariais tornaram pública a sua discordância de Trump. Nada menos de oito demitiram-se do conselho empresarial consultivo de Trump (que de seguida o presidente dissolveu). James Murdoch, filho de Rupert Murdoch (grande magnate da comunicação social, dono da Fox News, por exemplo) alertou para que “é necessário enfrentar os nazis”. Significativamente, um ex-líder do Ku Klux Klan, David Duke, louvou a “coragem e a honestidade do Presidente”…
Entretanto, prosseguem os conflitos internos na Casa Branca. Steve Bannon, um nacionalista da direita radical e considerado o grande inspirador ideológico de Trump, deu uma entrevista na qual chamou “palhaços” aos neonazis, criticou a estratégia americana quanto à Coreia do Norte e advogou uma guerra comercial com a China. Trump demitiu-o.
Ora, uma guerra destas seria péssima para a actividade empresarial nos EUA. Como os limites à imigração terão custos para muitas empresas. Mas é sobretudo a ausência de uma linha de actuação coerente e a paralisia política em Washington (apesar da dupla maioria republicana no Congresso) que levam a um crescente cepticismo dos empresários em relação a Trump.
O perigo de o Presidente, com as suas intervenções fanfarronas e contraditórias, desencadear uma guerra nuclear contra a Coreia do Norte também não estimula o investimento empresarial nos EUA.
O semanário “The Economist”, influente nos meios empresariais e financeiros dos EUA, apesar de ser britânico, escrevia na sexta-feira em editorial que os empresários foram inicialmente atraídos pelo facto de Trump ser um homem do seu meio e por se opor ao “politicamente correcto”.
Mas, diz o “Economist”, estas esperanças estão hoje desfeitas. E conclui: “Trump é politicamente inepto, moralmente estéril e temperamentalmente inadequado para o cargo”.