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Fora da Caixa - Direita francesa a votos e Merkel - 23/11/16

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Quarto mandato de Merkel? "Ela vai ter que pedalar por si própria"

23 nov, 2016


Os riscos de um novo mandato da chanceler são analisados pelos comentadores do programa "Fora da Caixa", Pedro Santana Lopes e António Vitorino.

Pedro Santana Lopes considera arriscada a decisão de Angela Merkel que avança para tentar um quarto mandato como chanceler alemã. O antigo primeiro-ministro admite que a governante democrata-cristã ponderou muito bem a sua posição face ao avanço da extrema-direita protagonizada pela AFD - Alternative fur Deutschland.

"Depois de ganhar várias eleições, é um bocado aborrecido se tiver que sair se as perder. Admito que o factor do crescimento da extrema-direita tenha pesado.

O interesse de toda a Europa, da Alemanha, é garantir que há força no espaço da tolerância democrática para ganhar as eleições. Julgo que ninguém melhor do que ela, por isso tiro-lhe o chapéu. Não vai ser nada fácil", antecipa o social-democrata que lembra que pelo meio há um referendo em Itália e eleições presidenciais francesas.

Já António Vitorino fala numa decisão sobretudo pragmática tendo em conta o panorama político interno.

"A senhora Merkel tem um pouco a síndroma do eucalipto, seca tudo á volta. Os bávaros bem tentaram mas perante a pressão da AFD o pragmatismo prevaleceu. Eles compreenderam que a única pessoa que, apesar de tudo, ainda podia garantir um resultado ganhador à coligação CSU-CDU não era de certeza um bávaro retirado agora do chapéu, mas a senhora Merkel", analisa António Vitorino no programa "Fora da Caixa" da Renascença.

Com humor, o socialista sustenta que Merkel "é a única estadista que a Europa hoje conhece. Podemos concordar ou discordar com ela ou , como eu, concordar numas coisas e discordar noutras. Mas há um ponto incontornável: ela é a única estadista que existe hoje em funções na Europa, exceptuando Portugal..."

Como será o quarto mandato de Merkel?

Vitorino antecipa problemas para a formação de uma maioria de centro-direita no parlamento federal alemão.

"Admito que a CDU/CSU não tenha maioria e terá que se coligar com outro partido. E pode não ser suficiente coligar-se só com mais um partido, tendo que coligar-se com mais dois para ter 50% no Bundestag", argumenta António Vitorino que identifica aqui um primeiro desafio para as fileiras democratas-cristãs na Alemanha.

O segundo desafio passa pelas políticas governativas de Merkel. "As grandes reformas que permitiram à Alemanha ter uma performance económica invejável foram feitas no tempo de Gerhard Schroeder, no último governo social-democrata com os Verdes. O que aliás lhes custaram a eleição seguinte", observa Vitorino para de seguida criticar o registo de Merkel como chanceler.

"Nos últimos três mandatos da senhora Merkel, a Alemanha foi um referencial de estabilidade mas não fez nenhuma reforma de fundo que a Alemanha também vai ter que fazer. O que é arriscado neste quarto mandato é que Merkel não vai poder continuar a viver á custa da herança que recebeu. Ela vai ter que "pedalar" por si própria. Uma questão fundamental para a Europa é saber se ela vai dar um sinal de relançamento da procura interna alemã que é fundamental para garantir o equilíbrio da zona euro", remata o antigo comissário europeu.

Fillon contra Le Pen em 2017?

É o homem do momento em França. François Fillon venceu a primeira volta das primárias do centro-direita para as presidenciais, afastando Sarkozy do combate de 2017. Santana Lopes e António Vitorino analisam an Renascença a corrida à direita no país dos gauleses.

O antigo primeiro-ministro francês François Fillon surpreendeu os analistas e os centros de sondagem e avança no próximo fim-de-semana para a segunda volta contra Alain Jupée. Também Santana Lopes e António Vitorino falam num resultado inesperado.

"Pensei de facto que as sondagens estavam certas e que o vencedor seria Alain Jupée. Ele não terá já hipóteses de ganhar a segunda volta. A primeira volta consolida o senhor Fillon", admite António Vitorino no programa "Fora da Caixa". O antigo comissário europeu reconhece que Fillon não é um político carismático, mas mostrou ter mais energia que Alain Jupée, que descreve como "um político muito clássico, bastante arrogante, bastante "francês".

No plano económico, por paradoxal que pareça, Fillon é comparado por Vitorino a Nicolas Sarkozy, na versão de 2008. " Tem uma ideia muito firme de uma política económica bastante mais liberal do que o normal da política francesa à direita", observa o antigo ministro socialista.

Para Pedro Santana Lopes, Fillon não desperta especiais simpatias tal como acontecia com Sarkozy ou Jupée. "Não me diz nada de especial mas pode vir a ser um "caso". E a vida está para as surpresas eleitorais, para ganhar quem não se espera ou vem de fora. O senhor Fillon não vem de fora, foi primeiro-ministro, tem muito tempo na vida política, mas não estava no primeiro lugar do pódio", acrescenta o antigo primeiro-ministro na Renascença.

Cisma na esquerda francesa

O socialista António Vitorino considera que Alain Jupée teria mais facilidade em congregar o voto à esquerda num eventual combate final entre dois candidatos para a Presidência de França. Mas Fillon poderá bem ocupar esse espaço se não houver candidatos de esquerda em liça.

"Admitindo que numa segunda volta, estará a senhora Le Pen e o candidato de centro-direita - provavelmente Fillon - acredito que Fillon vai poder congregar o voto daqueles que querem barrar o caminho a Le Pen", afirma Vitorino. O socialista concorda com Pedro Santana Lopes sobre um eventual ganho eleitoral que decorra de uma recandidatura de Hollande. "A questão da função tem um certo magnetismo. Não subestimemos o significado da candidatura do presidente em funções. Hollande ganhou por uma unha negra em relação [ao então presidente] Sarkozy", assinala o antigo comissário europeu.

Vitorino admite que se François Hollande se recandidatar, o actual primeiro-ministro Manuel Valls não se apresentará eleições. O comentador que milita no PS reconhece que a esquerda está bastante fragmentada do ponto de vista político.

"Há um cisma na esquerda francesa em termos de programa político. Entre os anti-mundialistas de Mélenchon, os Verdes que se distanciaram dos socialistas e toda a extrema-esquerda, cada um terá o seu candidato", anota Vitorino, ciente ainda de mais duas candidaturas "mais ou menos centristas que podem baralhar um pouco o jogo".

O antigo ministro do PS refere-se ao avanço de Emmanuel Macron, antigo ministro da Economia " que corre em pista própria" e François Bayrou " que já disse que se Jupée não for o candidato dos republicanos, admite apresentar uma candidatura centrista".

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