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Menos refrigerantes, mais sal. Alimentação em Portugal é boa ou deixa a desejar?

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Menos refrigerantes, mais sal. Alimentação em Portugal é boa ou deixa a desejar?

03 mar, 2023 • Anabela Góis , Miguel Coelho


Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável antecipa que, em 2030, a má alimentação vai provocar mais mortes do que o tabaco em Portugal. O que diz, afinal, o relatório anual dos especialistas?

Se já está a pensar no jantar, muita atenção: ainda vai a tempo de fazer escolhas mais saudáveis. Esta sexta-feira foi apresentado o relatório anual do Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, que traz boas e más notícias.

Quais são as boas notícias?

Os refrigerantes estão menos doces e estão a ser menos consumidos em Portugal. Ninguém gosta de pagar mais e, no caso do Imposto especial de consumo sobre as bebidas açucaradas os resultados são positivos.

Entre a taxa ser implementada, em 2016, e este ano, passou a haver menos 38% de bebidas no escalão superior do imposto, ou seja, refrigerantes com 8 ou mais gramas de açúcar por cada 100 mililitros (ml). E as vendas também caíram, na ordem dos 17%.

E sal, estamos a consumir menos ou mais?

É aí que começam as más notícias.

A Direção-Geral de Saúde (DGS), em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Universidade de Oxford, passou a recorrer à Inteligência Artificial para recolher informação sobre a composição dos alimentos e as conclusões não são nada positivas.

62% dos produtos analisados têm um teor de sal acima do valor de referência indicado pela OMS, como por exemplo refeições prontas para consumo (+81% com sal a mais), pão e produtos de padaria (+85%), queijos, carnes e peixes processados (+85%).

E atenção aos vegetarianos e veganos, os substitutos da carne também não ficam bem na fotografia ou, no caso, no prato; 95% dos produtos analisados têm excesso de sal.

É melhor comer mais peixe fresco?

O consumo de peixe tem muitos benefícios, mas nem todo o peixe é bom. As espécies com maior teor de mercúrio devem ser evitadas, caso da maruca, tintureira, cação, peixe-espada, cardinal e espadarte.

E o pior é que, segundo o relatório hoje apresentado, as refeições escolares continuam a incluir muitas destas espécies.

Mais de 36% das ementas escolares analisadas no ano passado incluíram peixe com elevado teor do composto de mercúrio, que representa um "risco químico relevante" para a saúde.

Só 11% das ementas analisadas cumpriam a recomendação para o fornecimento de uma vez por semana de peixe gordo, como é o caso do salmão e do atum, adianta o relatório.

Podemos confiar na rotulagem que classifica os alimentos por cores e letras?

Mais ou menos. O que este relatório mostra é que o Nutri Score, essa tal rotulagem, nem sempre é fiável.

Alguns produtos, como barras de cereais, aperitivos, cereais de pequeno-almoço e iogurtes, tinham excesso de açúcar apesar de estarem bem classificados.

A boa notícia é que o Nutri Score foi revisto ao nível da União Europeia (UE) e o novo modelo já testado pela DGS é bastante mais fiável. Aliás, alguns iogurtes analisados em Portugal passaram de A para C e até D.

Quando o novo modelo for generalizado, e este Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável defende que deve ser, vai representar mais uma ferramenta para os consumidores fazerem escolhas mais informadas no que diz respeito à alimentação saudável.

Comer mal está a pôr-nos doentes?

A má alimentação inadequada é uma das principais causas de doenças crónicas, perda de qualidade de vida e mortalidade prematura em Portugal.

Aliás, a malnutrição em todas as suas formas (alimentação inadequada, excesso de peso e obesidade, e desnutrição) pode ultrapassar o tabaco no ranking dos fatores de risco que mais condicionam a carga da doença a nível nacional.

Em 2030, antecipa o relatório, a má alimentação deverá provocar mais mortes do que o tabagismo.

Qual o peso da má alimentação nas contas do Estado?

Para ter uma ideia: 10% da despesa total da saúde, o equivalente a 207 € por pessoa/por ano, é gasta no tratamento de doenças relacionadas com excesso de peso, uma percentagem superior à média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico(OCDE).

E as estimativas indicam que, entre 2020 e 2050, o excesso de peso e as doenças associadas possam diminuir a esperança média de vida em cerca de 2,2 anos.

Comemos assim tão mal?

A resposta é sim! Quase oito em cada 10 portugueses consomem sal em excesso e quatro em cada 10 crianças e adolescentes abusam do açúcar.

Além disso, mais de metade da população portuguesa (56%) não come a quantidade de fruta e legumes aconselhados... e um quarto consome diariamente alimentos ultra processados e alimentos como bolos, doces, bolachas, snacks salgados, pizzas, refrigerantes, néctares e bebidas alcoólicas.

Temos quase dois milhões de adultos obesos e mais de metade da população portuguesa tem excesso de peso.

Que medidas podem inverter esta tendência?

As medidas, segundo a DGS, passam por mudanças na lei e outros mecanismos para limitar ou mesmo impedir a disponibilidade de certos alimentos e ingredientes,em especial em creches e escolas, locais de trabalho outros espaços públicos.

Por outro lado, quanto a incentivar a reformulação dos produtos alimentares, é preciso convencer a indústria alimentar, os supermercados e os próprios restaurantes a apostarem em produtos mais saudáveis.

E pretende-se, ainda, controlar a publicidade a alimentos mais prejudiciais. Em tudo isto a educação é a chave, porque terá de partir de cada um de nós o objetivo de comer melhor.

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