04 mar, 2024 • André Rodrigues
Cerca de 80% dos cidadãos portugueses não confiam nos partidos e mais de 60% desconfiam da Assembleia da República.
São dados do Inquérito Social Europeu que a Pordata recuperou esta segunda-feira, a menos de uma semana das eleições Legislativas portuguesas.
O Explicador Renascença olha para estes dados e esclarece o que influencia esta desconfiança
Desde logo, um sentimento de degradação da Democracia por parte dos cidadãos. E, de acordo com especialistas, essa perceção resulta de algo mais profundo, porque tendemos a confiar mais nas instituições, quanto mais confiarmos uns nos outros.
Esse é um problema em Portugal: a confiança interpessoal é reduzida. O que acaba por refletir-se na perceção do desempenho das entidades públicas.
Sobretudo, nas condições sociais e económicas dos últimos anos. Os problemas em setores como a Educação, a Habitação, o aumento generalizado do custo de vida.
São exemplos que refletem a perceção generalizada de que as pessoas sentem que estão a viver pior. E ainda que, por vezes, isso não seja responsabilidade direta dos políticos, a população tende a responsabilizar os decisores por aquilo que mais as afeta no seu dia a dia.
Estamos acima. Logo, estamos pior. Mais de 60% dos cidadãos em Portugal tendem a não confiar na Assembleia da República. A média europeia é de 56%.
Por outro lado, este relatório da Pordata indica que oito em cada 10 inquiridos em Portugal tendem a não confiar nos partidos políticos. Essa é a tendência em 19 dos 27 países da União Europeia.
Além disso, 83% dos portugueses não confiam na sua capacidade de participação na política, porque entendem que o sistema não permite que os cidadãos influenciem as decisões.
Neste capítulo, estamos alinhados com países como a Letónia ou a República Checa.
Já que estamos na comparação com os parceiros europeus, há um dado curioso: 54% dos inquiridos em Portugal tendem a confiar na União Europeia. A média dos 27 estados-membros é de 47%. Ou seja, desconfiamos dos políticos portugueses, mas tendemos a confiar nas instituições europeias.
Esse é o lado curioso deste estudo. Os portugueses, tal como os italianos, são os europeus que mais tempo passam a ver, ouvir ou ler notícias sobre política. Em média mais de duas horas por dia. E quatro em cada 10 pessoas dizem manifestar muito ou algum interesse sobre o tema.
Só que, e aqui outra contradição aparente, cerca de um terço dos portugueses dizem que nunca falam sobre política com amigos ou familiares. Só 10% dizem que discutem política cmo frequência, muito abaixo dos 25% da média europeia.
Sem surpresa, Noruega, Suíça, Finlândia, Islândia e Países Baixos.
E porquê? Porque são os países onde se considera que os sistemas políticos permitem às pessoas algum grau de influência.
28% mais à esquerda, 19% mais à direita. 31% ao centro.
16% dos inquiridos não souberam responder a esta questão. 6% recusaram fazê-lo.