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Itália

Companheiro de Meloni gera polémica: se não quiserem ser violadas, “não se embebedem”

31 ago, 2023 - 11:45 • Beatriz Pereira

As críticas chovem em Itália, com Andrea Giambruno acusado de culpar as vítimas de violação. O companheiro da primeira-ministra italiana já reagiu, considerando a polémica "surreal".

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O companheiro da primeira-ministra de Itália, Giorgia Meloni, está no centro de uma nova polémica que está a marcar o país, após ter sugerido que as mulheres devem evitar embebedar-se se não querem ser violadas.

A opinião do companheiro de Meloni, o jornalista Andrea Giambruno, foi manifestada durante o programa de televisão "Diario del giorno", na sequência de mediáticos casos recentes de violação coletiva que tiveram lugar perto de Nápoles e em Palermo.

“Se [uma mulher] vai dançar, tem todo o direito de ficar bêbada... mas se evitar ficar bêbada e evitar perder a consciência, talvez também evite meter-se em problemas, porque se não vão encontrar o lobo”, afirmou.

Giambruno subscreveu as afirmações do jornalista Pietro Senaldi, que no mesmo programa referiu que se as mulheres “quiserem evitar serem violadas, acima de tudo não percam a consciência".

Vários especialistas debatiam no programa de televisão os recentes casos de agressões sexuais, um deles envolvendo duas crianças de 13 anos violadas por um grupo de seis adolescentes, e um outro, de uma jovem de 19 anos violada por sete homens, um deles menor de idade, após a terem embebedado.

Em mensagens no WhatsApp, um dos homens que violou a jovem mais velha terá dito: "Se eu pensar muito fico um pouco enjoado, porque éramos 100 cães em cima de um gato, só tinha visto algo assim em vídeos porno, éramos muitos. Sinceramente deixou-me um pouco enojado, mas o que ia eu fazer? Carne é carne" - palavras que chocaram Itália.

Ainda no programa, Andrea Giambruno e Pietro Senaldi condenaram os violadores, que descreveram como “lobos”, mas o comentário não foi suficiente para acalmar as opiniões negativas que rapidamente foram partilhadas nas redes sociais.

Polémica atinge Governo

As palavras do companheiro da primeira-ministra não caíram bem às mulheres dos vários partidos em Itália, que se revoltaram com a culpabilização das vítima de violação.

Chiara Braga, porta-voz do Partido Democrático na câmara baixa do Parlamento, alertou que a primeira-ministra italiana deveria distanciar-se publicamente dos comentários feitos pelo seu companheiro.

"Não aceitamos qualquer ambiguidade. Meloni deveria distanciar-se destas palavras, que sugerem mais uma vez que às vezes a ‘culpa’ também é das mulheres. É inaceitável."

Também o Movimento Cinco Estrelas emitiu um comunicado onde considera "as palavras de Giambruno inaceitáveis e vergonhosas", acusando-o de representar "um cultura retrógrada e dominada pelos homens".

Meloni já tinha condenado os casos recentes de violações coletivas e prometido penas duras para este tipo de crimes, mas as palavras do seu companheiro, às quais continua sem reagir, reacenderam as críticas.

Giambruno cita polémica “surreal”

Após as críticas, Andre Giambruno aproveitou um espaço do seu programa televisivo para responder à polémica, que considera “surreal” e uma “instrumentalização".

“Se eu tivesse dito algo errado, eu pediria desculpas, mas não é o caso”, referiu. "Eu disse que a violação é um ato abominável. Tomei a liberdade de dizer aos jovens para não saírem de propósito para se embebedarem e usarem drogas. Aconselhei-os a terem cuidado porque, infelizmente, os bandidos estão sempre por aí. Eu nunca disse que os homens têm o direito de violar mulheres bêbedas", apontou.

Esta quinta-feira, Giorgia Meloni vai visitar a cidade de Caivano, na província de Nápoles, onde as duas crianças de 13 anos, primas, foram violadas por um grupo de seis adolescentes na semana passada.

A sua decisão de visitar a cidade foi anunciada depois de a mãe de uma das meninas ter revelado, numa carta divulgada pelo seu advogado, que não se sentia segura e que o seu filho tinha sido assaltado desde o ataque.

A cidade tem sido entretanto palco de várias manifestações contra a violência sexual.

Manifestação contra violência sexual em Caivano, Nápoles, depois de casos de violação. Foto: Ciro Fusco/EPA
Manifestação contra violência sexual em Caivano, Nápoles, depois de casos de violação. Foto: Ciro Fusco/EPA
Manifestação contra violência sexual em Caivano, Nápoles, depois de casos de violação. Foto: Ciro Fusco/EPA
Manifestação contra violência sexual em Caivano, Nápoles, depois de casos de violação. Foto: Ciro Fusco/EPA
Manifestação contra violência sexual em Caivano, Nápoles, depois de casos de violação. Foto: Ciro Fusco/EPA
Manifestação contra violência sexual em Caivano, Nápoles, depois de casos de violação. Foto: Ciro Fusco/EPA

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