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Eugénia Costa Quaresma
Opinião de Eugénia Costa Quaresma
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A espiritualidade cristã na mobilidade humana

11 jun, 2024 • Eugénia Costa Quaresma • Opinião de Eugénia Costa Quaresma


Seremos capazes de nos deixar conduzir pelo Espírito da fraternidade que sacia a fome e sede justiça?

"Nothing in life is to be feared, it is only to be understood. Now is the time to understand more, so that we may fear less".

Marie Curie - Nobel da Física (1903) e Química (1911)

Numa tradução livre, "Na vida nada é para ser temido, apenas tem de ser compreendido. Agora é tempo de compreender mais, para que possamos temer menos".

Hein de Haas, um investigador da migração a nível mundial e professor nas Universidades Amesterdão e Maastricht - Países Baixos, esteve recentemente em Lisboa para uma conferência, a convite da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Para nossa reflexão ficou a sua publicação: "Como funciona realmente a migração – um guia factual sobre a questão que mais divide a política".

Resisto à tentação de resumir os 22 mitos apresentados e convido os leitores e leitoras a descobrir a dinâmica e a sua análise entre a perceção, os mitos e os factos, contextualizados no tempo e no espaço. Sem dúvida interpela-nos a fazer uso da liberdade para pensar e decidir com fundamentos sólidos. E certas afirmações desinstalam-nos e fazem-nos levantar outras questões…

A visão científica, proveniente dos estudos académicos, contribui com dados sobre a natureza, causa e impacto das migrações. Pode estar ao serviço da definição das políticas públicas informadas e realistas, pois analisa as experiências do passado e pode nos dizer quais as medidas que funcionam ou não e ainda quais são contra producentes, isto é, têm um efeito contrário à sua intenção inicial.

Muitos dos mitos e factos apresentados são conhecidos pelas pessoas que trabalham nesta área, porque Portugal trilhou este caminho de diálogo com as Academias nacionais e internacionais durante décadas, através do Observatório das Migrações do ACM – Alto Comissariado para as Migrações. A investigação, por si produzida ou promovida, tornou-se pública e acessível.

Sob o lema "conhecer mais para agir melhor", cumpriu a missão de aprofundar o conhecimento sobre a realidade em Portugal e monitoriza-la através da análise dos indicadores a integração de migrantes, produzir entre outros documentos infografias oficiais. Contribuindo para que as políticas públicas neste domínio fossem mais eficazes ou pudessem ser ajustadas com base na realidade.

É sem dúvida uma boa notícia, saber que a medida 38, do plano para Imigração, apresentado recentemente pelo governo reconheça e restitua a importância deste trabalho. Que na prática permite também à EU ter dados sobre o nosso país.

Este livro em que me baseio convida-nos ao exercício de olhar a mobilidade humana tal como foi, é e será inevitável e central para desenvolvimento económico e transformação social. Sendo um processo que beneficia mais umas pessoas do que outras, sabemos que pode ter consequências desfavoráveis para algumas.

Reforça que é possível conceber políticas que funcionem para todos os membros da sociedade sem cometer os erros do passado. Basta haver vontade política, para estabelecer vias legais e seguras, usar o progresso da tecnologia a favor da desburocratização de processos, e conciliando a necessidade de mobilidade com a segurança.

É possível diminuir as situações de vulnerabilidade e aumentar as histórias de emancipação, pela via do trabalho, do estudo, do empreendedorismo, que geram a prosperidade sonhada e promovem o desenvolvimento.

Este livro pretende ainda contribuir para se multipliquem debates sérios e para que que verdadeiramente influenciem políticas sobre a mobilidade humana têm que interligar a migração, desigualdade, mão-de-obra, justiça social. Problemas complexos exigem uma governação integrada, um olhar interligado.

E nesta sociedade complexa e diversa em que existimos, acredito que a espiritualidade cristã tem uma missão a cumprir. Chamados a ser sal e fermento nesta pátria que não é a nossa, cristãs e cristãos têm que conhecer as razões da hostilidade e rezá-las, com o profundo desejo de acolher o Espírito e a letra das bem-aventuranças e do Evangelho.

Seremos capazes de nos deixar conduzir pelo Espírito da fraternidade que sacia a fome e sede justiça? Seremos capazes de amar os inimigos e rezar pelos que nos perseguem?

Seremos capazes de entender a afirmação do Santo João Batista Scalabrini, "para o migrante a Pátria é terra, onde ganha o pão" e será ainda verdade que a nossa pátria não neste mundo?

Eugénia Costa Quaresma, Obra Católica Portuguesa de Migrações

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